Capítulo 12

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Tive vontade de me esbofetear e, numa reação quase cômica, comecei a me xingar compulsivamente.

— Calma, Aléssia!

— Calma? Calma, Lara? Era nítido pra todos vocês que Matilde me fazia de boba, e só eu não fui capaz de perceber!

— Lamento muito... mesmo... Quis alertá-la, mas todos à minha volta me disseram que não devemos nos meter na vida dos nobres...

Controlei meu mau humor. A criadagem não tinha responsabilidade alguma sobre meus atos.

— Você não tem culpa, Lara. Eu é que fui muito imbecil.

Lara afagou meu rosto no primeiro gesto leve desde o início de nossa conversa. Um pensamento desagradável aumentou meu mal-estar. Aquilo que eu só descobrira ontem à noite, certamente estava claro para todos, desde o início.

— Bem, se sabiam de meu envolvimento com Matilde, então acho que é, igualmente, do conhecimento de todos, que o Rei Aran também frequenta a cama da cortesã, não é?

O espanto com que Lara me olhou, deixou claro que ao menos ela não sabia de nada. Talvez meu pai fosse mais sábio e cuidadoso do que eu. Ainda tinha muito a aprender com ele...

— Oh, pelos Deuses, Alê... ah... não acredito! Como você sabe? Você...

— Eu os vi juntos ontem à noite.

Minhas palavras saíram molhadas, sem que eu pudesse conter as lágrimas. Lara se apressou em retirar a bandeja de meu colo e me acolheu em um longo abraço. Quando meus soluços amainaram, a criada recolheu os utensílios e levou para a copa.

Retornou, alguns minutos depois, em companhia de Malvina, que me examinou demoradamente, sem encontrar nada de errado.

— Tem se esforçado demais em suas atividades, Princesa?

— Um tanto quanto, Malvina.

— Precisa de descanso, apenas isso. Vou deixar com sua criada alguns chás para que relaxe. Procure dormir, o máximo que puder hoje. Amanhã poderá retomar sua rotina, mas encontre um tempo para relaxar e se distrair, antes que entre em algum colapso nervoso.

— Ah, você fala como se eu não quisesse tais coisas! Mas minhas obrigações estão cada vez maiores, seria preciso esticar o dia, para que eu pudesse encontrar espaço para distrações. Será que você não tem aí um chá que acrescente horas ao relógio, Malvina?

A curandeira sorriu com meu gracejo e saiu do quarto, dizendo que teria uma conversa com meu pai a esse respeito: mesmo uma Princesa precisa de descanso.

Depois de acompanhar Malvina à porta do aposento, Lara retornou para organizar algumas coisas. Colocou a sineta na mesa, ao meu lado, e fez uma mesura para sair:

— Chame se necessitar de alguma coisa, Princesa.

— Fique, Lara.

— Perdão, alteza...

— Já lhe disse para não me chamar assim. Fique aqui, por favor, gosto de sua companhia.

— Ouviu o que Malvina disse, não é? Deve descansar. Seu chá está sendo preparado e a copeira trará em breve. Procure dormir, Aléssia.

— Quero sua companhia.

Minha fala saiu mais incisiva e autoritária do que eu pretendia. Não havia nenhuma pretensão especial naquele pedido, apenas acontecia de não me sentir à vontade para estar sozinha. A mera presença de Lara me acalmava, expulsava de minha alma a sensação doentia de que coisas, ainda piores, estavam por me acontecer.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora