— Duarte! Há já algum tempo que não te punha a vista em cima.
Rogério Pereira era um homem que me dava nojo e um pressentimento de perigo. Não transbordava a sensação de conforto ou de segurança, e quem confiava nele entrava num espiral de confusões e favores interminável. Tinha bastante poder na polícia judiciária. Já solucionou vários casos importantes e, portanto, o respeito que muitos portugueses tinham por ele só crescia à medida que livrava o país de umas quantas pessoas e situações desagradáveis. Assassinatos, homicídios, corrupção, grandes assaltos, redes de tráfico - ele estava sempre lá metido e ficava visto como um tipo de anjo da guarda (que não é e nunca será).
Foi ele que ficou encarregue do caso "Belmonte". Quase estragou a vida da Alice sem um bom fundamento, contudo, não conseguiu. A Alice foi inocentada pelo juiz, uma vez que não haviam provas conclusivas para a condenar. A loira não passava de uma testemunha da tragédia daquela noite, porém, alguém tinha de ficar com as culpas. Como o caso ficou de certo modo em aberto, por não haver ninguém para sentenciar ou culpar, rapidamente os julgamentos da família da Leonor viraram-se contra a minha família, mais precisamente contra mim.
Mais uma vez, a bola de neve de antigas brigas entre famílias ganhara tamanho.
O inspetor e o meu pai faziam uma bela dupla. Não por contribuírem com algo bom para o mundo, mas por se aproveitarem dos mais fracos para próprio proveito. Enfim, complementavam-se.
Algumas coisas não mudam com o tempo, está visto.
— Pode dizer-se que sim — devolvi o cinismo.
— Quem era a vossa amiga? — Olhou na direção que a Lúcia seguiu. — Muito parecida com... — dirigiu-se à Leonor — a tua irmã? Sim, sim. Muito bonita, tal e qual. Mesmo linda. E elegante, formosa. É uma pena, aparentemente assustou-se com a minha cara de velho! — Direcionou-me o olhar. — Mas também... — encolheu os ombros — já temos os nossos amores, não é assim, Duarte?
O veneno escorria-lhe pela boca. Era um sacana de primeira.
— O Rogério tem mais do que um. E tem bom gosto, pelo que consigo ver. Vai-me culpar por partilhar da mesma perdição?
— Não. — Chegou-se para perto. — Mas há pessoas por quem vale a pena perder a cabeça, como, por exemplo, a minha filha.
É impossível pensar no Rogério sem pensar na filha mais nova dele. A Diana mudou muito desde o divórcio dos pais. Os outros três irmãos, como eram mais velhos, não foram apanhados pela decisão do juiz. De alguma maneira, a mais nova foi parar nos braços do pai. A mãe e os filhos mais velhos do Rogério desapareceram do mapa por razões que não vieram a público. Mais tarde, o Marcos tentou lutar pela guarda da Diana, mas não conseguiu, porque a própria não queria ficar com o irmão. Fazia questão de ficar com o pai e jurava que se matava se voltasse a conviver com a mãe. Família amorosa, não é?
Daí a sua personalidade ter tantas semelhanças com a do Rogério. Por vezes, até custa-me culpá-la pela pessoa em que se tornou. Ela não era assim, foi apenas transformada com o tempo. Algo de muito mau se passou com aquela família, a julgar pela insistência dos irmãos em puxar a Diana para o lado da mãe e pela resistência da Diana em ficar do lado do pai. Passei bastante tempo com aquela família em pequeno. Os irmãos, incluindo a Diana, e a mãe eram pessoas impecáveis. O único traste da família era o Rogério.
— Pois, lá nisso tem razão! — E tinha. Aquela mulher dava-me cabo do juízo. No mau sentido da expressão. — Não querendo contrariar a sua declaração, senhor Rogério, como sabe que aquela que lhe fugiu também não vale a pena? Conhece-a?
— Oh meu amigo, já viu a sorte que tem com mulheres? — Procurou uma confirmação da minha parte, mas não a encontrou. — Lembra-se como a primeira acabou? Não convinha a ninguém que acontecesse o mesmo com a... como se chama?
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Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...