Capítulo 27

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Minha respiração ofegante dificultava o raciocínio. Era necessário acalmar os pulmões, apaziguar a mente. Relaxei devagar, mas profundamente, até dar repouso a todos os meus músculos. Seria capaz de suportar qualquer provação dentro daquele estado de ânimo, pensei. Mas minha paz interior foi perturbada por uma fina sensação de agulha que se transformou em uma dor lancinante em meu braço esquerdo. Urrei de dor enquanto a Marca da Pedra queimava infernalmente, obrigando-me a rolar pelo chão. O solo irregular marcava minhas costas E eu lutava desesperadamente para suportar aquele tormento. De repente senti pedras machucando minhas costelas e a grama roçando a pele de meu rosto. Abri os olhos para reconhecer o Bosque Oculto na sua escuridão que parecia perene.

— Volte para mim... volte para ocupar o lugar que é seu. Não quebre a corrente, Aléssia de Amaranto.

O símbolo n'A Pedra à minha frente pulsava em vermelho sanguíneo, enquanto meu próprio braço parecia ser devorado pelo fogo. Balbuciei algumas palavras desconexas implorando para acabarem com aquele suplício. Meu corpo rolava descontrolado no chão, não sabia dizer quanto tempo seria capaz de suportar. Entre lágrimas, percebi alguém se aproximar lentamente. Um par de botas parou diante de mim e julguei perceber o vulto de meu pai se abaixando e me segurando pelos ombros. Quando me colocaram em pé, no entanto, me vi cara a cara com a bela morena de quem eu era prisioneira. A luz do porão estava acesa e meus olhos arderam, não sei se pela claridade ou se pela dor implacável no braço.

— Ela está fervendo em febre. Era só o que faltava! Traga água pra beber e mais um tanto para fazer compressas frias. Não se esqueça de trazer alguns panos limpos também.

— Está certo, Alex. Volto o mais rápido possível.

Alguém segurou meus braços por trás e, com um objeto afiado, livrou-me da corda. Sem me lembrar das inúmeras recomendações de meu pai, levei instintivamente a mão ao braço doente e deixei o corpo cair pesado no chão duro. A dor tirava-me dos eixos, eu estava enlouquecendo.

— Mate-a, Aléssia, mate-a e volte para mim!

A voz d' A Pedra era nítida e imperativa, dominava de uma maneira que eu certamente teria obedecido se fosse capaz de me mover. Mas a dor paralisava-me, amortecia todo o resto e, embora eu ouvisse nitidamente a ordem, não conseguia compreendê-la, as forças todas concentradas em suportar a dor sem sucumbir.

— Morte — murmurei, e não sabia se falava com A Pedra ou com a morena que, em algum lugar, assistia minha agonia. A dor aumentava de intensidade e a mão sobre a marca começou a arder, consumida pelo mesmo fogo que devorava meu braço. Então um pano frio encostou em minha testa, e alguém levantou meu corpo.

— Chame Mirea e diga que é urgente, vou precisar de ajuda.

— Você acha que é grave, Alex?

— Se for o que penso, não é apenas grave, é desesperador. Agora vá logo, traga Mirea o quanto antes.

A sensação fria saiu de minha testa e chegou ao braço. A dor arrefeceu o suficiente para que eu abrisse meus olhos e observasse os olhos cinzentos que me fitavam com preocupação, os mesmos olhos que me aqueciam nos meus melhores sonhos.

— Mãe? — minha voz saiu ofegante, soluçando por um abrigo, um amparo.

— Não, não sou sua mãe. — O pano abandonou meu braço e um barulho úmido como um mergulho soou por um instante, depois a água escorreu por todo o braço esquerdo e senti que eu resfriava por inteiro.

— Ah, Mirea, finalmente! Segura-a com força.

A sensação quente e reconfortante de estar contra o peito de alguém, quando a sentira pela última vez? Não importa, essa sensação é sempre muito bem-vinda; abandonei o corpo, deixei-me acolher por quem quer que fosse, enquanto meu braço era libertado com o barulho esfiapante de pano sendo cortado. Gotas de água choveram em minha ferida, e a agonia começou finalmente a ceder.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora