Capítulo 45

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Drusus era um cavaleiro mais habilidoso, e isso dificultou minha tarefa de marcar o caminho. Não me impediu totalmente, contudo. Eu tinha esperança de ser encontrada o quanto antes. Alex conhecia a Floresta melhor do que as tropas do Rei, e a indisciplina daquele grupo favorecia o atraso que eu tanto desejava. O próprio Drusus havia providenciado marcas de sangue fresco, que Alex poderia farejar com facilidade.

A essa altura meu estômago começou a doer ruidosamente e o cheiro de suor e pelos que vinha do cavalo me dava náuseas. Cavalgamos por um tempo que me pareceu infinito, até Drusus apertar as pernas contra sua montaria e a fila parar.

— Vamos pernoitar aqui. Quero cinco homens de vigia em três turnos de revezamento.
Colocaram-me cuidadosamente no chão. Uma fogueira foi acesa bem perto e depois de alguns minutos um homem grande sentou-se a meu lado. Era Drusus.

As labaredas ganharam ânimo quando uma provisão de carne foi colocada para assar. O cheiro da gordura subiu e meu estômago doeu mais ainda. Senti a boca enchendo de água e a saliva escorreu por minha garganta seca, aumentando o mal-estar. Acho que fiz algum gesto involuntário, porque Drusus segurou meu rosto para seu lado e me sacudiu pelos cabelos de um jeito que eu não esperava. Abri os olhos no susto.

O chefe de meus raptores era um homem corpulento de cabelos claros e olhos verdes. Usava uma barba bem cortada e os cabelos amarrados chegavam até a altura de seu cinto. Tinha a expressão cansada e aparentava ser muito mais velho do que da última vez em que o vira. Seus olhos não tinham expressão alguma enquanto me analisava. Não disse nada embora sorrisse com ironia.

Puxou-me com força e me colocou encostada em uma árvore. Depois cortou um pedaço de carne pouco assada e enfiou em minha boca. A carne estava bem temperada e me deu um prazer assombroso. Comi com voracidade, e ele me serviu mais dois pedaços, mas não havia nenhuma generosidade em seu gesto.

— Obrigada, Drusus, você é um homem gentil.

Não me respondeu, mas trouxe a meus lábios um cantil com hidromel. Bebi avidamente dois goles e então a bebida foi recolhida deixando uma sensação de mais sede do que eu tinha anteriormente. Não me queixei, entretanto.

— Você podia me soltar, não é? As cordas machucam meu pulso e não há necessidade disso, você sabe.

Falei, não por acreditar que ele pudesse me soltar, mas porque aquilo era o que ele esperava ouvir. E manter a expectativa dele era uma maneira de lhe fazer pensar que tudo estava bem e a vitória era certa. Isso, esperava eu, poderia levá-lo a algum erro do qual Alexandra se aproveitaria em breve.

— Lamento, Princesa, apenas cumpro ordens.

— Meu pai não mandou que machucasse meu pulso, tenho certeza disso.

— Seu pai mandou que a levássemos em segurança, mas que tivéssemos certeza de que não fugiria novamente.

— Não vou fugir. Para onde iria? Nem sei onde estamos.

Drusus lambeu os dedos e não me respondeu. Depois mexeu o fogo com alguns gravetos e virou a carne no espeto. Cortou alguns pedaços e comeu barulhentamente, despertando ainda mais meu apetite.

— Gostaria de mais um pedaço, por favor.

Limitou-se a rir. Depois se afastou para verificar se suas ordens estavam sendo seguidas pelos soldados. Não demorou pra que alguns homens chegassem perto do fogo. Sentaram em roda e compartilharam comida e bebida como se eu não estivesse ali. A fome, no entanto, tirava-me todo o orgulho e supliquei por comida. Nenhum deles pareceu se comover com isso. Drusus retornou remexendo em suas calças e me olhou com ar matreiro. Tratara-me com respeito e deferência minha vida toda, mas agora eu começava a suspeitar de que não gostava de mim. Provavelmente compartilhava a opinião do soldado morto poucas horas antes. Mas ao contrário dele, sufocava o desprezo que sentia por minha família.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora