[!] Neste capítulo será tratado de forma explícita um momento de autoagressão. Se achar que será um gatilho, não leia, e se precisar de falar, estou disponível.
— Ela apresentou-se como Lúcia Matoso, vinte e cinco anos. De Coimbra. — Tiago atirou o ficheiro para cima da secretária.
— Lúcia? — Agarrei na ficha dela para a analisar.
— Achas que é ela? — Tiago perguntou-me, ao notar que eu estava a admirar a foto da rapariga.
— Tenho a certeza — respondi-lhe. — Olhei bem para ela, apesar do nosso "encontrão" ter sido curto - olhos azuis, cabelos ruivos, boca pequena - é, é ela — confirmei. — Tem de ser.
— Lá vamos nós outra vez — Diogo comentou escusadamente.
— Não comeces. — Retribuí-lhe, direcionando-lhe o meu olhar. — Ela — voltei a analisar a fotografia. — Há algo nela...
— Coitada da Diana. Nem teve chance e já perdeu contra uma desconhecida — o mais velho comentou.
— O que foi? — Direcionei-me ao Tiago. — Eu só quero testar uma teoria minha. Para além do mais, penso que isto lhe pertence. — Tirei o fio de ouro do bolso das calças.
— Tens a certeza que queres fazer isto, Duarte? — Diogo questionou-me, pousando uma das suas mãos no meu ombro. — Isto não tem que ver com ela, pois não?
— Não — respondi prontamente.
Claro que não. Nunca tem. Não é Duarte?
— Tiago, — ele encarou-me assim que o chamei — liga-lhe e diz-lhe que ficou com a vaga. Faz com que ela venha cá o mais rápido que puder.
— Mas ela nem fez os testes necessários para... — começou a explicar-se, sendo interrompido de imediato por mim.
— Não há azar. Preciso de falar com ela o mais rápido possível para pôr isto para trás das costas.
Ele assim o fez. A resposta que obtivemos foi que ela viria por volta das 16h da tarde para tratar dos papéis. Averiguámos as restantes candidaturas e um tempo depois decidi então sair daquele local.
"Isto não tem que ver com ela, pois não?"
As palavras que o Diogo havia dito mais cedo ecoaram na minha mente, mas foram logo descartadas por algo dentro de mim que nem eu sabia muito bem o que era. Algo parecido com esperança, camuflada por uma antiga euforia que parecia ter reaparecido. Uma conhecida adrenalina corria-me pelas veias, corroía-me por dentro e deixava-me inquieto. Estava a ganhar forma, outra vez.
[!]
Que coisa mais ridícula. Apanhado por uma ruiva, outra vez.
Entrei no meu carro e comecei a dirigir, que sinceramente adorava fazer, de uma forma um tanto imprudente, pelas estradas apertadas do Porto. Parei no semáforo vermelho, tentei com toda a força ignorá-lo.
Patético. Sempre a tentar arranjar o mínimo para pores a culpa no destino quando tu é que gostas de correr sempre atrás dos esqueletos.
Toda a adrenalina e euforia anterior começavam a dar gás ao que não deviam. Respirei fundo para tentar manter a calma o máximo que possível, agarrando o volante como se isso me prendesse à realidade.
Arranquei com o carro quando o sinal ficou verde.
Não consegues esquecê-la e isso é um facto. Vais fazer o mesmo que fizeste às outras todas só para acalmares essa tua obsessão e solidão? Já reparaste o quão doente tu és lá bem no fundo?

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Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...