Tu sabes o porquê de eu te querer. Aos olhos de quem nos é alheio, não passa de uma atração, mas ambos sabemos que vai muito além de tudo isso. Estamos a jogar com e contra o outro, mesmo sabendo que no final tudo se vai reduzir a nós na mesma cama. E porque o estamos a fazer? Por cortesia? Por medo de perdemo-nos no meio de tudo isto? Para ter a certeza de quem somos e se valemos a pena? Talvez. Talvez seja isso mesmo.
Já fui D. Pedro e já tive a minha Inês de Castro. Talvez procure uma segunda oportunidade, procurando a mesma alma numa pessoa diferente. Apesar disso, continuaste aqui, até quando eu pensei que já tinhas ido. Porventura, temos de pôr o orgulho de lado e admitir que nunca fomos adeptos de espaço. Por mais que um se vá, o outro fá-lo voltar. Somos instáveis, mas isso sempre esteve fixo na nossa relação, assim como a vontade de ficar e o medo de o fazer.
Foste a primeira e a única que me pôs com dúvidas sobre aquilo que me rodeia. Continuo com os pés bem assentes na terra e sei por onde vou e para onde te levar comigo. Foi o que me disseste para fazer em tempos, lembras-te? Levar-te comigo, nem que seja só na memória. Tu ias ficar e tu ficaste. Mesmo quando foste embora, voltaste por algum motivo. Colidimos outra vez (e de que maneira). Por mais que não acredites em mim, o teu destino não te faria voltar se não fosses ficar comigo, não achas? Espaço nunca será a solução, depois dos vários quilómetros que nos separaram durante tanto tempo. Espaço é uma força visivelmente inferior comparada àquilo que nos prende.
Estou muito próximo da verdade e tu sabes disso. Sei qual é o pote de ouro que me espera no final do arco-íris e esse pote és tu. Ainda tenho muitos peões no meio do tabuleiro para derrubar antes de chegar à rainha (e comê-la). Contudo, estou disposto a isso tudo, porque, de facto, intrigas-me. Quero desvendar-te como há muito não pude. És um autêntico quebra-cabeças, e o meu orgulho não dorme à noite sossegado pela fome que tem em solucionar-te. Encaixar cada peça no devido lugar. (O tipo de peças que quiseres, sou todo teu neste momento.) Tens-me na mão e eu tenho-te presa a mim. Não te posso deixar ir de novo. É muito tarde para isso. Estou completamente viciado na tua pessoa. Fazes com que perca os meus próprios limites. Se soubesses disso, saber-te-ia bem, não era? Conseguiste o que tanto queiras. Ganhaste. Ganhaste-me. Num jogo justo, mas pouco honesto da tua parte. Caí na minha própria armadilha e provei do meu próprio veneno. Errei ao fazê-lo, mas ainda bem que o fiz, porque, para te encontrar, fá-lo-ia de novo.
Penso que seja egoísmo da minha parte. Não me tens saído da cabeça, entras nela sem permissão e desarrumas tudo aquilo que eu pensava estar no sítio certo. Mas, apesar de estares cá dentro agora (como sempre estiveste), sinto que estás cada vez mais perto. Não o quero, mas necessito-o. E é aqui que entra o egoísmo. Não te quero por perto, pois já fizeste o teu estrago, estrago que aumenta de tamanho sempre que cá estás. Porém, necessito-te novamente para arrumares o que antes ficou desarrumado: a minha paz de espírito, o meu perdão. Sem espaço, pois quem pede espaço tem medo de se aproximar, e eu não tenho.
Sei que vais trazer a trovoada contigo, mas o Sol sem chuva nunca conseguirá pintar o céu com o arco-íris. Quero ouvir-te, quero dizer-te. Quero que me digas, quero que me ouças. Para assim, e só assim, deixar-te ir. Deixar-me ir. Deixar-nos ir. Pela última vez.
![](https://img.wattpad.com/cover/278312639-288-k210535.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Desejo: Fazer-te ficar
Romansa[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...