XI

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— Ela vai cantar hoje. — Noélia murmurou. — Espero que ela não se atrapalhe por termos a casa cheia. Coitadinha, gosto tanto dela! É uma menina tão doce!

— É por isso que preciso que me faças um favor, pode ser? — Perguntei-lhe com o mesmo tom de voz. — Toma conta dela. Não deixes que ninguém mal-intencionado se aproxime dela. Desde colegas a clientes. Estou com um péssimo pressentimento. Se tu vires que alguém quer algo dela, avisas-me. Percebido?

— Até um certo patrão? — Deu-me uma cotovelada e eu olhei-a de uma maneira reprovadora. — Estava só a meter-me contigo!

— Eu e ela somos só bons amigos — cruzei os braços e encostei as costas ao balcão.

— Não querido... ― Aproximou-se. ― Eu e tu somos bons amigos — corrigiu-me. — Há algo mais entre ti e a Lúcia.

— Tesão acumulada.

— Amor repreendido — olhámo-nos. — Mas bem... não sou uma espécie de cupido nem nada do género — pôs-se a limpar um copo.

— Vais-me ajudar ou não? — Perguntei-lhe impaciente.

— Já que insistes muito, porque não? — Dei-lhe as chaves para a mão e ela guardou-as no bolso da saia preta.

Vi pelo reflexo do espelho a Lúcia a entrar no estabelecimento. Ela vestia o seu uniforme: uma saia preta, curta e justa, e um top da mesma cor. Fiz questão de passar por ela só para a provocar.

Nesse momento, notei a gigantesca tatuagem que descia pela sua perna esquerda. Era toda preta. Daquele ângulo, não dava para entender o que era, porém, estava ansioso para descobrir.

— Bom dia, menina Matoso — saudei-a com uma certa ironia.

— Bom dia, Sr. Gama — retribuiu cínica, sem me dar muita importância.

Sem olhar para trás, subi as escadas. Parei a meio para admirar aquele corpo. A tatuagem que tinha nas costas parecia ser a continuação da da perna. Olhei para Noélia, que me olhava cheia de razão, e fui para o meu escritório.

Ao entrar, deparei-me com o Diogo a comer descaradamente a Alice na minha mesa. Nada de muito pornográfico, uma vez que ainda estavam vestidos e só a começar. Porém, a loira já se encontrava sentada na mesa, enquanto o maior a beijava. Eles pararam de imediato assim que se aperceberam da minha presença.

— O sexo não é depois do casamento? — Gozei com a situação.

— Ainda agora chegaste, já me vais chatear? — Alice retribuiu ao sair de cima da mesa.

— Tu é que estás a ser comida em cima da minha secretária — meti-me com ela.

— Para que conste, senhor Duarte, não fui eu que comi uma gaja no carro do meu melhor amigo. Agora, dá folga ao meu noivo. Temos assuntos urgentes para tratar!

— Então, mas isto é assim? Desde quando é que uma filha de um padeiro pensa que manda em mim?! — Fingi-me ofendido.

— Tens razão, eu não preciso da tua permissão. Vamos amor! — Arrastou o Diogo para fora do escritório. — Beijinhos Duarte!

Eu ri-me com a situação. Aqueles dois eram realmente feitos um para o outro e eu estava genuinamente feliz pelos meus amigos. Vê-los felizes juntos fazia-me ficar feliz e até querer algo assim para mim.

Estás tão caidinho por ela que até já estás a pensar nessas merdas. Acorda, é a Diana quem te espera ver no altar.

Sentei-me na minha cadeira e comecei a organizar os documentos até à hora de almoço. A essa hora, desci para o andar de baixo do estabelecimento e vi a Noélia a dar as chaves à Lúcia, que a abraçou alegre e fortemente. Saí do estabelecimento com os olhos vidrados nas mensagens da Diana. Fui contra alguém na rua e olhei para a frente para ver de quem se tratava.

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora