— Para esclarecer, isso aplica-se a ambos, não é verdade? — Perguntou.
Ah, aquele olhar desafiador. Tentava travar a luta entre o querer empurrar-me para longe e o querer ter-me o mais perto possível. E nós já estávamos perto, demasiado perto. Porém, não tão perto para o meu gosto.
— Nunca te chamei de ridícula — tentei contornar o ponto da questão.
— Mas vais querer, assim que vires que apesar de teres efeito em mim, eu tenho igualmente em ti — encarou-me confiante com as suas palavras. — Olha só para nós agora, Duarte.
— Depois de atirares uma pedra ao rio, estás à espera que não faça ondas?
— Tu atiraste a primeira pedra. Depois de omitires um detalhe teu, estavas à espera do quê? Que não reagisse porque já estou encantada pelo teu charme?!
— Ah! Então sempre estás encantada pelo meu charme. — Gabei-me perante aquele deslize dela. Ela revirou os olhos e virou-me a cara. — Estás a andar às voltinhas nesta conversa para me tentares incriminar por algo que tu fizeste? — Segurei no seu queixo e obriguei-a a olhar para mim.
No intuito de não se deixar ficar, adotou uma postura defensiva, endireitando a sua postura.
— Não sei o que queres dizer com isso.
E eu não ousei explicar. Era impossível verbalizar algo quando estava tão perto de mim. Daquela maneira que só sabia estar perto – longe.
Procurava algo cá dentro e perdia-se. Da mesma maneira que eu me perdia quando a encontrava. E quando a tinha por perto. E quando a podia olhar de perto. Decorar quantos segundos as suas pupilas demoravam a dilatar assim que encontravam aquilo que tanto procurava cá dentro. Como se entrasse em casa, na sua, habitualmente desarrumada, e vasculhasse por algo... Ah, sim... uma boa razão para ficar.
Contudo, mesmo não entendendo o porquê e não tendo uma boa razão, ela fica. Talvez, afinal, não procurasse algo dentro de casa. Talvez tivesse achado a casa. A sua, habitualmente desarrumada.
E com alguma sorte, talvez a arrume.
Tu és ridículo. Não haja dúvida.
Ela foi a primeira a ceder o contacto visual. Pensei que a minha batalha interior tivesse acabado ali, quando o seu olhar não desviou, mas desceu descaradamente para a minha boca.
"Oh vá lá...", pensei, "para de me olhar assim!"
Contudo, era tarde demais. Também já estava a apreciar os seus lábios que de repente pareciam chamar ainda mais por mim.
— Muito pelo contrário, acho que sabes muito bem... — reagi finalmente.
O seu olhar ergueu-se encontrando o meu no dela.
— Talvez — respondeu.
Ela não me ia beijar. Pelo contrário, ela aproximava as nossas bocas o bastante para senti-la perto, mas demasiado longe. Ao ponto de faltar um milímetro de distância entre elas. Um milímetro que ela queria que fosse eu a quebrar. E eu estava prestes a fazê-lo, quando o meu telemóvel vibrou interrompendo o momento.
Afastámo-nos. Envergonhada pela situação, pôs a arrumar a mesa. Já eu, tirei o telemóvel do bolso das calças e vi quem era. Olhei para ele e depois olhei para Lúcia, que esperava uma reação minha.
— Eu já venho. — Ela assentiu com a cabeça e eu fui para a varanda, fechando depois a portada para ela não ouvir a conversa. — Não é uma boa altura, Diana.
— Sabes que dia é hoje, Duarte? 15 de julho, dia da reunião sobre o nosso casamento! — Ralhou do outro lado da linha.
— Está bem. Desmarca a de hoje e marca-a para outro dia qualquer, pode ser?
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Desejo: Fazer-te ficar
Romansa[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...