— Mudei-me para cá há pouco tempo. Ainda estou a tentar habituar-me à agitação urbana. Em Piódão tudo é muito mais calmo, como deve imaginar. — Contou, dando um gole no seu cappuccino de seguida.
— Sim, já tive o prazer de visitar a aldeia. É muito calma, excelente para umas férias no meio do ar puro. Coisa que, como pode ver, o Porto não tem muito para oferecer.
Ela tinha uma mandíbula bem desenhada. O seu vestido era verde escuro com pequenas flores brancas, não muito decotado. Era simples, o que a tornava ainda mais querida. As suas unhas estavam decoradas com um rosa super clarinho, quase da mesma cor da própria unha. O seu pescoço estava acompanhado pelo colar que há pouco lhe tinha sido devolvido, um dos seus pulsos com uma pulseirinha também de ouro e trazia no dedo indicador um anel, também ele dourado. Tinha uma postura elegante: costas direitas, perna cruzada, sem encostar os cotovelos à mesa. A meiguice na voz e a ternura em tudo aquilo que fazia era aconchegante para quem estava a observá-la (no caso, eu).
— Mas é uma cidade muito bonita e cheia de vida! — Comentou alegremente. — Eu estou a gostar de estar aqui, talvez me mude definitivamente. Quem sabe? — Ela riu, encolhendo os ombros. Aquele simples gesto roubou-me um sorriso. Lúcia era, como já aparentava ser, uma mulher encantadora.
— Então, ainda não completou a mudança. — Concluí mais para mim mesmo do que para ela, ao mesmo tempo que mexia e rodava uma moeda de 2 com um pequeno defeito de fabrico que tinha recebido de troco.
— É... Ainda não encontrei casa — confessou num suspiro e com um sorriso apagado, abanando negativamente a cabeça e limpando a boca ao guardanapo..
O tom de voz dela entregou por completo as suas intenções: ou ela estava à espera que eu a convencesse a ficar no Porto definitivamente, ou estava à espera que eu tivesse, milagrosamente, um sítio para ela ficar.
— É realmente uma pena. — Levantei-me e tirei do bolso um cartão. — Visto que me parece não ter muito por onde pegar, ligue para esse número se precisar de algo — aconselhei, arrastando o cartão pela mesa em direção das suas mãos, sem desviar o meu olhar do dela.
— É o seu número? — Perguntou curiosa ao se aperceber que o cartão simplesmente continha um número, sem quebrar o contacto visual.
— Gostaria que fosse? — Retribuí-lhe com um sorriso, antes de a deixar sozinha naquela mesa a olhar para o cartão.
Saí daquele lugar, agarrei no meu telemóvel e esperei que o Diogo atendesse a minha chamada. Nada. Fiz o mesmo com o Tiago e nada.
— Então tá bem! — Ironizei para mim mesmo, ao entrar no carro.
Ao chegar à porta do apartamento, ouvi a voz da Alice. Ela parecia furiosa. Para salvar o meu amigo, decidi entrar em casa mesmo assim.
— Tu sabias disto?! — A loira veio acelerada até mim, como se estivesse prestes a esganar-me.
— Disto o quê? — Interroguei-a calmamente, tirando-a do sério.
— Da boate, ou do Clube, ou do raio que o parta?! — Respondeu-me com gestos bruscos, totalmente exaltada.
— Somos sócios — entreguei-nos.
— O quê?! — Gritou, virando-se de seguida para o seu noivo. — Diogo!!
— A sério, Duarte? — Diogo perguntou visivelmente chateado.
— O que é que foi? Ela já descobriu, seria mil vezes pior mentir-lhe ainda mais.
— Quem mais está metido nisto? — Interrogou-nos não muito mais calma.
— O Tiago — eu e Diogo respondemos em coro.

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Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...