Capítulo 42

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No meio da guerra ainda há amor. E crises individuais. O olhar que Alex e eu trocávamos era tanto de dor quanto de saudade. Não nos falávamos desde o dia em que Alexandra descobriu meu envolvimento com Matilde. Uma história muito anterior a nós duas, e por isso eu não aceitava sua reprovação. Acho que tudo isso estava no meu rosto, enquanto Alex me olhava, e seu comportamento foi muito além do que eu esperava. Eu era o centro das atenções na praça, a líder que retornava para comandar seu exército e, naquele momento eu ainda não sabia, mas a população estava em júbilo, porque horas antes haviam recebido a notícia de que eu fora capturada. Notícias como essa aconteciam com frequência, mas daquela vez eu estava fora dos muros da cidade. E então Alexandra temeu e chorou por mim. Mas nada disso eu sabia naquele instante. Sabia apenas que, por algum motivo, Alex havia abandonado sua vigília e agora me recebia na praça. E retesei meu corpo quando ela abandonou suas resistências e me beijou.

O dia seguinte amanheceu sombrio. Sentia um cansaço um pouco maior do que o normal e estranhei ter Alexandra a meu lado. A noite havia sido de conversas. Foi quando fiquei sabendo de meu suposto sequestro. Depois falamos do exército, da guerra, de estratégias. Breno e Renan desculpavam-se por me pedir para buscar Diana. Tinham se rendido a um capricho da menina, que se recusava a deixar Forte Velho:

— Mas foi exatamente como vocês disseram — tranquilizei-os — assim que cheguei ficou toda contente "não disse que Iago viria me buscar?". Vocês estavam certos, não seria fácil tirá-la de lá, no momento de evacuar a cidade.

— E esse momento está bem perto. Mas mesmo assim, não podíamos lhe colocar em risco desse jeito. Foi muita irresponsabilidade nossa.

— Na verdade não me colocaram em risco, Mestre Renan, a viagem foi muito tranquila. Além do mais, eu concordei, não é?

Alexandra ouvia nossa conversa, mas não falava nada. Mesmo quando ficamos a sós, não houve assunto entre nós. Dormimos abraçadas, mas pela primeira vez a pele de Alex não me caiu bem. Só consegui mergulhar em sono profundo depois de me soltar de seus braços e abrir espaço para esticar o corpo, como se estivesse só.

Mas não estava. Abri os olhos para um dia que prometia ser chuvoso e tinha a mulher que amo em minha cama. E, de alguma maneira, eu não a queria ali. Pensei, amargurada, em qual o rumo que minha vida vinha tomando, para que lado tudo aquilo me levaria. Na verdade só existiam duas hipóteses: a depender do desfecho da guerra, eu iria ou para o túmulo ou para o trono. Mas naquele momento eu pensava em outras coisas. Pensava nos meus desejos e no que eu realmente gostaria de fazer. Mas minha vida não tinha a ver com desejos e vontades, de maneira que levantei e fui preparar o desjejum.

Alex levantou pouco depois. Acariciou minhas costas enquanto eu misturava as folhas de chá. Não consegui retribuir, e ela se afastou sem jeito.

Nossa primeira refeição foi em um silêncio constrangedor. Pouco depois, eu estava no campo de treino preparando novatos para a batalha. E a semana toda transcorreu assim, morna como minha relação com Alex.

Durante esses dias vi Diana apenas uma vez, em uma refeição coletiva no segundo dia após nossa chegada. Estava com Péricles, e me senti tranquila ao ver os cuidados do soldado com ela. Não me aproximei para uma conversa, não sabia qual seria sua reação. Deixei que minha cabeça estivesse livre para pensar na guerra cada vez mais próxima, sabendo que, ao fim de tudo aquilo, tudo estaria solucionado. Ou pelo trono ou pelo túmulo. Quaisquer das alternativas me afastavam de Diana.

Por outro lado, Alexandra parecia decidida a esquecer nosso desentendimento. Fosse por ter chegado a alguma conclusão durante seu período meditativo, fosse pelo susto de me perder, tratava-me com carinho e cuidados renovados. Nem mesmo minha frieza nos primeiros dias causou qualquer abalo em sua postura. E assim, aos poucos, o mal estar foi passando, e a paixão reacendeu entre nós.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora