Party Rock (Ieroween) Anthem ( Part 1)

102 15 17
                                    

" – Eu acho que vou vomitar – disse Gerard, choramingando enquanto se olhava no espelho do quarto. – E se alguém notar?

– Ninguém vai notar nada, Gee. – Anthony garantiu, enquanto arrumava alguns papéis que precisaria assinar mais tarde. Olhou para o garoto de soslaio e sorriu levemente ao notar o nervosismo deste.

– Mas e se notarem? – perguntou de novo, virando-se para o idoso com o cenho franzido em preocupação. – Meu peito não está totalmente liso. E olha a minha cara! Eu odeio a minha cara! É tão visível! Todo mundo vai perceber! Ninguém vai querer chegar perto de mim! É melhor eu…

– Nem ouse completar essa frase –  Anthony interrompeu o mais novo, olhando-o em repreensão. – Se alguém notar, você vai continuar com a cabeça erguida e vai se orgulhar de quem você é, porque isso não é algo para se esconder.

– Nesse país? Eu tenho certeza de que é.

– Nenhum país é completamente seguro para transexuais, Gerard – disse o senhor, suspirando em tristeza e angústia. – E nem para homossexuais, bissexuais, ou qualquer outro membro da comunidade LGBT. Não dá para fugir da realidade, mas você pode mudar ela. Quando você se esconde, é uma vitória para essas pessoas preconceituosas, mas, quando você se mostra confiante, é como um tiro bem no peito delas.

– Acha que eu não sei disso? – Gerard desviou o olhar de sua imagem no espelho e sentou-se na beirada da cama, soltando um muxoxo e logo depois um suspiro. – Meu medo é de ser espancado, Anthony. Eu não tenho vergonha de quem eu sou, mas tenho medo de morrer por causa disso. Eu não ligo para comentários idiotas e nem xingamentos, mas não dá para fugir de agressões físicas. Não é seguro para mim aqui, nunca vai ser.

– E por isso você vai se fechar? Vai colocar uma armadura ao seu redor para evitar feridas? Vai viver com medo de tudo e todos? – Anthony perguntou retoricamente. – Isso não faz sentido.

– Faz sim! – exclamou o mais novo, os olhos enchendo-se de lágrimas pela dor que sentia. – É para o meu próprio bem! Eu sei que eu não pareço um homem agora, fisicamente falando, mas eu vou começar a tomar hormônios, e vou fazer a mastectomia, e aí tudo vai ficar bem! Ninguém vai saber, e eu vou estar seguro!

– E se um dia você se apaixonar? Você sabe o quão perigoso isso pode ser para você? Uma hora você vai ter que contar para a pessoa, porque se ela descobrir sozinha e não gostar, as coisas irão se complicar. Existem pessoas falsas por aí, Gerard. Pessoas que parecem legais, compreensivas, mas é só uma pessoa trans mostrar o que tem no meio das pernas que elas mudam completamente. Anjos no exterior, monstros no interior.

– Eu não vou me apaixonar. – Gerard revirou os olhos, repudiando a ideia ridícula de Anthony. – Mas não se preocupe, eu ainda vou ir com você. Não quero virar um peso morto aqui, eu tenho que fazer alguma coisa.

– Você nunca seria um peso morto pra mim, garoto. Você sabe disso.

– Mesmo assim. Eu já tenho dezoito anos, eu tenho que fazer alguma coisa com a minha vida, afinal. E trabalhar com você vai ser bem melhor do que trabalhar em qualquer outro lugar. Pelo menos eu sei que o meu chefe é legal!

Anthony soltou uma risada fraca e colocou a mão sobre o ombro de Gerard, olhando-o com ternura enquanto lhe dizia:

– Eu sei que as coisas podem parecer difíceis, e eu sei que você tem medo. Não te culpo por isso, nunca vou culpar. Mas, se você se enclausurar desse jeito, vai acabar afastando pessoas boas de você, tanto quanto afastará as ruins.

– É um sacrifício que eu tenho que fazer. E não é como se eu quisesse conhecer pessoas novas, de qualquer jeito. Foi isso que me fez sofrer durante toda a minha vida, Anthony. Eu não quero e não vou cometer esse erro de novo. Antes só do que mal acompanhado.

Metamorfose || {frerard} Onde histórias criam vida. Descubra agora