XIX

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— Ela está um tanto agitada — revelou enquanto polia um copo. — Não tenho falado muito com ela, mas quando se toca no teu nome, parece pairar nas nuvens. De uma maneira não tão positiva. — Pôs o pano no ombro e pousou o objeto que limpava no balcão, pegando noutro igual de seguida para o polir também. — Tens definitivamente efeito nela e ela tem definitivamente efeito em ti.

— Só a quero ajudar... — esclareci, não desviando o olhar da ruiva que se encontrava entretida com as outras no palco. — Descobri que ela quer algo de mim. Mais precisamente do Rogério...

— O pai da Diana? A tua noiva? — Perguntou, inclinando-se sobre o balcão. Eu assenti como resposta ainda sem a encarar. — O que quererá dele?

— Não sei. — Sentei-me no banco, ficando de frente para a Noélia que logo me dirigiu o olhar.

— Como não? — Endireitou as costas. — Se sabes que ela quer falar com o Rogério, também deves saber o porquê, não?

— Não. Apenas ouvi o que não devia, mas ainda bem que ouvi — disse. A empregada arregalou ligeiramente os olhos, como se pedisse para eu desenvolver. — Algumas peças começam a encaixar-se, Noélia. E eu sinto que estou bem próximo de comprovar a minha teoria. Por mais que a tente refutar, parece que só encontro factos que a comprovam.

— Não me venhas com essas filosofias, Duarte! Já sabes que o meu raciocínio já não é o que era — riu-se da sua própria desgraça. — Todavia... ela tem andado nervosa e muito assustadiça — saiu de trás do balcão e pôs-se do meu lado. — Espera lá... Tem que ver com aquele homem, não é? — Os olhos arregalaram-se ao se aperceber do que se tratava. Virei-lhe a cara. — Ah, acertei?! Ouviste o que sabes quando foste atrás dela, não foi?

Mandei-lhe uma cotovelada quando reparei que a Lúcia se aproximava. A Noélia resmungou algo, contudo, não lhe dei atenção. Quanto à Lúcia, parecia demasiado cansada para se interessar pela nossa conversa.

— Noélia, podes encher-me um copo com água? — Pediu ao chegar perto de nós.

A Noélia lá se mexeu e foi para trás do balcão novamente.

Eu fiquei ali sentado. A Lúcia não me devolveu o olhar. Estava visivelmente cansada e a fazer um esforço enorme para não me encarar. A sua testa transpirava e a sua respiração estava um pouco ofegante. Levou o copo à boca e bebeu a água.

— Vou passar-me por água e trocar de roupa — pousou o copo e empurrou-o para junto da Noélia. — Já te venho ajudar — anunciou.

— Não preciso, querida. É a vez da Marta.

— Mas hoje... — franziu a testa por estar confusa. — Não é nada! Sou eu.

— Hoje é segunda. É a Marta.

A ruiva encarou a colega durante um tempo enquanto tentava conferir aquela afirmação mentalmente. A Noélia tinha razão, a ruiva não estava cansada só fisicamente.

— Pois é... — abanou a cabeça negativamente — tens razão.

«— Esse é o nome mais piroso que eu já ouvi em toda a minha vida! — Confessei, antes de dar um gole no meu sumo.

— O quê?! Não é nada!

— "Lucas" para rapaz... — parei para ponderar — Aguenta-se. Agora "Luna"?! Tu vais dar um nome de cadela à tua filha? Queres que a miúda sofra bullying?

— És tão parvo, Félix. Sinceramente...»

Regressei à realidade quando a Lúcia levantou-se do banco com alguma dificuldade. Estava pronta para nos abandonar quando lhe disse:

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora