XXVIII

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[!] Neste capítulo será descrito um único momento erótico. Se não gosta, passe à frente.

Eram 3 da manhã quando acordei. Olhei para Verónica. Parecia tão serena e tão tranquila, que me fazia lembrar da doce Vera que ainda existia dentro daquele coração. Uma estranha e antiga sensação de paz percorreu o meu corpo e preencheu a minha alma. Algo em mim gritava de alegria por ter acordado e ter presenciado algo tão lindo como ela. Era algo que queria testemunhar para toda a minha vida. Pela primeira vez, tinha de admitir que sentir aquela sensação para sempre seria algo igualmente ou mais prazeroso do que sexo.

Ponderei por momentos em beijá-la ou então em dar-lhe pequenos mimos, mas não queria acordá-la. Na verdade, tinha medo de que, ao acordar, ela fosse embora. Isso também vinha a tornar-se estranho para mim - a urgência e necessidade de estar com ela. Não queria que me deixasse, pelo menos, não nesta noite e muito menos naquele momento. Queria que aquela calmaria se prolongasse mais um bocadinho. Levantei-me bem devagar para não a acordar, vesti os meus boxers e caminhei em direção à janela do quarto que oferecia uma vista linda da lua cheia.

Porquê? Porque é que ela me fazia sentir tão bem? Porque é que sentir o seu coração bater tão tranquilamente me fazia sentir uma paz enorme, como se estivesse outra vez em casa? Como se eu tivesse encontrado o meu rumo? O que havia nela que não havia nas outras? Porque é que por mais vezes que fosse para a cama com outras mulheres, com esta parecia sempre diferente e, ao mesmo tempo, a primeira vez? Algo tão explosivo, tão fogoso, tão mágico, tão único... Algo que nunca tinha experienciado em toda a minha vida e que só ela me podia dar a provar.

Talvez, só talvez, ela fosse mesmo a minha perdição. Outra vez. E só talvez, só desta vez, o Diogo era capaz de ter razão: ela sempre será a minha morte, a mulher por quem perco a cabeça.

— Volta para aqui.

A sua voz doce chegou-me aos ouvidos. Começava a gostar da ideia de me levantar todas noites só para ouvir aquelas palavras. Admirei-a. A Verónica encontrava-se na mesma posição em que a deixara quando saí da cama. Os lençóis brancos e finos de verão tapavam-na até à cintura, os seus braços tapavam grande parte do seu peito e os seus cabelos ruivos longos caiam-lhe sobre o corpo. Ela estava linda e aquele toque de sonolência só tornava a ideia de voltar para a cama ainda mais apetecível.

— A menina sente a minha falta? — Aproximei-me da cama.

— Não te dês por tanto, Duarte. Apenas tenho frio.

— Conheci-te no inverno e no entanto é a primeira vez que te ouço dizer isso, Verónica.

— Contigo na minha vida, como poderia eu ter frio?

O olhar - ele nunca mente. E aquele era o melhor olhar que eu alguma vez recebi. A madrugada é conhecida por trazer à tona a sinceridade das pessoas. Eu podia apenas aproveitar os benefícios desse facto e interrogá-la mais acerca do que sentia por mim, visto que ela estava num estado tão "puro". Contudo, fui interrompido mesmo antes de falar alguma coisa.

— Desculpa...  — sorriu, ligeiramente corada. — A madrugada deixa-me carente e lamechas.

— Sim, Verónica. Vamos fingir que é só a madrugada.

— Cala-te e deixa-me dormir.

Ela virou-se de costas para mim. Eu voltei a deitar-me na cama e dei beijinhos no ombro dela. Vi que ela se arrepiou com o meu gesto, mas não era prazer que lhe queria dar. Era carinho. Pois ela não era só prazer, era isso e muito mais.

A noite parecia um delírio. Afinal, eu estava deitado com a Verónica Belmonte. Estava deitado com a pessoa que há um dia não estava assumidamente viva.  Onze anos depois, eu estava finalmente deitado com aquela mulher.

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora