-III

34 9 68
                                    

— Olá, Belmonte — ele cumprimentou-me, aproximando-se.

— Adeus, Belmonte — ela despediu-se, afastando-se.

Eram 18h30 e eu tinha acabado de sair de uma aula. A rotina tinha-se instalado há uns dias e a rotina ditava que, depois das aulas, deveria encontrar-me com a Alice na máquina de comida, ao pé do jardim. Mas claro, a Alice tinha outros planos. A Alice era espontânea, eu era tola, e ele era o rapaz contra quem me esbarrei no primeiro dia.

— Está tudo bem?

A sua doce voz invadiu a minha mente, interrompendo a praga que estava a lançar à minha nova amiga.

— Sim, sim! Está tudo bem! — Respondi atrapalhada.

Merda, odiava sentir as minhas bochechas queimarem daquela forma.

Uns momentos passaram e um silêncio constrangedor preparava-se para se instalar entre nós, quando ele tomou a iniciativa.

— Apesar de eu te achar uma miúda bastante... — olhou-me de cima a baixo à procura de um adjetivo que me descrevesse — atraente, tenho ideias melhores do que ficarmos aqui parados a olhar um para o outro.

— Tenho que concordar, decerto que há algo melhor do que olhar para ti o resto da tarde... — disse, vendo-o arquear uma sobrancelha e apercebendo-me da merda que tinha acabado de dizer. — Não que sejas feio! O que não és, de todo!... — Analisei-o ao mesmo tempo que me voava pelo céu que eram os seus olhos azuis. — És lindo, muito bom — espera, o que acabei de dizer? — Quer dizer!! Não desse jeito, claro! Eu não sou nenhuma tarada! — Abanei as mãos em forma de negação enquanto ria de nervoso. — Ai, madre mía... — murmurei para mim mesma, completamente derrotada.

Ele piscou os olhos duas vezes, como se duvidasse do que eu tinha realmente acabado de dizer e, assim que teve a certeza, riu-se. Acabei também por me rir da situação.

— Algo de especial, sem dúvida — murmurou ele desta vez.

Os seus olhos pareciam brilhar sempre que admiravam os meus.

— O quê?

— Já reparei que entre aulas e idas e vindas andas sempre a correr. Calculo que não tenhas muito tempo a perder.

E não tinha. Às 19h15min tinha de estar em casa. Só me restava fazer tempo para a minha irmã acabar os seus afazeres na escola e irmos para casa.

— E já faz algum tempo que te quero conhecer, — continuou — portanto... — deu uns passos em direção da saída e retornou a encarar-me — vamos?

— E onde tencionas levar-me? — Deixei-me estar no mesmo lugar à espera que a sua resposta me convencesse.

— Hm... — olhou para o céu. — Talvez ao Paraíso e um pouco mais além — voltou a direcionar-me o olhar e abriu um sorriso. — Não que eu seja um tarado.

"Parvo", pensei, "mas fofo".

Ele estendeu a mão para eu a alcançar. Quando lhe dei a minha, ele puxou-me e pousou o seu braço ao redor do meu pescoço, aproximando-nos. Fomos caminhando até sairmos do jardim.

— Espera lá! — Soltei-me do seu abraço. — Eu nem sequer sei o teu nome!

— O meu nome? — Apontou para si próprio. Eu assenti. — Bem... podes chamar-me Félix. E tu és a...

— Vera — interrompi-o. — Podes chamar-me Vera — continuei o caminho que estávamos a fazer, ultrapassando-o. — Mas creio que a minha amiga Alice já te tenha dito essa parte.

— Não toda — ouvi os seus passos acelerados atrás de mim. — E para que conste... — apareceu-me à frente, impedindo-me de prosseguir — fui eu que pedi à Alice para poder ficar contigo.

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora