VI

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Sentei-me na cama com ela no colo. Ela agarrava nos meus cabelos enquanto as minhas mãos percorriam o seu corpo, incentivando-a a pular com mais força e com uma maior velocidade. Deitei-nos na cama, posicionando-me em cima dela e levantei as suas pernas até a minha cabeça estar entre os seus pés. Enterrei-me nela de novo e deixei a velocidade daquele vai e vem aumentar. Senti-a a arranhar as minhas costas e a gemer bem alto no meu ouvido. Ela estava perto, outra vez.

— Duarte, eu... — interrompeu-se com o próprio gemido. Senti-a a comprimir-se num orgasmo arrebatador.

Só parei quando vi a sua exaustão. Não me tinha vindo, mas pouco me importava. Ela estava completamente satisfeita. Antes de a deixar cair no sono peguei nela e ajeitei-nos na cama. Deitei-me a seu lado, fazendo-a aconchegar-se no meu corpo.

Adormeceu de imediato. Eu era uma história diferente - pus-me a pensar noutras mulheres. Numa que já não via há muito tempo. E noutra que me suscita curiosidade.

Desenvolveste uma perdição por ruivas de olhos azuis. Agora vais ter de viver com essa maldição para sempre.

— E que maldição... — sussurrei para mim mesmo.

Olhei para a Mafalda. Senti-me bastante mal por estar numa cama querendo estar noutra. Tudo aquilo não era justo e já não fazia muito sentido, pois ela já não era mais o meu foco. E por mais que me custasse deixá-la a meio da noite sozinha sem uma explicação, eu tinha de o fazer. Dei-lhe um beijo na testa e saí de fininho da cama, cobrindo-a com uma manta que se encontrava no quarto. Peguei nas minhas roupas, vesti-as na sala e saí de vez da sua casa para nunca mais lá voltar. Entrei no meu carro e dirigi até casa.

Manhã de sábado, ia a caminho do meu antigo lar para ajudar o Diogo a escolher o seu fato de casamento. Chegando à minha terra natal, o meu amigo já me esperava ao lado dos meus pais.

— Como é tão bom voltar a ver-te! — A minha mãe abriu os braços para abraçar-me.

— Olá mãe! — Cumprimentei-a ao retribuir o abraço e dar-lhe um beijo na testa. — Olá, pai!

— Ajuda-o a escolher o fato e depois vem ter connosco — iniciou o meu pai. — Precisamos de falar contigo acerca do teu casamento.

— Pai, não creio que tenhamos muita coisa para falar...

— Temos e é por isso que eu espero que não faltes de novo à reunião. É o nosso negócio que está em jogo — ralhou.

— Félix, agora não. Resolvam isso depois — a minha mãe repreendeu-o. — Vão lá tratar do fato! O alfaiate já está à vossa espera lá em cima. — Apressou-nos.

Acatamos a ordem. Percorremos a casa em busca do antigo quarto do Diogo.

— Tens faltado às reuniões com os Pereira? — Perguntou o noivo, antes de chegarmos.

— Se a tua intenção for julgar-me...

— Não é, Duarte — interrompeu-me. — Mas se aceitaste fazer isto, não brinques com a Diana. Eu sei como ela é, no entanto, sei como tu és. O Duarte de há uns tempos atrás não teria voltado atrás na decisão que tomou. O que se passou?

Sim, Duarte, o que se passou? Por que não explicas ao teu amigo Diogo que estás prestes a fazer merda outra vez?

Ignorei-os e entrei pelo quarto adentro. O alfaiate já tinha uns quantos tecidos de múltiplas cores espalhados por todos os cantos do espaço. Parecia atarefado.

— A sua noiva enviou-me várias amostras de tecidos que ela quer que você experimente e eu já estou a dar em doido! A cada hora aparecem-me mais e mais à frente!

— Alice sendo Alice, portanto — comentei.

O Diogo agarrou-me no braço antes de me aproximar do homem que nos esperava.

— No fundo, nenhum de vocês os três merece o que vos espera — concluiu num murmúrio. — Pensa bem nisso.

