Capítulo 59

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Dias depois, Agripina nos contaria que só falou porque reconheceu Alexandra. Nos seus primeiros dias no Castelo, servindo refeições pela casa, acompanhou muitas vezes as visitas que minha mãe recebia. Assim, conheceu sua sobrinha, e torcia secretamente por ela. Não só Agripina, aliás; muitos dos empregados se revelaram torcedores dos rebeldes.

Naquela noite, contudo, deixei um pequeno batalhão guardando a casa principal e parti com os soldados restantes. Ninguém deveria entrar ou sair da casa sem as minhas ordens, eu disse, agora certa de nossa vitória, mas muito temerosa quanto ao destino de meu pai:

— Ninguém nessa casa deve ser maltratado — ordenei — O Rei não está aqui, e os empregados são inocentes.

Os homens assinalaram em compreensão, e deixei Diana chefiando esse grupo.

Montei Amora, o coração assombrado, temendo o que encontraríamos.

— Se Matilde estiver mesmo com seu pai, então a luta já acabou.

— Será mesmo, Mestre?

— Sim — interveio Alexandra — conheço Matilde, não há chance de ter nos traído.

— Sem as informações dela, nem sequer estaríamos aqui, Aléssia, você sabe disso.

O raciocínio de Amaryllis era correto. Mas, como saber? Os empregados estavam certos quanto ao casamento. Segundo eles, meu pai teria começado os preparativos apenas dez dias antes. O que havia mudado depois de meu encontro com ela? Que propostas meu pai teria lhe feito?
Alex se destacou de nosso grupo e foi gritando por reforço, de maneira que éramos um pelotão quando chegamos à casa de Matilde. Esperava encontrar luta entre a guarda de meu pai e os soldados rebeldes, entretanto a casa estava vazia. Nas cercanias, populares buscavam lugar para se esconder. Gritei para que ficassem dentro de suas casas até que o conflito terminasse. E foi quando começaram a retornar para dentro dos prédios, que notei um pequeno grupo de pessoas vestindo mantos escuros. Um deles andava com dificuldade, atrapalhado com as vestes. Vi a ponta de uma lâmina aparecendo sob os panos e o apontei para Alex. Cercamos o grupo.

Soldados são treinados para reagir, não para pensar. O instinto básico dos guardas de meu pai foi protegê-lo. Então, atiraram longe seus mantos, cercaram o Rei e nos mostraram suas espadas. Éramos um grupo muito mais numeroso, contudo.

Acompanhada por Alexandra, desmontei Amora e me aproximei. Tive o cuidado de manter Brenda em sua bainha, e creio que, por alguns instantes, meu pai julgou que eu vinha para salvá-lo, por isso tomou a dianteira de seus soldados. Logo seu olhar vagou para Alex, e ficou claro que ela não era minha prisioneira. Também Matilde olhava para Alexandra, e dela para mim. Não sei o que passou por sua cabeça, se seu coração apaixonado compreendeu o vínculo que nos unia.

— Renda-se, meu pai, e nenhum mal lhe será feito, dou-lhe minha palavra.

— Por que não me disse que queria o poder tanto assim? Não precisava se unir a meus inimigos. Poderíamos ter chegado a um acordo, sozinhos.

— Renda-se, meu pai. É o melhor a fazer.

— Vocês acham que estão inaugurando um novo tempo em Âmina. E quem escolhem para colocar no trono? Uma Amaranto? — disse para Alex, provocando-a, e suas palavras se transformaram numa risada nervosa — Tolos! Nada mudará! Ela está usando vocês. Vai tomar o poder e será ainda pior do que eu! Ela fez o pacto da Pedra. Ela é governada pela Pedra, e muito mais do que eu!

— Cale-se! — ordenei, em voz agressiva. A Pedra não era assunto para ser tratado no meio do povo.

— A Pedra adorou você desde o início, não é? Ela gosta desse seu maldito sangue O'Liath!

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora