XIV

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— Se partirem alguma coisa, vocês é que pagam. Estás a ouvir-me? — Dei-lhe as chaves.

— Eu prometo que não vai acontecer nada, Duarte!

A Alice abraçou-me e agradeceu-me pelo voto de confiança. Eu e o Diogo deixámo-la no Empire para ela organizar as coisas à sua moda e entrámos no carro dele.

— E agora, como vai ser a tua despedida de solteiro? — Perguntei-lhe.

— Não sei... Por mim estava em casa com ela. É uma noite como as outras — disse enquanto conduzia.

— Retirando a parte que é a tua última noite estando solteiro, acho que tens razão.

— Mas eu nem sequer estou solteiro, estou noivo! Achas mesmo que devia festejar?

— Só acho que devias convidar os teus velhos amigos para irmos todos beber um copo. Querendo ou não, é algo importante e merece ser festejado — argumentei. — Não é como se estivesse a dizer para irmos a um strip club.

— Está bem, tens razão.

O silêncio estava prestes a se instalar, porém o Diogo tinha outros planos.

— Tu e a Lúcia... têm algo sério? — Analisou-me pelo canto do olho.

— Sabes bem que não. Somos apenas amigos.

— Hm... não me lembro de dormires em casa das tuas amigas. Ou melhor, quando lá dormes nunca são apenas amigas... E mais, duvido muito que realmente durmam alguma coisa. 

— Não estou a perceber a tua intenção com esta conversa, Diogo.

— Vocês não parecem ser só amigos. Há algo mais aí, e eu conheço-te. 

«— Eu e ela somos só bons amigos — cruzei os braços e encostei as costas ao balcão.

— Não querido... ― Aproximou-se. ― Eu e tu somos bons amigos — corrigiu-me. — Há algo mais entre ti e a Lúcia.»

— Sei das tuas antigas aventuras. Já para não falar de que a Lúcia faz-me lembrar muito uma pessoa...

— Espero bem que não queiras seguir por aí — avisei-o.

— Não, não quero Duarte. Não vale a pena. Apenas quero que estejas bem, mas sinto que lá no fundo tu não estás. — Encarou-me. Conhecia aquele olhar, o assunto era-lhe sério. — Vejo-te como se estivesses numa missão, ou quanto muito a camuflares-te para te protegeres de algo que "já passou" – palavras tuas, Duarte. E depois olho para a Lúcia e... — voltou a concentrar-se na estrada à sua frente — não sei, não me convences.

— Não é a ti que tenho de convencer... — encarei-o.

— Pois, e isso é o mais grave — interrompeu-me. — Tu tentas convencer-te a ti próprio. Não sei se funciona, mas creio que não. Vê-se pelo facto de, há uns tempos atrás, estares tão focado em te casares com a Diana, custasse o que custasse, e agora quanto mais isso for impossível, melhor para ti. Não porque não gostas dela, mas porque conheceste a Lúcia.

— O que queres dizer com isso?

— Sinceramente? — Encarou-me. — Aquilo que não queres ouvir.

Mas que merecias. E merecias muito. Queres que seja eu a dizer-te? Ainda não esqueceste a...

Senti o meu telemóvel vibrar.

"Porque é que o Empire está fechado?", a Lúcia perguntou por mensagem.

"Eu emprestei-o a uma amiga minha durante a noite de hoje. Estás de folga", respondi-lhe.

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora