Capítulo 3

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Os seios fartos pendiam levemente para baixo, como lírios orvalhados. O busto e os ombros mostravam ossos e carnes num equilíbrio que qualquer esteta enalteceria. Tinha a pele pálida e suave, acetinada, descendo com formosura do pescoço ao quadril, passando em uma perigosa curva pela cintura, para em seguida enovelar-se em um umbigo aparentemente esculpido por artesão. Finalmente o conjunto desaguava naquele triângulo perfeito, mata levemente acobreada, exatamente como a vasta cabeleira que descia volumosa, escondendo-se em suas costas. A partir daí, sua tez delicada ganhava volume nas ancas, escorrendo como cascata pelas coxas grossas e as pernas bem torneadas. Nenhum detalhe escapou de meus olhos sedentos, nem mesmo seus pequenos e delicados pés, firmemente plantados no solo. Que contraste! Matilde firmemente plantada em suas pernas e eu completamente sem chão.

Seu sorriso malicioso e a pele fresca convidavam-me para prazeres proibidos. Saí de casa sem destino e aquilo superava até a mais otimista expectativa. Fiquei parada, não sabia o que fazer. A mulher se aproximou com experiência e acariciou levemente meu rosto. Depois chegou seu rosto junto ao meu até que nossos pulmões estivessem envoltos no mesmo ar. Com delicadeza sua boca envolveu a minha. Puxei-a contra meu corpo e deixei que a língua conhecesse os sabores do céu da boca de Matilde e, rodopiando naquele abraço, nos lançamos na cama para o que seria o início de uma tórrida amizade.

Afoguei minhas mágoas nas curvas de seus seios, protegi meus medos no calor de sua pele. Como se conhecessem de cor esses caminhos, minhas mãos dançaram em toda a extensão de seu corpo. Minha boca escorreu de desejos por seu peito, barriga, coxas, ventre. E a cada carícia ela arfava sem pudor, aumentando mais e mais meu entusiasmo, minha ânsia de devorá-la.

Quando seus dedos cavaram espaço pelo pano e arranharam maliciosamente minhas costas, foi minha vez de uivar em delírio. Com astúcia e experiência, suas mãos desataram a faixa de minha cintura e, uma a uma, minhas peças de roupa vazaram para o chão. Então, pele sobre pele, fomos tão somente duas mulheres freneticamente saudando a primavera.

Especialmente treinada para a guerra, aprendi finalmente as artes do amor. E adormeci nos braços de Matilde como se essa fosse minha cama de uma vida inteira.

Como mensageiro alado, um pássaro solitário pousou em nossa janela. Seu canto me despertou e, desorientada, afastei a cortina que escondia a vidraça. O telhado afogueado do casario me fez compreender que o sol nascia. Definitivamente eu estava encrencada.

Aos tropeços recolhi minhas roupas espalhadas pelo chão e tentei vestir-me às pressas. Meus movimentos atrapalhados despertaram Matilde, que buscou me recolher novamente em seus braços.

— O alarme vai soar. Preciso ser rápida ou teremos encrencas graves pela frente.

— Alarme? Estamos em guerra e eu não sabia?

— Não. Mas estaremos tão logo os serviçais deem pela minha falta no castelo.

A melodiosa gargalhada de Matilde encheu o quarto, e meus sentimentos ficaram entre o seduzido por seus modos sensuais e o ofendido pelo desprezo de minha importância.

— Não estou brincando. Os criados têm ordens de tocar os sinos se não me encontrarem em minha cama ao amanhecer. Norma antissequestro. Meu pai é perseguido por esse medo constante. Nunca me importei porque pra mim tanto fazia, eu sempre estava em meu quarto mesmo. Mas agora é diferente.

Terminei as últimas palavras junto com a amarração de minha bota de montaria e soprei um beijo ao vento na direção da mulher que me acolhera em seus braços. Na pressa não observei que minha faixa encarnada ficou caída em um canto do quarto. O troféu de Matilde.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora