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Gerard estava limpando o balcão do restaurante logo antes de fecharem no domingo. A noite já começava a cair e todos os funcionários já haviam ido embora, uma vez que o chefe quis lhes dar mais tempo de descanso antes de voltarem ao trabalho no dia seguinte. Era fato que ninguém gostava de segundas-feiras, então ele queria garantir que todos estivessem bem descansados para terem maior rendimento.

A chuva fina caindo do lado de fora e o clima frio deixavam tudo com uma sensação melancólica, como se a Terra estivesse triste e chorosa. Isso refletia no humor do rapaz, que sentia em seu âmago a solidão que se alastrava por seu corpo. Era um sentimento pesado, que o fazia ficar lento, tão lento que sentia vontade de parar o que estava fazendo e se sentar — apenas para ficar olhando para o nada e pensando em nada.

Não olhou para frente quando ouviu o sino que anunciava a chegada de alguém tocar. Queria acabar logo com o trabalho para ir para casa, aproveitando que a chuva não estava muito forte e que havia trazido um guarda-chuva consigo daquela vez. Continuou limpando o balcão lentamente, enquanto se dirigia ao visitante inoportuno:

– Estamos fechados.

A voz que tomou seus ouvidos, todavia, o fez levantar a cabeça em surpresa e parar o que estava fazendo por completo:

– Querendo lucrar com a NBA, huh? Esperto, Gerard. Muito esperto. Não sabia que você era do tipo que gosta de esportes.

Frank – Gerard disse com desprezo, ignorando a forma como seu coração falhou uma batida e tentando controlar sua respiração que, por algum motivo, estava descompassada. Voltou a limpar e tentou agir normalmente. – O que você veio fazer aqui?

– Vim conversar com você, ué – respondeu Frank, como se fosse algo óbvio. Sentou-se em uma das cadeiras do balcão, e continuou, com sarcasmo na fala: – Eu sei como você ama a minha companhia, então eu pensei "por que não visitar meu melhor amigo, Gerard Way?!" e cá estou eu! Gostou da surpresa?

Não – Gerard disse com convicção, respirando fundo para reprimir a vontade que tinha de voar no pescoço de Iero e matá-lo ali mesmo. – Mas, já que está aqui, me fale como está Anthony. Não tive tempo de visitá-lo de novo, e soube que ele já saiu do hospital.

– Ele está bem. Ótimo, na verdade. Inclusive, sempre que eu o visito, ele procura saber de você. É meio chato, porque eu não quero ficar falando dessa sua cara de leite azedo toda hora, mas não quero ser mal educado, também.

Gerard ignorou o fato de ter sido chamado de "leite azedo" e focou no fato de que Anthony parecia estar com saudades dele. A culpa o atingiu em cheio e não pôde deixar de suspirar, sentindo o peso de sua negligência no coração. As últimas semanas foram tão corridas que ele mal teve tempo de pensar no senhor. Agora se arrependia de tê-lo esquecido tão rápido.

– O que aconteceu com sua mão?

Olhando para a própria mão direita enfaixada, Way lembrou-se de sua raiva descomunal no dia anterior, quando foi agradecer Iero no Parachutes. Ao invés de respondê-lo corretamente, balançou a mão boa em um sinal de "deixa para lá", esperando que o mais novo entendesse a mensagem. Logo, o silêncio pairou de novo, enquanto Gerard jogava o pano em um canto qualquer e suspirava, aliviado por ter acabado o trabalho.

Hey... – Frank chamou sua atenção, e o mais velho viu certa hesitação em seu olhar enquanto falava. – Eu vou visitar o meu avô agora, então... Se você quiser ir... Eu posso te dar uma carona, se você quiser...

"Não. Não, não, não, não. Por favor, não", Gerard pensou em profundo desespero. Não podia nem pensar em ficar perto de Frank, não depois do que havia acontecido no dia anterior. "Mas ele está sendo tão educado... Não! Isso não importa..." Seguia travando essa batalha interna, decidindo o que deveria fazer, até que optou por tratar o rapaz do jeito que sempre tratou: com grosseria e frieza.

Metamorfose || {frerard} Onde histórias criam vida. Descubra agora