— O inspetor que trabalhou no caso é chegado à tua família. Creio que é o pai da Diana — abaixou a cabeça. — Ouve, eu sei que é muito para assimilar...
— Por que é que o queres? — Perguntei-lhe sem obter uma resposta para além de um olhar receoso. — Lúcia, entende o seguinte: eu não minto. Logicamente também não gosto que me mintam. Já vi que se trata de algo muito maior do que ter uma conversa com o inspetor. Muito mais, depois do que se passou ontem. Logo, por questões de reciprocidade, gostava que me dissesses um pouco mais do que te trouxe até cá e do porquê de quereres tanto falar com ele.
— Não quero, Duarte. É um assunto bastante delicado para mim. Já para não falar que é perigoso também. Afinal, trata-se de uma enorme rede de tráfico humano, ao qual eu fui vítima e que por pouco não escapei. — Levantou-se e caminhou até à lareira. — Eu ando à procura de uma pessoa que creio ter sido uma vítima também. Preciso achá-la o mais rapidamente que possível antes que seja tarde. E ele é a minha única hipótese.
— Não gosto do rumo de que esta conversa está a tomar — levantei-me também. — Queres que colabore contigo, mas não queres confiar em mim.
— Duarte! — Encarou-me. — Já te disse que não te quero pôr em sarilhos. Já confiei em ti uma vez, agora chegou a altura de me demonstrares que também consegues fazer o mesmo. Sem muitos detalhes, sem muitas perguntas. É melhor assim.
— Desculpa — voltei a sentar-me. — Se não me contares o mínimo, nada feito.
Ela bufou e olhou-me furiosa pela minha persistência. O Samuel tinha razão, que puta de teimosia.
— Entende uma merda, Lúcia:.. — levantei-me e aproximei-me dela já impaciente — ...eu posso fazer muito mais do que aquilo que me pedes se me deres mais informação. Não preciso saber quem é essa pessoa ou o que é que te aconteceu ao longo dos anos. Preciso sim de saber como é que aconteceu e quero saber se aquele cabrãozito a que tu chamas de "meu amor" está envolvido nisto. Porque, pelo jeito que tem vindo a atuar, parece que sim.
— Achas que o...? Achas que ele está metido nisto?! Ele tem me ajudado!
— Eu lá sei, Lúcia! — Exaltei-me. — Ele vem atrás de ti, maltrata-te e tu queres que eu não pense nas várias formas em que ele pode estar envolvido nesse esquema? Tu já olhaste bem para a minha cara esta noite?! — Apontei para a rachadura que tinha no lábio. Ergui a minha camisola para lhe mostrar as várias escoriações que davam cor ao meu corpo. — Já olhaste bem para ti própria sequer?!
— Ele não está envolvido nisto! Não seria capaz disso! Não depois de tudo... — pareceu ponderar durante uns segundos. — Não, — abanou a cabeça para afastar aquela hipótese descabida para ela — é impossível. Temos o mesmo objetivo.
Se o objetivo de ambos for andar a espancar gente à 1h da manhã...
— E ele agiu daquela maneira porque estava preocupado comigo... E bêbedo. — Explicou-se. Soltei uma gargalhada.
— Ah, é claro. Claro que estava — dei meia volta para me afastar dela. — Eles estão sempre preocupados convosco, não é? Até mesmo quando vos espancam, ou quando espancam os outros que vos estão a tentar ajudar! Não é? É claro! Eu é que fui mal-ensinado, estou a ver. Pois. Só pode ser! Tenho de lhe pedir para me dar umas lições de cavalheirismo e gentileza... — ironizei como consequência da minha incredulidade que estava a sentir perante a resposta dela.
— Duarte, já te expliquei que a nossa relação é um tanto complicada. Mas ele não é má pessoa e nunca foi fisicamente agressivo para mim.
— Aquilo para ti não é agressividade?! Foda-se, Lúcia, isso é preocupante!
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Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...