– Desculpa, mãe… – Gerard disse pelo o que parecia ser a trigésima vez desde que havia descido até a cozinha da casa para receber uma bronca de Donna.
– E da próxima vez que eu ouvir ou mesmo souber que você falou um palavrão, vou lavar a sua boca com sabonete, está me ouvindo! Uma moça bonita como você não deve falar essas palavras como um caminhoneiro mal educado faria! Você sabe que eu já odeio quando seu pai e seu irmão xingam, imagine você?! Tenha um pouco de respeito consigo mesma, filha! – Donna ignorou o pedido de desculpas de seu filho mais uma vez e continuou com seu monólogo sobre algo totalmente fútil que ele com certeza não daria ouvidos.
– Tudo bem, mãe. Será que eu posso voltar para o meu quarto agora?
– Nada disso! Eu te disse para ir ao mercado para mim e é isso o que você vai fazer, mocinha! E nada de desviar seu caminho para ir fazer sabe-se-lá-o-que, está bem? É daqui de casa para o mercado e do mercado para casa, sem parada em lugar algum, em hipótese alguma!
– E se eu quebrar uma perna? – perguntou Gerard, mesmo sabendo que seu deboche provavelmente iria deixar sua mãe ainda mais irada.
– Aí você vem pra casa com a perna quebrada e daqui nós vamos ao hospital. Você pode até mesmo quebrar a sua espinha dorsal, mas não vai se desviar do caminho, está me ouvindo? Será que vou ter que desenhar?!
– Não, mãe…
– Ótimo. Agora vá. Espero que não tenhamos essa conversa de novo!
– Okay… Eu vou só subir pra colocar uma blusa de frio e…
– Nada disso! Eu sei muito bem que se eu deixar você subir, vai acabar ficando no quarto o dia inteiro! Você vai usar a blusa do seu irmão, que já está aqui embaixo. O dinheiro que você precisa está em cima da mesa de jantar.
Gerard quis soltar um suspiro exasperado, mas sabia que levaria uma bofetada de sua mãe se o fizesse e mais um longo discurso sobre agradecer pela oportunidade de poder comprar leite condensado e sobre como ele precisava ajudá-la, porque ela sempre o havia ajudado quando precisou (o que era uma baita de uma mentira). Por isso, apenas assentiu em silêncio e saiu da cozinha, pegando o tal casaco de Mikey que estava jogado na sala, o dinheiro que Donna havia deixado para ele e as chaves de casa antes de se dirigir à porta principal e então sair por ela.
Ir ao mercado; comprar o leite condensado; voltar para casa. Era só isso o que ele precisava fazer. E era isso o que faria.
∆ ∆ ∆
Não foi isso o que Gerard fez. Ao invés de ir direto ao mercado para comprar o que sua mãe lhe pedira, ele desviou-se de seu caminho e foi para a pista de skate da cidade, depois que alguns conhecidos passaram por ele e lhe disseram que o lugar não estava nem muito cheio e nem muito vazio, o que era perfeito para andar de skate sem precisar esperar sua vez e ainda não ficar sozinho, sem ninguém para conversar. Gerard não era muito bom no skate, até porque ele não tinha um para treinar quando quisesse, mas era bom o suficiente para não ser vítima de chacota dos skatistas que ficavam por ali — não que isso fosse acontecer. Skatistas eram muito mais legais e gentis do que qualquer outro colega de escola de Way. O único tipo de gente com quem eles faziam chacota eram os playboyzinhos e as patricinhas que às vezes passavam por ali, geralmente tirando sarro de como eles eram "filhinhos de papai" e "feitos de plástico".
Como Gerard não andava muito de skate, o que ele geralmente fazia quando ia à pista era fumar os cigarros de maconha que os frequentadores do lugar faziam e beber a vodka barata deles. Como alguém que já havia passado em uma clínica de reabilitação e saído de lá "livre de vícios", ele não deveria continuar bebendo e fumando livremente daquele jeito, mas Gerard era um adolescente, e adolescentes são um dos seres mais inconsequentes possíveis, então ele realmente não ligava em continuar fazendo isso quando bem entendesse. Afinal, havia adquirido controle sobre seus atos (pelo menos, por enquanto), então não haviam chances de acabar acordando nu na cama de um completo estranho pela manhã, coisa que costumava acontecer com frequência no passado.
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Metamorfose || {frerard}
Fanfiction"Como 95% das pessoas que moram no Brooklyn, Gerard estava lá por um motivo ruim. E não, ele não era criminoso, drogado, traficante, ou qualquer merda do tipo. Ele seria um rapaz normal de vinte e sete anos para a sociedade - isso, se ele tivesse um...