Ela calçou os seus saltos altos pretos e pegou na pequena mala. Saímos.
Fiz questão de pôr uma das minhas mãos atrás das suas costas, o que alertou várias pessoas que se encontravam na recepção do hotel. Ouviam-se comentários curiosos.
— Porque é que está toda a gente a olhar para nós deste jeito? — Sussurrou.
— Uma mulher como tu já deve estar habituada a atrair olhares.
— Mas estes olhares vêm acompanhados de sussurros... e acho que são para ti, Duarte.
Vários paparazzi ficavam na receção do hotel, por este ser um grande ponto de encontro de gente influente (políticos, músicos, empresários, atores e atrizes, entre outros). Uma vez famoso, de nós os dois eu era o centro das atenções. (Para não falar que a minha família era dona daquilo tudo.) Porém, tinha acabado de arrastar a Lúcia para o meio do furacão e isso não tinha passado despercebido pela ruiva. Ela sabia que se estava a passar algo, mas parecia não saber muito bem o porquê.
E isso deu-me uma ideia.
— Achas? Não tinha reparado — respondi-lhe ironicamente, ela não gostou. — Vamos pegar fogo ao circo. Vais segurar-me a mão, sim?
— Por que haveria de fazer isso? — Interrogou.
— Ora, Lúcia, escusas de esconder... — aproximei a minha boca da sua orelha. — Estás mortinha para os provocar — sussurrei.
Eu dei-lhe um beijinho no topo da cabeça e pousei o meu braço ao redor do seu pescoço, surpreendendo-a. Ela de seguida deu-me a sua mão e aproximou-nos com o outro braço atrás das minhas costas. Caminhámos assim até à saída.
Se antes estávamos a ser observados, agora estávamos a ser completamente comidos com os olhos pelos fotógrafos à paisana das revistas cor de rosa.
Ao sairmos do hotel, continuamos agarrados daquele jeito até chegarmos ao carro. Abri-lhe a porta, deixei-a entrar e fechei-a de novo, indo depois para o lugar do condutor.
Havia mais um na entrada. Estava a observar-nos.
— Olha para mim e finge que estou a dizer algo engraçado.
Ela fez o que lhe pedi, levando-se pela brincadeira.
— Agora finge que vais buscar alguma coisa ao banco de trás. Sem saíres do carro — olhei-a com um sorriso matreiro.
— O que vais fazer, Duarte? — Perguntou desconfiada sem desmanchar o sorriso.
A ruiva virou o seu corpo para os bancos de trás e inclinou-se, deixando o seu rabo bem perto da minha cara. Eu bati-lhe e mordi-lhe
a coxa com força.— Au! Que merda...? — Quando ela se sentou no seu lugar completamente surpresa com o meu ato, dei-lhe duas palmadas na sua coxa esquerda. — Olha lá, importas-te?! — Perguntou fingindo estar chateada. — Estás a abusar de mim?
— Claramente — encarei-a. — Dá-me um beijo.
— Não! — Virou a cabeça para a janela e cruzou os braços. Não me obedeceu.
— Anda lá, — apertei-lhe a coxa e cheguei a minha cara para perto da dela — dá-me um beijo.
Voltou a encarar-me, ficando assim com a sua boca próxima da minha. Quando pensava que me ia obedecer, agarrou-me no queixo e deu-me um beijo na bochecha.
Deixei escapar uma pequena risada com a situação e voltei a recompor-me no meu lugar. A missão estava cumprida.
Conduzi até ao meu apartamento. Ao abrir a porta, já tinha uma cadela eufórica por me ver. Começou a ladrar por querer conhecer aquela mulher até então estranha para ela.
— Apresento-te a Boneca e o meu apartamento — convidei-a para entrar.
— Que amorzinho, estás boa? — Meteu-se com a cadela, que se deitou logo para receber festinhas na barriga. — Tu não vives sozinho, pois não? — Perguntou-me desta vez, caminhando pelo espaço.
— Tens um bom olhar — disse enquanto tirava o meu casaco.
