4º Princípio

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Tu sabes o porquê de eu te querer. Aos olhos de quem nos é alheio, não passa de uma atração, mas ambos sabemos que vai muito além de tudo isso. Estamos a jogar com e contra o outro, mesmo sabendo que no final tudo se vai reduzir a nós na mesma cama. E porque o estamos a fazer? Por cortesia? Por medo de perdemo-nos no meio de tudo isto? Para ter a certeza de quem somos e se valemos a pena? Talvez. Talvez seja isso mesmo. 

Já fui D. Pedro e já tive a minha Inês de Castro. Talvez procure uma segunda oportunidade, procurando a mesma alma numa pessoa diferente. Apesar disso, continuaste aqui, até quando eu pensei que já tinhas ido. Porventura, temos de pôr o orgulho de lado e admitir que nunca fomos adeptos de espaço. Por mais que um se vá, o outro fá-lo voltar. Somos instáveis, mas isso sempre esteve fixo na nossa relação, assim como a vontade de ficar e o medo de o fazer. 

Foste a primeira e a única que me pôs com dúvidas sobre aquilo que me rodeia. Continuo com os pés bem assentes na terra e sei por onde vou e para onde te levar comigo. Foi o que me disseste para fazer em tempos, lembras-te? Levar-te comigo, nem que seja só na memória. Tu ias ficar e tu ficaste. Mesmo quando foste embora, voltaste por algum motivo. Colidimos outra vez (e de que maneira). Por mais que não acredites em mim, o teu destino não te faria voltar se não fosses ficar comigo, não achas? Espaço nunca será a solução, depois dos vários quilómetros que nos separaram durante tanto tempo. Espaço é uma força visivelmente inferior comparada àquilo que nos prende. 

Estou muito próximo da verdade e tu sabes disso. Sei qual é o pote de ouro que me espera no final do arco-íris e esse pote és tu. Ainda tenho muitos peões no meio do tabuleiro para derrubar antes de chegar à rainha (e comê-la). Contudo, estou disposto a isso tudo, porque, de facto, intrigas-me. Quero desvendar-te como há muito não pude. És um autêntico quebra-cabeças, e o meu orgulho não dorme à noite sossegado pela fome que tem em solucionar-te. Encaixar cada peça no devido lugar. (O tipo de peças que quiseres, sou todo teu neste momento.) Tens-me na mão e eu tenho-te presa a mim. Não te posso deixar ir de novo. É muito tarde para isso. Estou completamente viciado na tua pessoa. Fazes com que perca os meus próprios limites. Se soubesses disso, saber-te-ia bem, não era? Conseguiste o que tanto queiras. Ganhaste. Ganhaste-me. Num jogo justo, mas pouco honesto da tua parte. Caí na minha própria armadilha e provei do meu próprio veneno. Errei ao fazê-lo, mas ainda bem que o fiz, porque, para te encontrar, fá-lo-ia de novo.

Penso que seja egoísmo da minha parte. Não me tens saído da cabeça, entras nela sem permissão e desarrumas tudo aquilo que eu pensava estar no sítio certo. Mas, apesar de estares cá dentro agora (como sempre estiveste), sinto que estás cada vez mais perto. Não o quero, mas necessito-o. E é aqui que entra o egoísmo. Não te quero por perto, pois já fizeste o teu estrago, estrago que aumenta de tamanho sempre que cá estás. Porém, necessito-te novamente para arrumares o que antes ficou desarrumado: a minha paz de espírito, o meu perdão. Sem espaço, pois quem pede espaço tem medo de se aproximar, e eu não tenho. 

Sei que vais trazer a trovoada contigo, mas o Sol sem chuva nunca conseguirá pintar o céu com o arco-íris. Quero ouvir-te, quero dizer-te. Quero que me digas, quero que me ouças. Para assim, e só assim, deixar-te ir. Deixar-me ir. Deixar-nos ir. Pela última vez. 

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora