— Ela vai cantar hoje. — Noélia murmurou. — Espero que ela não se atrapalhe por termos a casa cheia. Coitadinha, gosto tanto dela! É uma menina tão doce!
— É por isso que preciso que me faças um favor, pode ser? — Perguntei-lhe com o mesmo tom de voz. — Toma conta dela. Não deixes que ninguém mal-intencionado se aproxime dela. Desde colegas a clientes. Estou com um péssimo pressentimento. Se tu vires que alguém quer algo dela, avisas-me. Percebido?
— Até um certo patrão? — Deu-me uma cotovelada e eu olhei-a de uma maneira reprovadora. — Estava só a meter-me contigo!
— Eu e ela somos só bons amigos — cruzei os braços e encostei as costas ao balcão.
— Não querido... ― Aproximou-se. ― Eu e tu somos bons amigos — corrigiu-me. — Há algo mais entre ti e a Lúcia.
— Tesão acumulada.
— Amor repreendido — olhámo-nos. — Mas bem... não sou uma espécie de cupido nem nada do género — pôs-se a limpar um copo.
— Vais-me ajudar ou não? — Perguntei-lhe impaciente.
— Já que insistes muito, porque não? — Dei-lhe as chaves para a mão e ela guardou-as no bolso da saia preta.
Vi pelo reflexo do espelho a Lúcia a entrar no estabelecimento. Ela vestia o seu uniforme: uma saia preta, curta e justa, e um top da mesma cor. Fiz questão de passar por ela só para a provocar.
Nesse momento, notei a gigantesca tatuagem que descia pela sua perna esquerda. Era toda preta. Daquele ângulo, não dava para entender o que era, porém, estava ansioso para descobrir.
— Bom dia, menina Matoso — saudei-a com uma certa ironia.
— Bom dia, Sr. Gama — retribuiu cínica, sem me dar muita importância.
Sem olhar para trás, subi as escadas. Parei a meio para admirar aquele corpo. A tatuagem que tinha nas costas parecia ser a continuação da da perna. Olhei para Noélia, que me olhava cheia de razão, e fui para o meu escritório.
Ao entrar, deparei-me com o Diogo a comer descaradamente a Alice na minha mesa. Nada de muito pornográfico, uma vez que ainda estavam vestidos e só a começar. Porém, a loira já se encontrava sentada na mesa, enquanto o maior a beijava. Eles pararam de imediato assim que se aperceberam da minha presença.
— O sexo não é depois do casamento? — Gozei com a situação.
— Ainda agora chegaste, já me vais chatear? — Alice retribuiu ao sair de cima da mesa.
— Tu é que estás a ser comida em cima da minha secretária — meti-me com ela.
— Para que conste, senhor Duarte, não fui eu que comi uma gaja no carro do meu melhor amigo. Agora, dá folga ao meu noivo. Temos assuntos urgentes para tratar!
— Então, mas isto é assim? Desde quando é que uma filha de um padeiro pensa que manda em mim?! — Fingi-me ofendido.
— Tens razão, eu não preciso da tua permissão. Vamos amor! — Arrastou o Diogo para fora do escritório. — Beijinhos Duarte!
Eu ri-me com a situação. Aqueles dois eram realmente feitos um para o outro e eu estava genuinamente feliz pelos meus amigos. Vê-los felizes juntos fazia-me ficar feliz e até querer algo assim para mim.
Estás tão caidinho por ela que até já estás a pensar nessas merdas. Acorda, é a Diana quem te espera ver no altar.
Sentei-me na minha cadeira e comecei a organizar os documentos até à hora de almoço. A essa hora, desci para o andar de baixo do estabelecimento e vi a Noélia a dar as chaves à Lúcia, que a abraçou alegre e fortemente. Saí do estabelecimento com os olhos vidrados nas mensagens da Diana. Fui contra alguém na rua e olhei para a frente para ver de quem se tratava.
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Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...