Quando um veículo se aproximou e continuou andando lentamente ao lado de Gerard, seguindo-o pela rua escura em que o jovem estava, ele não teve medo de ser um possível sequestrador ou um assaltante. Isso porque só havia uma pessoa no Brooklyn inteiro com uma lata velha — comumente chamada de Opala — como carro, e esse alguém não conseguia machucar nem uma mosca sequer.
O vidro do veículo se abriu, enquanto ele ainda andava encostado a Way, e, como já esperado, a voz de Frank atingiu seus ouvidos, carregada de um tom preocupado, e, ao mesmo tempo, aliviado:
– Gee! Graças a Deus que eu te achei! Vem, entra aqui! Está tarde demais pra você andar sozinho por aí!
– Eu não quero – respondeu Gerard, ríspido.
– Gerard, vamos lá! Eu sei que você tá mal, mas isso não quer dizer que você pode sair por aí de noite no Brooklyn como se estivesse na porra da Noruega! Tá querendo ser assaltado, é?
– Talvez sim. Aí eu reajo e levo um tiro.
– Você fala muita merda – falou Frank, suspirando. – Gee, entra aqui, vamos!
– Me deixa em paz, Frank. Eu quero ficar sozinho.
Ali, Frank percebeu que Gerard não estava mal. Isso não chega nem perto disso, não. Gerard estava, na verdade, devastado, morto por dentro. Se ele estivesse mal, teria gritado com o mais novo e lhe xingado de mil e uma coisas diferentes, mas não; Way parecia calmo, e sua reação à insistência do outro havia sido totalmente fora de seu normal. Iero podia ouvir o quão quebrada sua voz estava, como se houvesse um buraco dentro de seu corpo, e ele odiava não ter o poder de curá-lo. Se pudesse, tiraria toda sua dor e todos os seus problemas, mas, como isso não era possível, o mínimo que ele podia fazer era impedir que ele fosse morto — ou se matasse. Gerard não parecia ser do tipo suicida, mas Frank obviamente não iria arriscar.
– Eu até posso te deixar sozinho, Gee. Mas… E a Catarina?
– O que tem ela? – perguntou Gerard, em tom entediado.
– Ela não pode ficar no frio por muito tempo! Poxa, se você cuidar da árvore assim ela não vai durar nem um dia nas suas mãos!
Esse fato fez Gerard parar de uma vez, e Frank fez o mesmo, colocando o pé no freio e estacionando ao seu lado. Devido ao ao clima gélido que dominava a cidade durante aquela estação do ano, viu fumaça sair da boca do mais velho ao que ele suspirou pesadamente, logo antes de dar a volta no carro e abrir a porta para entrar.
– Oi, estranho – cumprimentou Frank em um deboche bem humorado.
– Cala a boca – disse Gerard, sua voz soando chateada. – Só dirige, okay? Eu não quero conversar agora.
– Tudo bem. Relaxa aí, daqui a pouco a gente chega.
Como já esperado por Iero, o caminho inteiro foi feito em silêncio. Ele ficou observando o mais velho ao seu lado, olhando para a paisagem da janela que passava como um borrão por causa da velocidade do carro, tentando ver se haviam lágrimas em seu rosto, mas tudo o que viu foi bochechas coradas e uma face inchada por um choro recente, mas que Iero não havia chegado a ver. Todavia, Way ainda parecia perto de ficar aos prantos e, sinceramente, Frank também — só que, em seu caso, era por empatia e preocupação. Afinal, se importar com alguém significa tomar as dores dessa pessoa para si e, por mais que seja doloroso, não é um grande sacrifício para quem ama.
Não. "Ama", não. Amar é uma palavra forte demais, mais forte do que Frank conseguia suportar. Gostar era algo mais viável — "não é um grande sacrifício para quem gosta". É, isso teria que bastar, naquele momento.
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Metamorfose || {frerard}
Fanfic"Como 95% das pessoas que moram no Brooklyn, Gerard estava lá por um motivo ruim. E não, ele não era criminoso, drogado, traficante, ou qualquer merda do tipo. Ele seria um rapaz normal de vinte e sete anos para a sociedade - isso, se ele tivesse um...