Capítulo 9

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— Volte, Aléssia! Volte, querida!

— NÃO!

O suor inundava meu rosto quando acordei ao som de meu próprio grito. Sentei na cama, aflita, e logo as mãos de meu pai me acalmavam.

— A febre abaixou, majestade, creio que ela esteja fora de perigo.

— Obrigada, Malvina, deixe que agora eu mesmo cuido de minha filha.

A porta fechou, ruidosamente, sem que eu visse o rosto de Malvina. A claridade que entrava pela janela ofuscava minha visão turva, aparentemente confusa. Levei quase um minuto para reconhecer meu quarto e perceber que estava tudo bem, apesar de meu coração acelerado.

— Fique tranquila, querida, está tudo bem. Você só precisa descansar um pouco.

— O que aconteceu?

— Nada demais. Apenas descanse. Irá se lembrar de tudo quando estiver melhor.

Com um beijo em minha testa, o Rei se afastou ordenando à criada que fechasse as cortinas de meu quarto e me deixasse só. Quando a penumbra me protegeu, tive a vaga sensação de ver minha mãe acenando desesperada, me mandando voltar.

Voltar para onde?

Não tive tempo de encontrar a resposta, caí novamente em um sono profundo e negro.

Disseram-me que dormi dois dias inteiros. As criadas, aliás, sempre tão alegres em transmitir informações — e mais ainda em aumentá-las — juravam que eu havia chegado praticamente morta nos braços de meu pai.

— O Rei estava que era um desespero só! Mandou buscar todos os curandeiros do reino e disse que os mataria, um a um, se não salvassem vossa vida, Alteza.

— Deixe de exagero, mulher! Desde quando meu pai ameaçaria alguém? — comentei com um risinho.

— Mas é a mais pura verdade, Alteza! Pergunte a quem quiser, todo mundo ouviu.

— Verdade, Princesa. Dava pra ouvir os gritos dele, ainda lá no bosque — completou outra, louca para acrescentar detalhes ao enredo.

— Bosque? Como assim, bosque?

— A princesinha não se lembra de ter passado mal no bosque, não?

Não, não lembrava. Até ela mencionar. Então a lembrança de andar pelo bosque, ao lado de meu pai, voltou nítida e, puxando por esse fio, lembrei de todo o terror: o bosque negro, a Pedra, a energia, o choque.

— Você sabe onde está meu pai, aia?

— No gabinete, Alteza.

— Ajude-me a vestir uma roupa descente, preciso falar com ele urgentemente.

— Mas...

— Sem balbucios, mulher, apenas me ajude. É uma ordem.

— Sim, alteza.

Cheguei ao gabinete no meio de uma reunião de conselheiros. Como de hábito, não esperei que abrissem a porta, apenas dei dois toques na madeira para anunciar minha presença e entrei.

— ... a mulher com a espada nas costas... – Sir Alencar interrompeu suas palavras, assim que percebeu minha chegada. Fez-me uma reverência e todos se levantaram. Já não era mais a criança levada que invadia reuniões sem que ninguém se importasse. Era a Princesa Herdeira que entrava no salão.

— Pode continuar, Sir — respondi com uma mesura. Embora tivesse urgência em falar com meu pai, as palavras do conselheiro haviam me deixado curiosa.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora