Changes can be good, too

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Agulhas assustavam Gerard, e ele nunca soube bem o porquê. Era um medo de infância que havia perdurado até a fase adulta, dominando-o por completo ao ponto de fazê-lo desmaiar ao ver uma. Por isso, o começo do tratamento hormonal, há alguns anos, foi angustiante, porque o médico havia sido claro que a testosterona poderia ser injetável. Gerard quase gritou ao ouvir aquilo, mas o alívio não tardou a chegar: ele poderia usar em gel, e assim foi feito. Pensando agora, o seu desespero naquele dia parecia engraçado, mas o medo de ter que injetar o hormônio a cada semana era imenso demais para o coitado aguentar, e ele sabia disso.

Aquelas memórias passavam pela cabeça do rapaz enquanto ele passava o gel pelo seu corpo, se observando em frente ao espelho do banheiro para ter mais precisão. Era possível ver as cicatrizes da cirurgia de retirada de mama, agora menos aparentes, porém ainda bastante visíveis. Gerard tinha orgulho daquelas cicatrizes, mas se entristecia por não poder gritar ao mundo o quão feliz estava. O medo de sofrer consequências desastrosas por isso era maior, e ele preferia não arriscar. Era melhor guardar o orgulho que sentia para si, ao invés de tentar compartilhá-lo e acabar se arrependendo depois.

A melhor parte do dia era vestir a blusa. Para qualquer outra pessoa poderia parecer algo simples e banal, mas para Gerard era libertador sentir a camisa passar direto por seu peitoral. Era como se algo gritasse “hey! Você não tem mais seios!” para ele, e isso era uma sensação gratificante, depois de uma vida inteira com aquelas duas bolas de gordura que eram os peitos femininos.

Naquele dia, no entanto, a animação de Gerard com todas essas coisas estava escassa, e havia sido substituída pelos seus mais recentes problemas. Sua insônia havia voltado com tudo por causa disso e agora o sono e a preocupação eram mais fortes do que qualquer outro sentimento bom. Ele ainda precisava ir trabalhar, entretanto, então não havia tempo nem de dormir e nem de se lamentar. Não havia tempo a perder. Logo, o rapaz havia saído de seu pequeno apartamento, começando a sua pequena caminhada até o restaurante.

Chegando perto do estabelecimento, Gerard avistou Frank escrevendo algo na placa com o menu do dia no Parachutes Diner, e ele realmente estava disposto a ignorar o garoto e ir direto para o próprio restaurante. Todavia, era tarde demais, porque Iero já havia notado sua presença e agora vinha em sua direção com uma expressão nada amigável, que Gerard fez questão de retribuir da mesma forma.

– Bom dia, Frank – Gerard cumprimentou-o com uma educação visivelmente forçada, o tom de deboche perceptível em sua voz fazendo Frank revirar os olhos e bufar, exasperado.

– Corta esse seu “bom dia” fajuto, seu idiota – disse o menor, apontando o dedo para a cara do outro enquanto continuava falando: – Você foi babaca pra caralho ontem com o meu avô e eu quero saber o porquê.

– Eu não fui babaca com ninguém – defendeu-se Gerard. – Eu admito que estava irritado, mas não deixei de falar a verdade. Anthony não deveria entregar o restaurante dele.

– Cara, ele quase morreu. Você não pode culpá-lo por querer se aposentar depois disso!

– E eu não o estou culpando! Mas seria melhor se ele só tivesse fechado o Parachutes ao invés de passá-lo para outra pessoa. Esse restaurante tem o mesmo dono desde quando abriu, uns trinta anos atrás. Mudar isso agora é loucura!

– Mudanças não são necessariamente ruins, sabia? Talvez seja bom para o restaurante ter um novo dono! – Frank cruzou os braços e completou em tom defensivo: – A não ser que o seu problema seja comigo.

– Sim, também. Não quero um punk delinquente qualquer como dono do Parachutes.

A sinceridade de Gerard fez Frank soltar um grunhido fino de indignação, enquanto o outro tentava controlar o sorriso que queria aparecer no rosto por ter conseguido ofender o rapaz. Sua vontade de sorrir morreu, no entanto, quando Iero recuperou a compostura e contra-atacou:

Metamorfose || {frerard} Onde histórias criam vida. Descubra agora