Gerard não sabia muito bem o que havia levado-o até ali; provável que fosse sua curiosidade, ou talvez o tédio que sentia. Ele só sabia que, ao final de seu turno no Battery Diner, um pouco antes das duas da tarde — uma vez que ele saía mais cedo nas sextas-feiras —, decidiu cruzar a rua e entrar no restaurante vizinho para dar uma olhada em Frank. Haviam duas semanas desde que ele começara com a baboseira de música ao vivo, e Gerard queria checar a situação do rival, talvez para ver se estava mesmo com mais clientes, ou talvez fosse para saber se ele era um bom músico.
Como já era esperado, o Parachutes estava aconchegante e com ar de familiaridade. O ambiente do restaurante não havia mudado nada desde a saída de Anthony, e Gerard não sabia definir se gostava ou odiava aquilo. Talvez, se o dono atual fosse outro, ele teria ficado aliviado em saber que o tal havia mantido o conforto do lugar. Mas, como era Frank, esse alívio foi enterrado no fundo de seu coração, sendo substituído pelo ódio e insegurança de saber que o pequeno Iero poderia tomar o lugar do Battery e levá-lo à falência.
A primeira coisa que Gerard notou ao adentrar o estabelecimento, além do clima, foi a música. Era uma canção conhecida para ele, tão nostálgica que o rapaz não sabia se queria chorar ou sorrir ao ouvi-la. Chamava-se "I Don't Want To Miss A Thing", da famosa banda de rock "Aerosmith", e era essa mesma música que ele havia dançado com seu pai anos atrás, em seu Sweet Sixteen. Gerard havia odiado a ideia daquela festa do início até o fim, mas aquela dança... Aquela dança foi o melhor, e possivelmente o único bom momento dela. Talvez porque aquela foi a primeira vez em que ele sentiu que tinha um pai. O mesmo pai que o expulsou de casa, anos depois daquele dia.
Nenhum dos funcionários pareceu notar sua chegada, mesmo que o sino presente na porta do estabelecimento a houvesse anunciado. A casa estava cheia de clientes, e Gerard não sabia como se sentir quanto a isso. Estava feliz que aquele lugar não estivesse indo à falência, ao mesmo tempo em que sentia raiva de Frank por realmente ter algum talento para os negócios. O rapaz achava que Iero iria fechar aquele lugar na primeira semana de trabalho, mas acabou subestimando o garoto.
Gerard focou-se no pequeno palco do restaurante e viu Frank em cima dele, sentado em um banquinho de madeira e segurando um violão, os lábios finos encostando-se ao microfone em sua frente enquanto cantava. Era preciso admitir que ele tinha talento, e o rapaz realmente gostava da voz do outro. Não era a mesma coisa que ter o próprio Steven Tyler ali, mas havia algo inexplicável na forma como Frank cantava que tocava Gerard no fundo de seu coração. Havia emoção em sua voz, uma angústia e, ao mesmo tempo, paixão, como se aquela música houvesse sido feita especialmente para ele e por ele. Era claro como água que ele tinha uma vocação absurda para a música, e o mais velho não pode deixar de sorrir levemente com essa conclusão, mesmo que fosse apenas por um segundo, antes de voltar a odiar Iero como sempre fazia.
Enquanto Frank acabava a música, Gerard procurou uma mesa nos fundos do restaurante, de forma que não fosse notado por ninguém, mas que ainda pudesse ver o mais novo e observá-lo como queria. Sentou-se e suspirou, vendo o rapaz começar a dedilhar outra música no violão, a qual o outro reconheceu ser "Iris", do The Goo Goo Dolls. Enquanto ouvia a música, pegou a mochila que havia trazido consigo e retirou seu caderno de desenhos de dentro dela, decidido a rascunhar alguma coisa para passar o tempo.
Acabou por fazer um desenho de Frank tocando. Gerard havia percebido que a estrutura óssea do rapaz era ótima para se desenhar, então decidiu fazer mais um rascunho, a fim de decidir qual manteria depois. Talvez fosse estranho desenhar a pessoa que você mais odeia de uma forma que não seja caricatural, mas Gerard era um artista, então ele tinha a desculpa fajuta de "treinar" ao seu lado. Não que Frank fosse ver os desenhos, de qualquer jeito.
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Metamorfose || {frerard}
Fanfiction"Como 95% das pessoas que moram no Brooklyn, Gerard estava lá por um motivo ruim. E não, ele não era criminoso, drogado, traficante, ou qualquer merda do tipo. Ele seria um rapaz normal de vinte e sete anos para a sociedade - isso, se ele tivesse um...