Capítulo 50

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Encarei meu pai, que estava estupefato.

— Alexandra O'Líath rastejará aos pés da Rainha Aléssia de Âmina, para que todos vejam o que acontece com aqueles que atravessam o caminho de um Amaranto — continuei com a voz mais branda — E então haverá paz nesse reino. Haverá paz, pois não haverá ninguém com força ou coragem para nos ameaçar. E haverá prosperidade também em meu reinado, isso eu lhes garanto. E todo aquele que for leal a mim e a meu clã, receberá a dádiva por isso. Mas quem não me servir como eu espero que sirva, encontrará na minha espada a resposta para essa ingratidão.

Sentei calmamente, aguardando algum pronunciamento e, quando percebi que o silêncio se estenderia, encerrei a discussão:

— Alexandra dos Olhos Cinzentos será minha escrava pessoal. Essa é a decisão desse conselho. E quem não concordar fale agora, ou se cale para sempre.

Os conselheiros olhavam para o chão ou para o teto. Minha autoridade os assustava.

— Se é assim tão importante para você, será feito conforme sua vontade, minha filha. Mas que seja então você a responsável por capturar Alexandra e destruir Líath.

Sorri vitoriosa.

— Dê-me o comando do exército real, meu pai, e garanto que antes do término do verão seus problemas estarão resolvidos.

A reunião do conselho foi encerrada sumariamente para que meu pai e eu pudéssemos conversar. Minha determinação e fúria eram inesperadas até mesmo para o Rei.

— O exército é uma responsabilidade grandiosa, minha filha.

— E eu sou plenamente capaz de assumi-la. Sou melhor preparada do que qualquer um dos seus comandantes. Aquele Drusus, por exemplo? Um idiota que assassinou um soldado apenas para intimidar os outros homens.

— Se quer que os homens lhe obedeçam é bom ser temido.

— É bom ser temido por provocar dores atrozes a um homem, não por matá-lo. A morte é branda, meu pai, e muitos são os que a encaram com alegria, desde que possam ser lembrados como mártires.

O dia caminhava para seu fim e meu pai andou até a janela, ficando contra a luz. Observei-o com as mãos apertadas às costas, e sabia que estava ponderando o que eu dissera. A ideia não lhe agradava por completo, e depois de alguns instantes decidiu me dizer o que o preocupava.

— Você é uma mulher, Aléssia. Nunca me ressenti por ter tido uma filha menina, sempre a amei e você sempre foi especial. Sei que é capaz de tudo o que diz. Sei que é mais capaz do que a maioria dos homens que conheço. Se é que algum homem pode mesmo rivalizar com você... A força física que lhe falta você compensa com rapidez e inteligência.

Virou-se para me olhar nos olhos, seu olhar era bondoso.

— Mas os homens não vão aceitá-la. Os soldados jamais seguirão uma mulher. Não com a mesma confiança com que seguem um homem.

Era verdade e eu não soube o que dizer. Havia o esboço de um plano em minha mente. Uma ideia que beirava a idiotice, mas que, se desse certo, libertaria Âmina e evitaria o derramamento de sangue. Se eu pudesse ter controle total do exército de meu pai, então não haveria guerra.

Meu pai havia pensado na mesma coisa? Ou estava apenas tentando me ajudar? Sua postura em nossa conversa era protetora, mas a posição que assumiu impossibilitava meu plano de forma quase completa. Eu poderia domar um homem como Galvan — o principal comandante de meu pai — se por acaso meu pai quisesse que compartilhássemos o poder. Mas estávamos na beira de uma guerra, e a decisão de meu pai seguiu o curso da decisão de um Rei cujo trono está ameaçado. Eu havia subestimado a inteligência de meu pai, ou superestimado minha capacidade de persuadi-lo.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora