— Quando é que me ia dizer?! — Corri atrás dele pelos corredores ao mesmo tempo que segurava no vestido para não tropeçar. — Quando é que me ia contar que me vendeu a um Gama?!
O meu pai parou de andar no mesmo segundo e virou-se para me encarar um tanto furioso com aquela acusação.
— Eu não te vendi, Anabela!! Arranjei-te um homem! Precisas de seguir com a tua vida! — Retomou caminho.
— Eu não quero seguir a minha vida com a pessoa que matou o meu marido! — Pus-me à frente dele para o impedir de seguir. — E muito menos com a família que matou os meus irmãos! — Ele revirou os olhos e ultrapassou-me. — Como pode estar tão indiferente assim?!
— Eu não estou! — Encarou-me. — Mas também não tenho outra escolha! — Aproximou-se de mim. — Eu estou doente, Bela. Não sei quanto mais tempo vou durar. Quando morrer, tu e a tua mãe vão ficar sozinhas e vão ser comidas vivas pela Corte... — fez uma pausa. Suspirou. — A tua mãe está velha. Já não consegue ter mais filhos, já não serve. Mas tu? — Ele pousou as mãos nos meus ombros. — Tu és uma mulher jovem. Fértil. Tens uma vida toda pela frente... — acariciou a minha bochecha antes de eu me afastar dele. Ele recuou uns passos. — Os Gama têm feito a nossa vida num inferno, porém também sabem o quanto valemos e nós sabemos muito bem o quanto eles valem. É tolo negar ou não querer ver isso. Com este casamento, eles ganharão mais riqueza e nós vamos passar a ter mais influência aqui em Portugal. Tu e a tua mãe ficarão protegidas de qualquer ameaça, tanto portuguesa como espanhola.
— Mas porquê ele pai? Justo ele?! — Insisti.
— Os irmãos dele já estão casados. Ele era o único disponível e um tanto interessado nesta união. Ou era o Rodrigo ou era o pai dele. — Torci o nariz com aquela hipótese. — Pois, foi o que pensei.
— Quando é que é o dia do meu casamento? — Murmurei, já conformada com o meu destino.
— Amanhã — respondeu sem muito ânimo. — Vou agora tentar arranjar uma casamenteira que faça o serviço.
— Pelo menos... vocês vão estar presentes?
— Não... — suspirou. — Estarei a caminho de Leão por essa altura. Não quero morrer neste lugar — olhou em volta. — A tua mãe vai-me acompanhar. Vocês os dois estarão por vossa conta.
— E ela ficará muito bem entregue, Sr. Carlos! — O Rodrigo aparaceu atrás de mim, pondo um braço em volta do meu pescoço.
— Pela tua saúde, é bom que fique — avisou o meu pai antes de nos deixar sozinhos.
— Largai-me!! — Ordenei ao tirar de forma bruta o seu braço do meu corpo.
— E se parasse de me tratar por "vós"?
— Não trato por você gente com quem não tenho intimidade.
— Dou-lhe uma semana — apoiou-se com um braço encostado à parede, impedindo-me de voltar ao quarto.
— Para quê?! — Ergui uma sobrancelha.
O Rodrigo acabou por me encurralar com o outro braço. O seu olhar desceu para o meu peito, voltando de seguida a encarar-me.
— Logo verá — disse apenas, antes de seguir com a sua vida e de me deixar sozinha.
— Nojento de merda.
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Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...