Largou-me e cumprimentou o alfaiate.

Principalmente tu. Não a mereces. Nunca mereceste.

Sentei-me numa poltrona que lá estava e pus-me a apreciar o que ia acontecendo naquele quarto. A verdade é que eu já estava a morrer de tédio e nem na metade íamos. Felizmente, o meu telemóvel vibrou para me distrair. Era uma mensagem da Lúcia:

"Estás muito ocupado?"

"Depende", respondi-lhe.

"Não quero parecer atrevida, mas eu estou num tremendo tédio neste momento aqui sozinha", iniciou. "Estava a pensar em cozinhar alguma coisa aqui no hotel mesmo, até porque eu estou a tentar poupar dinheiro para um apartamento. Já pedi o ordenado adiantado, mas aqui no Porto é tudo tão caro, que simplesmente não chega. Se continuar a comer fora com a frequência que tenho andado a comer, não me vou aguentar por muito tempo", explicou.

"Estás a convidar-me para almoçar, Lúcia?"

"É... Acho que sim, Duarte", confessou as suas intenções. "Como disseste no outro dia, eu faço o meu destino. Provavelmente não podes vir. (Julgando pelo facto de estares sempre a reclamar sobre o monte de papelada que tens de tratar.) Mas enfim, o que conta é a intenção. Beijos."

— Diogo, meu amigo, irei entregar-te à fé! — Levantei-me.

— Estás a brincar?! — Perguntou meio em baixo.

— Não, estou a falar bastante a sério — peguei no meu casaco. — Mas, olha! Assim vestido, até eu me casava contigo! — Disse-lhe na brincadeira, referindo-me ao fato cinzento que ele estava a experimentar, antes de me ir embora.

— Pensa naquilo que disse! — Gritou assim que abandonei o quarto.

Saí do casarão sem ser catado pelos meus pais e entrei no carro. Chegando ao Porto (uma hora depois), pus-me a caminho de casa. Uma vez no apartamento, apressei-me a tomar banho e a trocar de roupa, sem fazer a barba e sem secar o cabelo. Dei uma festinha à Boneca, pus-lhe a ração na taça e troquei-lhe a água, e saí outra vez para chegar o mais rápido possível ao hotel. Ao chegar, perguntei à recepcionista qual era o quarto da Lúcia. Subi pelo elevador até ao andar indicado e procurei pelo quarto. Ao encontrá-lo bati à porta, obtendo como resposta um "Já vai!". Quando a abriu, pude perceber que a tinha apanhado de surpresa.

— Château Petrus — mostrei-lhe a garrafa de vinho que trazia comigo. — Estava há demasiado tempo guardado na estante, achei que era uma boa altura para o abrir.

— Mas eu nem sequer tomei banho! Como não me respondeste pensei que não vinhas! — Disse um pouco constrangida.

— Acho que já tens uma ideia bem formada da tamanha espontaneidade que possuo como pessoa. Se preferiste remediar do que prevenir, não me culpes por isso. De qualquer forma, tens bom remédio: se não estás a sentir-te bem contigo mesma por não teres tomado banho, vai tomar banho. Hoje, tenho todo o tempo do mundo. Ou então se preferires, eu vou-me embora. Porém, como disseste, sou um homem bastante ocupado e são raras as exceções em que posso fazer uma visita como esta. Já para não falar que seria uma pena não abrir esta garrafa hoje — abanei ligeiramente a garrafa. — Contudo, a decisão é tua Lúcia. Mais uma vez.

Ela ficou a apreciar-me durante um tempo. Talvez aquela história de aproveitar as oportunidades estivesse a ser reproduzida na sua mente.

— Bem, — suspirou e encolheu os ombros — se a vida te dá limões...

— Pede sal e abre a tequila — completei, despertando um sorriso da sua parte. E aquele parecia ser um dos mais bonitos de todos.

Ponderou durante mais uns segundos enquanto me apreciava e lá se decidiu:

— Entra e põe-te à vontade. Eu vou tomar banho, volto num instante.

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora