Depois de tudo, continuo a definir-te e a descrever-te. Descrevo-te tanto, que não sei muito bem o que és e o que isto é. O que nós somos... existe aqui um "ser" sequer? Isso provoca-te? Incomoda-te? Perdes-te à noite por não me descreveres? Descreves-me demasiado ou só um pouquinho? Se eu partisse agora, lembrar-te-ias de tudo aquilo que eu era? De uma maneira esquisita, um pouco eufórica ou nada convencional (daquilo que nos é comum)? Terias essa coragem? Precisas de respostas como eu? Ainda poderei ser eu, mesmo depois de tudo? Perdoar-me-ias? Perdoar-te-ias por isso? Querer-me-ás da mesma maneira? Serás a mesma pessoa mesmo depois de descobrires que te falhei?
Não consigo evitar o sentimento de fracasso. Não cumpri com a minha promessa e por isso sou mentiroso, pois uma vez disse-te que sempre as cumpria. Eu irei pagar por isso. O que é nosso pode tardar, mas vem. Como tu. Tu és a prova de tudo isso e de todas as minhas crenças. Baseei-me em ti e quebrei-me por ti. Até mesmo aquela promessa. Um dia irás perceber e irás reconhecê-lo (mesmo que isso te custe). Por favor, não o negues. Não cometas o mesmo erro que eu. Não te diminuas, não te compares. Faz-te valer, assim como eu quero acreditar que te fiz valer. Que fiz valer o teu sorriso e o tempo, porque merecias isso.
Eras o meu maior medo e a minha maior vontade. A estrela que me guia, a polaroide que eu nunca descartei. A impossibilidade, o meu perdão (a sua parte mais bonita – o reconhecimento, aquele que te devo). O labirinto e as suas armadilhas. A esperança, o caminho e, por fim, a saída. Fim que és tu e que torna em algo o nada em que eu me tornei, por não te conseguir encontrar. O encontro, o nosso reencontro, e a despedida, que eu temo não querer dar.
Não eras tu quem eu queria. Eras tu muito mais do que isso. De ti já dependi eu, todo eu, todas as minhas versões. E, quando te foste, eu aqui fiquei. Todo eu. Todas as minhas versões. Fizeste com que renascesse. Mais uma vez, estavas na causa de tudo. Morri e vivi por ti. Procurava-te em todo o lado, apenas não o admitia. Todavia, continuavas a ser tu. Sempre foste, quero dizer. Sempre serás, temo eu. É o meu destino, creio, levar-te ao peito até ao fim. Sei disso e sempre soube desde o dia que te vi. Se te fores de novo, deixar-te-ei seguir com o vazio de quem queria ficar. O vazio causado pela minha falta. Sei que me queres e sei que, sendo tu humilde e sincera, não o negarás. Se te fores, seguirei eu também com a falta daquilo que poderíamos ter sido. Mas seremos sempre. Por mais longe que queiras (ou acredites querer) estar de mim, sabes o que seremos.
Então vai, se quiseres ir. Por mais que rezes, o teu pecado será sempre estares comigo. Já não te livras de mim. Temos então algo em comum. Peco em querer-te muito mais do que me quero. Até mortos, iremos encontrarmo-nos no lugar onde pagaremos por esta maldição que é o desejo de nos ter-nos. E eu não me importo. Nunca me importei. A minha missão era fazer-te ficar mesmo quando te foste. Eu cá a cumpri. Ficarei eu também, mesmo que não do teu lado, sempre na tua mente. E assim, porventura, ficarás tu também. Seguirás sempre em frente com a minha lembrança do teu lado e a minha sombra atrás. Era o que queríamos, o nosso para sempre. Tê-lo-emos na memória. Esse ninguém nos tira.
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Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...