XXXV

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— Isto foi alguma coisa... — comentei ofegante com um sorriso e um olhar satisfeito.

— Uau, dito dessa maneira parece que é a primeira vez que é alguma coisa — picou-me enquanto se deitava em cima de mim.

— Primeiro, tu percebeste muito bem o que quis dizer e segundo, contigo é sempre alguma coisa.

Ela sorriu e beijou-me. Deixei escorregar as minhas mãos pelas suas costas nuas e os meus lábios pelo seu pescoço.

— Duarte... — chamou-me num tom de aviso. Não lhe dei importância. — Está quieto, eu tenho de ir trabalhar! — Disse, não me impedindo de continuar.

— Caga nisso, ninguém dá por nossa falta... — mordi-lhe o queixo antes de a beijar. Ela riu-se com a minha indiferença.

— Ah sim claro. Agora chama-me de insignificante — revirou os olhos. Sentei-me com ela no colo.

— Se isso te fizer ficar aqui mais um pouco, posso te chamar de todo o tipo de nomes e mais alguns.

— O que farias mais para eu ficar?

Parei quieto e encarei-a. O seu sorriso meigo e os seus olhos azuis brilhantes, mesmo num quarto ainda escuro por causa das persianas descidas, hipnotizavam-me sempre. Porventura, também lhe retribuí o sorriso.

— Eu iria embora.

A Vera inclinou a cabeça como se não tivesse percebido muito bem.

— Se isso significasse que tu ficarias, eu iria embora. Deixava-te ir.

Permaneceu com o seu olhar colado ao meu até me beijar.

— Eu detesto-te Duarte Gama — disse.

— Não. Tu amas-me, Verónica Belmonte.

O seu sorriso meigo transformou-se num cínico, quase fazendo troça de mim.

— Tenho fome — anunciou ao levantar-se da cama. Eu voltei a deitar-me e a cobrir a minha cintura com os lençóis. Apreciei-a a arredar as cortinas e a abrir as persianas. A luz da manhã a entrar pelo quarto faziam com que ela parecesse um anjo. — O que queres comer?

— Estás incluída no cardápio?

A ruiva pegou numa almofada pousada na caldeira do seu lado e atirou-ma, contudo, eu apanhei-a antes que me acertasse.

Sentia-me mais próximo da Verónica a cada dia que passava e uma positividade parecia aumentar em mim a cada momento que passava com ela. As nossas férias tinham acabado, mas no tempo que lá estivemos não houve quase momento nenhum em que não estivéssemos juntos.

Durante esse tempo, a Vera também conseguiu aproximar-se das antigas amigas, que logo foram conquistadas pela "Lúcia". Tudo parecia ir ao sítio à medida que o tempo passava. E eu não podia estar mais feliz por isso.

Os Pereira e o meu pai não deram mais sinal de vida. Contudo, a minha mãe ligava-me sempre todos os dias e na minha caixa de mensagens já se acumulavam um monte de textos que fiz questão de ignorar. Ainda não estava pronto para a rever ou falar com ela. A desilusão vem sempre de quem menos se espera, e eu já devia estar bem ciente disso.

A Verónica vestiu a minha camisa branca e foi à gaveta para tirar de lá umas cuecas para vestir. Saiu do quarto descalça e percebi pelo barulho que foi direta à cozinha. Levantei-me também, vesti só as minhas calças de fato de treino cinzentas e segui-a. Bocejei, anunciando a minha chegada. Vi que me olhava pelo canto do olho, mas não fez muita questão da minha presença. Foi até ao armário e pegou numa tigela para pôr o iogurte com os cereais. Eu abri o frigorífico e tirei de lá um pacote de leite, que comecei a beber de imediato. Encostei o meu rabo na banca e fiquei a apreciá-la a misturar o iogurte e os cereais.

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora