O crepitar do fogo ganhou força em meus ouvidos. Deixei que me embalasse como cantiga de ninar, afrouxei a respiração, soltei os músculos e o calor da fogueira, brincando com meus olhos fechados, criou desenhos em meus escuros interiores. Assim fui levando-me confortavelmente para um local seguro, um refúgio para permanecer enquanto minhas ondas de desejo não serenavam. Mas então, como criança que descansa ao sol na beira de um riacho, um fio fresco lambeu meu rosto e uma suavidade com fragrância floral tocou minha pele. Inadvertidamente minha consciência voltou à floresta como peixe fisgado por estranho anzol. Do lado de fora de meus olhos cerrados, Diana roçava a pele de seu rosto contra a minha e, num movimento leve e ritmado, enlaçou-me pela cintura, beijou meus lábios, deitou-me na grama, seu corpo pesando sobre o meu. E como se moldasse o barro de que sou feita, suas mãos experimentavam meus músculos, torneavam minhas formas, reafirmavam minhas curvas, descendo como cascata pelo pescoço, resvalando rapidamente por meus seios contidos em disfarce, depois brincando com o vórtice de meu umbigo e, finalmente, forçando passagem entre panos para tocar minha pele na altura do púbis.
Irresponsavelmente esquecida de todas as minhas circunstâncias, eu gozava cada carícia, entregando-me a seu desejo. Mas quando o calor de seus dedos brincou com os pelos tão próximos de meu sexo a súbita consciência de minha delicada situação me trouxe de volta dos labirintos em que tinha me escondido. Como se ressuscitassem subitamente, minhas mãos readquiriram energia e, num salto de bicho contra a presa, agarram seu braço e retiraram os dedos de minhas intimidades.
– Doida! Pare com isso!
Usando a meu favor minha constituição física mais forte do que a dela, virei o corpo deixando-a tombar com delicadeza no chão a meu lado. Então levantei rapidamente e me refugiei ao lado de Amora, como se de alguma forma pudesse encontrar socorro ali. Olhamo-nos aflitas, desejosas, assustadas. Não, o susto era meu. Dela escorria apenas desejo e uma aflitiva necessidade de compreender minha recusa. Em mim havia o desespero de desejar sem poder ceder.
– O que há, soldado, meu corpo não lhe apetece?
Entoou cada palavra, como se cantasse uma cantiga de sedução enquanto se levantava e caminhava provocante em minha direção. Não respondi nada, apenas aprumei os músculos e me preparei para a luta, se preciso fosse.
– Seus olhos dizem o contrário de seus gestos, soldado. Eles me devoram com paixão e me segredam que sua pele quer se esfregar na minha, seu sexo quer perder-se no interior de meu ventre... então por que luta contra seu desejo? Por que simplesmente não me toma nos braços e me mostra como é ser mulher?
– Você é linda e encantadora, Diana, mas não acho que deva confundir as coisas. É natural que nossos instintos falem mais alto aqui, no meio de uma floresta, a sós, vítimas de uma mesma tragédia. Mas nossas vidas continuam além daqui e, por mais que pareça estarmos fora do tempo, o que fizermos agora nos acompanhará para sempre. Não quero que você seja induzida pelas circunstâncias a fazer algo de que se arrependerá até o fim dos seus dias.
– Me arrependerei? Do que está falando, Iago?
– Você é uma mulher muito jovem, Diana. Vamos sair daqui, você recomeçará sua vida. Vai encontrar alguém com quem gostaria de constituir família, alguém a quem você realmente gostaria de dar o que me oferece agora...
– Está usando minha honra como desculpa para sua covardia, Iago? O que há, não é homem o suficiente para tomar uma mulher nos braços?
Ironicamente eu poderia ser até mais homem do que muitos dos que ela encontraria futuramente em sua vida. Mas não precisava lhe provar isso, não possuía esse brio que erguia a vara a menor provocação. E não era a honra dela que eu buscava proteger, mas a minha própria.
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Aléssia || HISTÓRIA COMPLETA
FantasyO destino de Aléssia é libertar seu reino das garras de um tirano. Mas para isso, terá que matar a pessoa que mais ama: seu pai. 👸 fantasia ⚔️ aventura ❤️ romance 🔥 erotismo 🌈 protagonista lésbica 𝐏𝐮𝐛𝐥𝐢𝐜𝐚𝐝𝐨 𝐞𝐦 𝟎𝟑/𝟏𝟎/𝟐𝟎𝟐𝟏 �...