– Ele teve muita sorte, Anthony. Essas lesões poderiam ter sido muito mais sérias do que foram.
– Então ele vai ficar bem?
– Desde que ele siga as instruções e tome os remédios que te passei…
– Não se preocupe com isso. Eu vou cuidar dele até que ele melhore.
– Você?! Anthony, você nem conhece esse menino! Até onde sabemos, ele pode ser um assassino!
– Ora essa, James. Olhe só para esse rosto de anjinho… É só uma criança! E olhe só o estado dele… É bem óbvio que ele não tem ninguém. Você deveria ter visto a situação do coitado quando eu o salvei daqueles delinquentes filhos da mãe. Eu nem o conheço, mas a dor em seu rosto foi o suficiente para me fazer sentir dor, também…
– Sinceramente, Tony, essa sua empatia ainda vai te enfiar numa enrascada, um dia desses… E outra, não é sua obrigação cuidar dele.
– Eu sei que não. Mas eu quero.
Foi com essa conversa que Gerard começou a recobrar a consciência, soltando alguns gemidos baixinhos enquanto tentava, aos poucos, abrir os olhos e mexer os dedos dos pés e das mãos, dormentes por ficarem tanto tempo inativos. Ao fazer isso, as duas pessoas perto dele pararam de conversar, ao que uma delas se aproximava do garoto — ou, ao menos, pareceu se aproximar. A visão dele ainda estava borrada, então estava supondo por seus outros sentidos.
– Eu tenho que ir agora, Anthony – disse a outra pessoa, que havia permanecido no mesmo lugar. – Se precisar de mais alguma coisa, me ligue, okay?
– Obrigado, James. Estou em dívida com você.
– Pois então me pague ao tomar cuidado e não ser inocente demais. Sinceramente, essa sua empatia ainda vai te fazer entrar em uma confusão…
– Eu sei muito bem como me virar. Mas aprecio a sua preocupação, muito obrigado.
– Estou confiando em você. Enfim, tenha uma boa noite.
– Você também.
Os olhos de Gerard conseguiram se manter abertos um pouco depois da porta do lugar onde ele estava se fechar, indicando que uma das pessoas — James, pelo o que parecia — havia saído. Aos poucos, sua visão começou a se estabilizar, até que ele pôde ter total noção do que estava ao seu redor, e, mais importante, quem estava à sua frente.
Era um senhor que aparentava estar no início dos sessenta anos, com olhos âmbar, pele branca e enrugada, e cabelos grisalhos ralos e lisos, penteados cuidadosamente para trás em uma espécie de topete. Ele o observava com um sorriso acolhedor no rosto, apesar de seu cenho franzido mostrar a preocupação que parecia sentir.
– Olá, pequeno – disse ele, sua voz soando suave e gentil. – Como está se sentindo?
Demorou alguns segundos para que Gerard absorvesse a informação e conseguisse falar algo:
– Onde… Onde eu estou…?
Percebendo a garganta seca do rapaz, o idoso se inclinou para pegar um copo de água em uma mesinha próxima a ele, entregando-o a Gerard. Ajudando-o a se erguer um pouco, assistiu ao garoto tomar todo o conteúdo em praticamente um só gole e suspirar em alívio logo em seguida.
– Bom, agora que você não está mais desidratado, acho que posso me apresentar devidamente. Meu nome é Anthony, mas pode me chamar de Tony, se quiser. Como você se chama?
Aquela era uma pergunta que Gerard não sabia escolher como responder. Deveria ele falar o seu nome morto, ou deveria falar o seu nome de verdade? Afinal, ele não sabia se aquele homem era preconceituoso, não sabia se tentaria matá-lo se soubesse que era trans, mas também não queria mentir para alguém que havia lhe ajudado tanto.
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Metamorfose || {frerard}
Fanfiction"Como 95% das pessoas que moram no Brooklyn, Gerard estava lá por um motivo ruim. E não, ele não era criminoso, drogado, traficante, ou qualquer merda do tipo. Ele seria um rapaz normal de vinte e sete anos para a sociedade - isso, se ele tivesse um...