"A casa de Gee estava lotada de homens, todos amigos de seu pai. Encontravam-se na sala de televisão da casa, com latas de cerveja na mão e gritando ofensas para a TV enquanto assistiam ao jogo da NBA que era transmitido. Ninguém se importava com a criança de dez anos desenhando no canto do recinto, conversando sozinha em murmúrios, ao que contava a história em quadrinhos que havia criado para si mesma, uma vez que não havia mais ninguém para escutar. Mikey brincava com os filhos dos amigos do seu pai no quintal, e Gee era praticamente proibido de brincar com outros meninos, então era condenado a ficar sozinho. Não gostava de brincar de bonecas com as meninas do bairro, então escolhia se isolar e desenhar até que todos fossem embora e pudesse ter paz.
A NBA era uma das coisas que o menino mais odiava, porque em todo final de temporada havia um churrasco em sua casa em que seu pai convidava amigos e colegas de trabalho para assistirem o campeonato, e Gee não gostava desses colegas do pai. Eles o olhavam estranho e algumas vezes lambiam a boca quando o menino passava, como se estivessem com fome e Gee fosse um prato super apetitoso. Era estranho e, além disso, não havia muita coisa para se entreter durante esses eventos chatos. Não podia nem ir para o próprio quarto, pois sua mãe dizia que tinha medo de algo acontecer ao filho, ou coisa do tipo. Donna nunca havia gostado dos amigos do marido, também, e temia sempre que algum deles chegava perto do filho mais velho. "Não os deixe encostar em você, Gee", era o que ela dizia, pouco antes dos convidados chegarem para o churrasco. "Fique longe deles, e se algo acontecer, fale para a mamãe, okay?"
Gee não entendeu o que isso queria dizer até completar treze anos e aprender o que era aliciamento, pedofilia e assédio. Aos dez anos, ele ainda estava em seu mundinho infantil, cheio de cores e coisas bonitas.
Surpreendeu-se quando Mikey sentou ao seu lado na mesinha da sala e começou a observá-lo desenhar. Gee arqueou as sobrancelhas, e, percebendo que o mais novo não falaria nada, perguntou:
– Por que não está lá fora brincando?
– Aqueles garotos são chatos, Gee – Mikey explicou, cruzando os braços e fazendo um biquinho manhoso. – Eles não querem me deixar brincar porque dizem que sou magrelo demais!
– Entendi. – Gee suspirou, sentindo compaixão pelo irmão, e completou: – Não quer assistir ao jogo com o papai?
– Não gosto de basquete. Prefiro ver você desenhar, Gee. Eu posso ficar aqui? Por favorzinho!
Olhando os olhos pidões do irmão, não houve como negar seu pedido. Logo, Gee suspirou pesadamente, e ajustou a folha em que desenhava de forma que Mikey pudesse ver também. Sorriu com satisfação junto ao mais novo, e começou a explicar a história que havia feito:
– Eu estou criando uma história em quadrinhos sobre super-heróis, rebeldes! Eles se chamam killjoys e eles têm armas, roupas iradas, e…
– Hey, Gee! – Mikey interrompeu o irmão. – Eu posso ser um super-herói também? Aí, quando você for famosa, vai poder se lembrar de mim toda vez que ver seus quadrinhos!
– Eu não preciso disso pra me lembrar de você, Mikey – Gee disse com confiança. – Você é meu irmãozinho! Eu nunca me esqueceria de você. E nem da mamãe, nem do papai…
– E nem da NBA? – O mais novo brincou, arrancando uma risada de Gee, que bagunçou os cabelos dele com bom humor.
– E nem da NBA! – repetiu em resposta, vendo seu irmão sorrir largo em sua direção. – Eu te amo, Mikes. Nada no mundo inteirinho vai mudar isso, okay?
– E eu também te amo e nada vai mudar isso! É uma promessa!
Mikey levantou o dedo mindinho na direção do mais velho, que riu levemente e entrelaçou seu próprio dedo mínimo no dele. Ali, estava selada a promessa de que nunca se esqueceriam um do outro, em hipótese alguma."
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Metamorfose || {frerard}
Fanfiction"Como 95% das pessoas que moram no Brooklyn, Gerard estava lá por um motivo ruim. E não, ele não era criminoso, drogado, traficante, ou qualquer merda do tipo. Ele seria um rapaz normal de vinte e sete anos para a sociedade - isso, se ele tivesse um...