-VII

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(Ano 2014, Itália – Sicília, Floresta)

Vestiam-me sem muita pressa, o que me estranhou logo de início. A lingerie preta de renda assentava-me perfeitamente, como se tivesse sido feita à medida e com o mais cuidadoso detalhe. Ajustava-se perfeitamente ao meu corpo, a um corpo que eu já não conhecia mais.

Estávamos num pequeno quarto, pouco iluminado. O quarto do Pedro, o cabecilha daquela fação. O Roger e o Adam pareciam empenhados na missão de me deixarem na melhor figura possível naquele momento. Pelo menos, o seu esforço em me embelezar não era tão falso quanto os seus nomes.

Um deles pegou no vestido rosa escuro que podia ser comparado com um robe e ajudou-me a vesti-lo. De seguida, calcei os sapatos de salto alto pretos. Deram-me um jeito no cabelo e puseram-me um perfume caro qualquer.

O Pedro apareceu na porta.

— We're ready — o Roger anunciou. — She's all yours, boss.

Foi impossível não sentir um olhar predador vindo do Pedro.

"Calma Verónica. Se fores para ele, é só mais um cliente como qualquer outro... Retirando a parte de já te ter tentado matar umas 25 vezes e ter matado o Roman bem à tua frente num tipo de vingança ciumenta e ter-te arrancado à força toda a tua única esperança de escapar... ele não te pode magoar, és-lhe demasiado valiosa. Nenhum deles pode..."

Respirei fundo, tentando assimilar e cimentar aquelas palavras na minha cabeça.

— Vem — chamou-me, dando indicação para o seguir.

Saímos da casa de pedra e fomos subindo a rua. Numa questão de segundos, ele criou a farsa de um casal aparentemente rico, que caminhava pelas ruas de uma assim parecida aldeia. A sua mão ao fundo das minhas costas não me preocupava. Não mais, não depois de tudo o que eu sabia que ele era capaz de me fazer. Aquele toque era o toque mais misericordioso que Deus me podia dar naquele momento.

Parámos à porta de uma pequena casa. Ele tirou as chaves do bolso das calças e abriu. O andar de baixo era composto por uma casa de banho, uma pequena salinha e um quarto. Já no andar de cima, ficava uma pequena cozinha. Era realmente uma pequena e humilde casa, com uma decoração moderna e acolhedora.

Odiava-o. Odiava-o de morte. Não passava de um cínico, nojento, ridículo...

— Põe-te à vontade — disse ele, assim que atirou a chaves para cima de um pequeno móvel em frente da cama.

— Do que é que isto se trata desta vez? — Perguntei-lhe, observando a grande cama que estava do meu lado.

— De nada, Vera...

— Não te atrevas a chamar-me esse nome! — Apontei-lhe um dedo à cara.

— Tão rabugenta — sentou-se de perna cruzada numa poltrona perto da janela, ao mesmo tempo que retirou um maço de tabaco do bolso do casaco e um isqueiro do bolso das calças. — Não me pareces nada bem. O que se passa? — Acendeu o cigarro já na boca. — Andam a assombrar os teus sonhos?

Lembrei-me do Roman. Lembrei-me da Sonya. Era isso que ele queria, que eu me lembrasse deles.

— Eu era um psicólogo. Pelo menos, quase tirei o curso para o ser. E eu apercebi-me que te faz bem falar com alguém e uma vez que a tua amiga está, literalmente, na cova, pensei que podia ajudar-te.

Olhei-o incrédulo.

Ele não podia ser real.

— Tu sabes que eu prezo as favoritas. E tu tens me rendido muito bem. Não te quero desconectada, aliás, quero que mentalizes muito bem o que está à tua volta para...

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora