Nove anos antes
"Querido diário,
Me chamaram de sapata na escola mais uma vez, hoje. Eu sei que comento isso todos os dias, mas é porque isso acontece todos os dias, então eu não tenho como não falar. Esses comentários do tipo 'sapatona nojenta' 'maria sapatão' e 'vira mulher, porra' são tão comuns para mim que eu gostaria de dizer que já me acostumei com eles, mas estaria mentindo para mim mesmo se o fizesse.
Hoje, tivemos ensaios para a peça de teatro da escola. Eu fiz papel para ser um personagem menor, mas acabaram me colocando como o par romântico do protagonista, que é uma prostituta (obviamente, eles não usaram esse nome na hora de falarem os papéis) chamada Betty. Bem, acontece que eu tenho que usar roupas nada legais e o meu parceiro de palco é um babaca, então, como resultado, os meus peitos e a minha bunda foram apertados várias e várias vezes em poucas horas.
Eu tô cansado disso, diário. Eu queria poder arrancar meus peitos com uma faca. Talvez eu cortasse o pau do Julius (o meu colega tarado) para poder costurar em mim. Eu não sei se o pinto dele é grande ou não, mas não dá pra ligar pra tamanho do pênis quando você NÃO TEM UM. Quando você não tem um pênis e quer ter, realmente não importa se ele tem cinco ou vinte centímetros. O importante é ter uma coisa balançando entre as suas pernas, independentemente se o piru é grande, pequeno, torto ou até com fimose… Okay, fimose, não. Dizem que isso dói.
A cada dia que se passa, fica mais difícil me esconder do mundo. Acho que meus pais desconfiam que tem 'algo de errado' (bem entre aspas mesmo) comigo, mas espero que seja só preconceito com o meu jeito, as minhas roupas e o meu cabelo (eu cortei ele de novo sem a mamãe saber. Ela ficou irada, mas meu cabelo ficou foda pra caralho). Eu realmente queria contar pra alguém, pra QUALQUER UM, mas tenho medo do que pode acontecer se eu fizer isso. Geralmente, eu contaria para o Mikey, mas tenho medo da reação dele, também. Mikes é muito próximo de Donald e Donna, é um bonequinho deles, coitado. Não sei o que ele pensa sobre esse tipo de coisa, mas não quero arriscar, de verdade.
Eu tenho esperança de que, um dia, meus pais irão me aceitar do jeito que eu sou, sabe? Eu tenho esperança de que, um dia, vou ouvir meu nome DE VERDADE saindo da boca deles, e tenho esperança que eles tenham orgulho de mim, quando isso acontecer.
Mudar meu nome no cartório; fazer mastectomia; começar tratamento hormonal com testosterona; fazer cirurgia para mudança de sexo. Essa é a lista de coisas que vou fazer quando me livrar dessa família e ter a minha própria liberdade. Ou talvez eu nem precise disso, se eles conseguirem me aceitar rapidamente. Sei que não vai ser fácil pra eles, mas não é como se fosse fácil pra mim, também.
Viver como uma garota sempre me dá disforia, então eu gosto de 'gritar' (no caso, escrever) sobre quem eu sou para me autoafirmar como o meu verdadeiro eu — e quem eu quero ser. Sendo assim, eu vou terminar esse registro fazendo isso, porque eu realmente tô com vontade de chorar agora. Então, lá vai:
MEU NOME É GERARD ARTHUR WAY.
EU SOU UM HOMEM TRANSGÊNERO.
EU TENHO ORGULHO DE MIM MESMO, E NINGUÉM JAMAIS VAI ME FAZER MUDAR DE IDEIA SOBRE ISSO.
EU SOU UM HOMEM.
EU SOU UM HOMEM.
EU SOU UM HOMEM.
EU. SOU. UM. HOMEM!
E NÃO VOU PARAR DE FALAR ISSO ATÉ TER O RESPEITO QUE MEREÇO.
É, isso fez eu me sentir bem melhor.
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Metamorfose || {frerard}
Fanfiction"Como 95% das pessoas que moram no Brooklyn, Gerard estava lá por um motivo ruim. E não, ele não era criminoso, drogado, traficante, ou qualquer merda do tipo. Ele seria um rapaz normal de vinte e sete anos para a sociedade - isso, se ele tivesse um...