IX

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Ela calçou os seus saltos altos pretos e pegou na pequena mala. Saímos.

Fiz questão de pôr uma das minhas mãos atrás das suas costas, o que alertou várias pessoas que se encontravam na recepção do hotel. Ouviam-se comentários curiosos.

— Porque é que está toda a gente a olhar para nós deste jeito? — Sussurrou.

— Uma mulher como tu já deve estar habituada a atrair olhares.

— Mas estes olhares vêm acompanhados de sussurros... e acho que são para ti, Duarte.

Vários paparazzi ficavam na receção do hotel, por este ser um grande ponto de encontro de gente influente (políticos, músicos, empresários, atores e atrizes, entre outros). Uma vez famoso, de nós os dois eu era o centro das atenções. (Para não falar que a minha família era dona daquilo tudo.) Porém, tinha acabado de arrastar a Lúcia para o meio do furacão e isso não tinha passado despercebido pela ruiva. Ela sabia que se estava a passar algo, mas parecia não saber muito bem o porquê.

E isso deu-me uma ideia.

— Achas? Não tinha reparado — respondi-lhe ironicamente, ela não gostou. — Vamos pegar fogo ao circo. Vais segurar-me a mão, sim?

— Por que haveria de fazer isso? — Interrogou.

— Ora, Lúcia, escusas de esconder... — aproximei a minha boca da sua orelha. — Estás mortinha para os provocar — sussurrei.

Eu dei-lhe um beijinho no topo da cabeça e pousei o meu braço ao redor do seu pescoço, surpreendendo-a. Ela de seguida deu-me a sua mão e aproximou-nos com o outro braço atrás das minhas costas. Caminhámos assim até à saída.

Se antes estávamos a ser observados, agora estávamos a ser completamente comidos com os olhos pelos fotógrafos à paisana das revistas cor de rosa.

Ao sairmos do hotel, continuamos agarrados daquele jeito até chegarmos ao carro. Abri-lhe a porta, deixei-a entrar e fechei-a de novo, indo depois para o lugar do condutor.

Havia mais um na entrada. Estava a observar-nos.

— Olha para mim e finge que estou a dizer algo engraçado.

Ela fez o que lhe pedi, levando-se pela brincadeira.

— Agora finge que vais buscar alguma coisa ao banco de trás. Sem saíres do carro — olhei-a com um sorriso matreiro.

— O que vais fazer, Duarte? — Perguntou desconfiada sem desmanchar o sorriso.

A ruiva virou o seu corpo para os bancos de trás e inclinou-se, deixando o seu rabo bem perto da minha cara. Eu bati-lhe e mordi-lhe
a coxa com força.

— Au! Que merda...? — Quando ela se sentou no seu lugar completamente surpresa com o meu ato, dei-lhe duas palmadas na sua coxa esquerda. — Olha lá, importas-te?! — Perguntou fingindo estar chateada. — Estás a abusar de mim?

— Claramente — encarei-a. — Dá-me um beijo.

— Não! — Virou a cabeça para a janela e cruzou os braços. Não me obedeceu.

— Anda lá, — apertei-lhe a coxa e cheguei a minha cara para perto da dela — dá-me um beijo.

Voltou a encarar-me, ficando assim com a sua boca próxima da minha. Quando pensava que me ia obedecer, agarrou-me no queixo e deu-me um beijo na bochecha.

Deixei escapar uma pequena risada com a situação e voltei a recompor-me no meu lugar. A missão estava cumprida.

Conduzi até ao meu apartamento. Ao abrir a porta, já tinha uma cadela eufórica por me ver. Começou a ladrar por querer conhecer aquela mulher até então estranha para ela.

— Apresento-te a Boneca e o meu apartamento — convidei-a para entrar.

— Que amorzinho, estás boa? — Meteu-se com a cadela, que se deitou logo para receber festinhas na barriga. — Tu não vives sozinho, pois não? — Perguntou-me desta vez, caminhando pelo espaço.

— Tens um bom olhar — disse enquanto tirava o meu casaco.

