XVI

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Procurei-a por todo o lado, desde os camarins do Clube até ao meu próprio escritório, furioso por haver a mínima possibilidade daquele fulano ter deitado as mãos à Lúcia. Dirigi-me ao bar e perguntei às meninas se a tinham visto.

— Creio que a vi perto da saída das traseiras — a Noélia respondeu-me enquanto limpava um copo.

— Como assim "perto da saída das traseiras"? — Desconfiei, franzindo a testa.

— Sim, ela estava acompanhada. Devem ter saído, pareciam conhecerem-se — explicou-se, pendurando o pano no ombro.

— Com este homem?! — Mostrei-lhe a fotografia que tinha dele de uma das câmaras de vigilância.

— Esse mesmo! Mas porquê? Passa-se alguma coisa?

Apesar de demonstrar preocupação pela situação, deixei-a sem resposta. Saí do bar imediatamente e avisei os outros para deixarem a situação comigo. Fui andando em estado de alerta para ver se os via. Já mais afastado do Clube, ouvi vozes vindas de um beco. Aproximei-me com cautela para não revelar a minha presença e dei uma espreitadela para ver de quem se tratava.

Eram eles.

Escondi-me na esquina e tentei ouvir o que falavam.

— Um bar noturno? Cheio de homens a babar para cima de ti? Só podes estar a gozar comigo! — Ralhou com ela, encostando-a à parede. — Eu protejo-te, cuido de ti, dou-te um lar e é isto que me fazes?!

— Fala baixo! Não te admito que me fales assim! — A ruiva aponta-lhe um dedo à cara.

— E eu não te admito que me faltes ao respeito desta maneira! — A Lúcia revirou os olhos perante a resposta do moreno, que logo afastou com brutidão aquela pequena mão. — O que é que te passou pela cabeça para saíres de casa?! Está tudo bem aí dentro?! 

— Querias que fizesse o quê?! — Questionou-o com a mesma agressividade. — Que ficasse em casa contigo ou que fingisse que não se passou nada? — O homem virou a cara visivelmente impaciente. — E porque raio foste ter com a Leonor? Porque é que fizeste o aparato que fizeste ontem à noite? Tu tens noção de que tens uns seis homens à tua procura prontos para te reduzirem a pó?

— Fui atrás da Leonor porque já sabia que ela te estava a ajudar. E fui atrás daquela rapariga porque queria saber onde estavas. Eu bem fui ao hotel onde tens andado escondida, mas não te encontrei e ninguém sabia onde estavas. Com uma pequena pesquisa, descobri que trabalhavas aqui.

— Foi a Leonor, não foi? Foi ela que te disse que eu trabalhava aqui, não foi?

— Não é da tua conta. Tu lembras-te como nos conhecemos?! Em que situação de merda estavas? — Voltou ao sermão. — Claro que não, caso contrário não estavas em todas as capas de revistas com aquele gajo. Como é que tu me disseste que ele se chamava mesmo? — Abriu um sorriso cínico, fazendo a ruiva desviar o olhar. — Ah! Era Gama, não era? Afinal, voltaste para o Porto para quê? Para o comeres finalmente? É esse o teu plano de génio?

— Olha lá! — Lúcia direcionou-lhe um olhar visivelmente irritado. — Já te avisei para teres cuidado com a maneira como falas comigo! — Ela aproximou-se dele. — Ele é um bom meio para eu conseguir encontrar o Rogério... Espera lá, como é que tu sabes que o Duarte trabalha aqui?! Tu andaste a seguir-nos?!

— E?! E se eu te segui? Tens algo a esconder? Depois de tudo o que fiz por ti? Tu deves-me a tua vida!

— Não, eu não te escondo nada! Mas tu estás a levantar muitas suspeitas. E eu só estou a fazer isto porque fui obrigada a fazê-lo!

— Que azar, não é? — Ironizou de imediato num tom frio e indiferente. Aproximou-se dela até estarem a centímetros de distância. — Eu não te quero aqui nesta cidade, nem neste país e muito menos com ele. Não quero saber porque cá voltaste, se foi por nós ou para o comeres, estou farto desta palhaçada e das tuas merdas! Já chega de brincar ao rato e ao gato com essa gente que te pôs nesta situação. Isto não vale a tua pouca sanidade. Respeita a que ainda te resta.

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora