— Isto foi alguma coisa... — comentei ofegante com um sorriso e um olhar satisfeito.
— Uau, dito dessa maneira parece que é a primeira vez que é alguma coisa — picou-me enquanto se deitava em cima de mim.
— Primeiro, tu percebeste muito bem o que quis dizer e segundo, contigo é sempre alguma coisa.
Ela sorriu e beijou-me. Deixei escorregar as minhas mãos pelas suas costas nuas e os meus lábios pelo seu pescoço.
— Duarte... — chamou-me num tom de aviso. Não lhe dei importância. — Está quieto, eu tenho de ir trabalhar! — Disse, não me impedindo de continuar.
— Caga nisso, ninguém dá por nossa falta... — mordi-lhe o queixo antes de a beijar. Ela riu-se com a minha indiferença.
— Ah sim claro. Agora chama-me de insignificante — revirou os olhos. Sentei-me com ela no colo.
— Se isso te fizer ficar aqui mais um pouco, posso te chamar de todo o tipo de nomes e mais alguns.
— O que farias mais para eu ficar?
Parei quieto e encarei-a. O seu sorriso meigo e os seus olhos azuis brilhantes, mesmo num quarto ainda escuro por causa das persianas descidas, hipnotizavam-me sempre. Porventura, também lhe retribuí o sorriso.
— Eu iria embora.
A Vera inclinou a cabeça como se não tivesse percebido muito bem.
— Se isso significasse que tu ficarias, eu iria embora. Deixava-te ir.
Permaneceu com o seu olhar colado ao meu até me beijar.
— Eu detesto-te Duarte Gama — disse.
— Não. Tu amas-me, Verónica Belmonte.
O seu sorriso meigo transformou-se num cínico, quase fazendo troça de mim.
— Tenho fome — anunciou ao levantar-se da cama. Eu voltei a deitar-me e a cobrir a minha cintura com os lençóis. Apreciei-a a arredar as cortinas e a abrir as persianas. A luz da manhã a entrar pelo quarto faziam com que ela parecesse um anjo. — O que queres comer?
— Estás incluída no cardápio?
A ruiva pegou numa almofada pousada na caldeira do seu lado e atirou-ma, contudo, eu apanhei-a antes que me acertasse.
Sentia-me mais próximo da Verónica a cada dia que passava e uma positividade parecia aumentar em mim a cada momento que passava com ela. As nossas férias tinham acabado, mas no tempo que lá estivemos não houve quase momento nenhum em que não estivéssemos juntos.
Durante esse tempo, a Vera também conseguiu aproximar-se das antigas amigas, que logo foram conquistadas pela "Lúcia". Tudo parecia ir ao sítio à medida que o tempo passava. E eu não podia estar mais feliz por isso.
Os Pereira e o meu pai não deram mais sinal de vida. Contudo, a minha mãe ligava-me sempre todos os dias e na minha caixa de mensagens já se acumulavam um monte de textos que fiz questão de ignorar. Ainda não estava pronto para a rever ou falar com ela. A desilusão vem sempre de quem menos se espera, e eu já devia estar bem ciente disso.
A Verónica vestiu a minha camisa branca e foi à gaveta para tirar de lá umas cuecas para vestir. Saiu do quarto descalça e percebi pelo barulho que foi direta à cozinha. Levantei-me também, vesti só as minhas calças de fato de treino cinzentas e segui-a. Bocejei, anunciando a minha chegada. Vi que me olhava pelo canto do olho, mas não fez muita questão da minha presença. Foi até ao armário e pegou numa tigela para pôr o iogurte com os cereais. Eu abri o frigorífico e tirei de lá um pacote de leite, que comecei a beber de imediato. Encostei o meu rabo na banca e fiquei a apreciá-la a misturar o iogurte e os cereais.

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Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...