— Foi mais o meu instinto... mas obrigada — agradeceu, olhando em redor.

— Põe-te à vontade, senta-te no sofá ou fica a brincar com ela — autorizei enquanto desabotoava a minha camisa, atraindo os olhares da ruiva não muito discretos. — Eu vou trocar de roupa — segui caminho até ao meu quarto.

Olhei rapidamente para o telemóvel. Nele estavam notificadas umas quantas chamadas não atendidas da Diana e dos meus pais. Ignorei-as completamente. Vesti umas calças de ganga grandes e largas e uma t-shirt simples branca. Calcei umas sapatilhas e voltei a pegar na minha carteira e no meu telemóvel para os pôr nos bolsos das calças. Saí do quarto e apanhei a Lúcia a ver as minhas fotos com o Diogo e com o resto das pessoas que nos eram próximas.

— Eu conheço-os — comentou apontando para uma foto.

— É natural, uma vez que também são donos do Empire. Meus sócios, o Diogo e o Tiago. E mais do que isso, melhores amigos — expliquei-lhe, aproveitando a oportunidade para me sentar em cima da secretária.

A ruiva continuou a analisar as fotos e eu continuei a observá-la. Estava tudo bem, até ela paralisar ao ver uma foto que eu não sabia ao certo qual era ainda.

— O que foi? — Perguntei-lhe sem sair do sítio.

— A foto... é uma bela foto...

Levantei-me para ver do que ela estava a falar. Assim que me apercebi de que foto se tratava, mudei de assunto.

'Era' uma bela foto.

— Então... vamos? — Incentivei-a a esquecer o que tinha visto.

— Sim...

Nós pegámos nas coisas e saímos juntamente com a Boneca. Não muito longe do apartamento ficava um parque, onde decidimos parar para brincarmos com a cadela.

A Boneca parecia que estava nas nuvens quando brincava com a Lúcia. Parecia que já se conheciam há anos, apesar de terem-se conhecido há minutos.

— Boa menina! — Elogiei o animal, quando o mesmo me trouxe de volta o pau que tinha atirado para longe.

Estávamos os dois sentados na relva a conversar e a brincar com a cadela. Olhei para Lúcia para tentar descobrir o que a mantinha calada e distraída a olhar para o seu lado direito. Dei-lhe uma cotovelada.

— O quê? Disseste alguma coisa? O que se passa? — Interrogou toda atrapalhada.

— Isso pergunto eu. O que foi? — Confessei as minhas dúvidas, enquanto dava festinhas ao animal.

— Sinto-me observada... Aquele gajo ali parece-me muito... — fez uma pausa em busca do termo correto — ...suspeito...?

Olhei para a mesma direção que ela estava a olhar. Bem mais longe de nós, sentado num banco, estava um homem com uma câmara na mão. Com certeza que era para nos fotografar. Já reconhecia aquela gente de longe.

— Eu acho que tens razão. Oh bem... — eu deitei-me na relva, pondo as mãos por debaixo da cabeça e fechando os olhos. — Que se foda — encolhi os ombros.

— "Que se foda"? O tipo está a tirar-nos fotos e tu dizes "que se foda"?! E o que se passou no hotel?! — Irritou-se comigo. — Duarte, estás a esconder-me alguma coisa?

— Lúcia, acalma-te...

Ao abrir os olhos, deparei-me com uma coisa que nunca tinha reparado antes, o que me fez calar de imediato. Olhei para as costas da ruiva, que só se encontravam protegidas pela camisola que vestia.

Ela tinha uma tatuagem, mas não uma pequena e discreta. Esta parecia ser bem grande, ocupando quase as costas todas da jovem.

— Não sabia que tinhas uma tatuagem.

— Oh... isto? — Ela tirou o seu cabelo das costas para eu poder ver mais um pouco. — É só um rabisco — encolheu os ombros e deitou-se na relva, sem desviar o olhar do meu.

— Lúcia, estás a esconder-me alguma coisa?

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora