The Nightmare Before Halloween (Part 3)

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Gerard estava começando a achar que Frank havia sido possuído por algum espírito com mais noção de espaço do que o próprio garoto. Há cinco dias ele não recebia nem um "a" vindo do rapaz, nem um "bom dia", um "boa noite", ou mesmo um simples "oi". Tudo o que Iero fazia ao ver o rival era olhá-lo por alguns poucos segundos e então voltar aos seus afazeres. Aquilo era bom, ou pelo menos deveria ser. Quer dizer, isso era tudo o que Gerard pediu desde que Frank havia chegado em sua vida. Ele deveria estar feliz, certo? No entanto, havia aquele incômodo, aquela dorzinha no peito que, de certa forma, o fazia sentir saudades da atenção antes recebida. E ele não gostava nada desse sentimento.

Aquele seria o sexto dia de silêncio de Frank. O Halloween era no dia seguinte, e nem isso pareceu fazer o garoto brotar do além para tagarelar com Gerard sobre como ele era rabugento e sabe-se lá mais o quê. O mais velho tinha que confessar que estava com raiva, tanta raiva que estava quase se obrigando a ir tirar satisfações com seu vizinho de restaurante. As únicas coisas que o impediam eram o seu orgulho e dignidade. Não iria se submeter a uma situação tão embaraçosa se Frank não se importava com ele. O rapaz nem lhe devia uma resposta, afinal.

Com a chegada do Dia das Bruxas, a melancolia de Gerard havia atingido outro patamar. Sinceramente, ele nem mesmo se lembrava de quando fora a última vez em que havia lavado os cabelos. Estava vivendo no automático, tomado por lembranças, antes tão boas, mas agora angustiantes, e única coisa que faria esse sentimento acabar seria que o maldito feriado passasse. Infelizmente, a situação era difícil: as crianças de seu prédio e de sua vizinhança sempre vinham importuná-lo à procura de doces, e esse era o seu calcanhar de Aquiles. Ver aqueles baixinhos vestindo fantasias fofas era o que o fazia desabar de tanto chorar — assim como uma atriz de novela mexicana.

Naquele dia, o tempo estava demorando a passar. Minutos pareciam horas e horas pareciam dias, e, quando Gerard achava que já havia chegado ao final de seu turno, via que ainda faltava muito para que acabasse. Era entediante, e ele agradecia a Deus por seus funcionários terem se negado a trabalhar no feriado. O restaurante teria que fechar, já que não teria ninguém para atender possíveis clientes, o que evitava situações inoportunas como, por exemplo, Gerard chorando que nem uma criança no meio do estabelecimento e assustando todos que estivessem ali.

O rapaz não sabia mais que horas eram nem o que deveria estar fazendo. Estava com a cabeça deitada na mesa de seu escritório, em cima de seus braços, e uma vez ou outra soltava um grunhido de insatisfação, mas nada fazia para mudar a situação. Suas capacidades de procrastinação haviam aumentado em pelo menos oitenta e cinco por cento naquela semana antecedente ao feriado e não havia previsão para tudo voltar ao normal.

Houve uma batida em sua porta, mas Gerard continuou do mesmo jeito em que estava antes. Tudo o que fez foi murmurar um "entra" o mais alto que conseguia para quem quer que estivesse do outro lado ouvisse, uma vez que sua voz estava abafada pela cabeça abaixada. Logo em seguida, ouviu a maçaneta girar, passos e depois um baque que significava que a porta havia sido fechada de novo. Então, o silêncio se instaurou, e ele começou a achar que talvez a pessoa houvesse desistido da ideia de falar com ele e ido embora, quando ela finalmente falou:

– Você parece pior do que o Jack Torrance de O Iluminado depois de ficar louco.

Não há palavras que possam descrever o que Gerard sentiu ao ouvir aquela voz. Seu estômago deu um nó, sua respiração parou, e uma mistura de sentimentos tomou conta dele. Raiva, incredulidade, confusão, surpresa... Felicidade. Levantar a cabeça foi uma reação imediata, fazendo o rapaz presenciar uma imagem que há dias estava em sua cabeça, presa como um chiclete deixado embaixo de um banco de ônibus dez anos atrás.

Frank – murmurou Gerard, quase que em um sussurro, tendo consciência do papel de idiota que estava fazendo e não dando a mínima.

– E agora parece que viu um fantasma, que nem o garoto de O Sexto Sentido. – Frank sorriu travesso, como uma criança fazendo bagunça e tentando, sem sucesso, esconder dos pais. Sentou-se em uma das cadeiras paralelas à que o mais velho estava sentado, e continuou: – Você vê gente morta, Gerard? Eu não me lembro de ter morrido.

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