— Foi mais o meu instinto... mas obrigada — agradeceu, olhando em redor.
— Põe-te à vontade, senta-te no sofá ou fica a brincar com ela — autorizei enquanto desabotoava a minha camisa, atraindo os olhares da ruiva não muito discretos. — Eu vou trocar de roupa — segui caminho até ao meu quarto.
Olhei rapidamente para o telemóvel. Nele estavam notificadas umas quantas chamadas não atendidas da Diana e dos meus pais. Ignorei-as completamente. Vesti umas calças de ganga grandes e largas e uma t-shirt simples branca. Calcei umas sapatilhas e voltei a pegar na minha carteira e no meu telemóvel para os pôr nos bolsos das calças. Saí do quarto e apanhei a Lúcia a ver as minhas fotos com o Diogo e com o resto das pessoas que nos eram próximas.
— Eu conheço-os — comentou apontando para uma foto.
— É natural, uma vez que também são donos do Empire. Meus sócios, o Diogo e o Tiago. E mais do que isso, melhores amigos — expliquei-lhe, aproveitando a oportunidade para me sentar em cima da secretária.
A ruiva continuou a analisar as fotos e eu continuei a observá-la. Estava tudo bem, até ela paralisar ao ver uma foto que eu não sabia ao certo qual era ainda.
— O que foi? — Perguntei-lhe sem sair do sítio.
— A foto... é uma bela foto...
Levantei-me para ver do que ela estava a falar. Assim que me apercebi de que foto se tratava, mudei de assunto.
'Era' uma bela foto.
— Então... vamos? — Incentivei-a a esquecer o que tinha visto.
— Sim...
Nós pegámos nas coisas e saímos juntamente com a Boneca. Não muito longe do apartamento ficava um parque, onde decidimos parar para brincarmos com a cadela.
A Boneca parecia que estava nas nuvens quando brincava com a Lúcia. Parecia que já se conheciam há anos, apesar de terem-se conhecido há minutos.
— Boa menina! — Elogiei o animal, quando o mesmo me trouxe de volta o pau que tinha atirado para longe.
Estávamos os dois sentados na relva a conversar e a brincar com a cadela. Olhei para Lúcia para tentar descobrir o que a mantinha calada e distraída a olhar para o seu lado direito. Dei-lhe uma cotovelada.
— O quê? Disseste alguma coisa? O que se passa? — Interrogou toda atrapalhada.
— Isso pergunto eu. O que foi? — Confessei as minhas dúvidas, enquanto dava festinhas ao animal.
— Sinto-me observada... Aquele gajo ali parece-me muito... — fez uma pausa em busca do termo correto — ...suspeito...?
Olhei para a mesma direção que ela estava a olhar. Bem mais longe de nós, sentado num banco, estava um homem com uma câmara na mão. Com certeza que era para nos fotografar. Já reconhecia aquela gente de longe.
— Eu acho que tens razão. Oh bem... — eu deitei-me na relva, pondo as mãos por debaixo da cabeça e fechando os olhos. — Que se foda — encolhi os ombros.
— "Que se foda"? O tipo está a tirar-nos fotos e tu dizes "que se foda"?! E o que se passou no hotel?! — Irritou-se comigo. — Duarte, estás a esconder-me alguma coisa?
— Lúcia, acalma-te...
Ao abrir os olhos, deparei-me com uma coisa que nunca tinha reparado antes, o que me fez calar de imediato. Olhei para as costas da ruiva, que só se encontravam protegidas pela camisola que vestia.
Ela tinha uma tatuagem, mas não uma pequena e discreta. Esta parecia ser bem grande, ocupando quase as costas todas da jovem.
— Não sabia que tinhas uma tatuagem.
— Oh... isto? — Ela tirou o seu cabelo das costas para eu poder ver mais um pouco. — É só um rabisco — encolheu os ombros e deitou-se na relva, sem desviar o olhar do meu.
— Lúcia, estás a esconder-me alguma coisa?
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Desejo: Fazer-te ficar
Romansa[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...