Capítulo 57

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A lua era apenas um filete prateado no céu estrelado, enquanto eu caminhava pelas fileiras de carroças e soldados verificando nossos preparativos. Partiríamos ao alvorecer e nada podia dar errado.

Não tive trabalho algum para convencer meu pai da importância daquela expedição. Prometi trazer Alexandra como prisioneira, e ele me fez perguntas sobre Breno. Estava obcecado com a ideia de ter netos, e já não se importava com a origem do pai de meus filhos.

— Você prefere assim, não é? — perguntou-me ansioso — Terá os filhos necessários para a continuação de nossa dinastia, mas continuará solteira e poderá usufruir da vida como bem entender.

— O povo não achará isso muito indecente?

Meu pai deu de ombros.

— Posso até casá-los, se achar conveniente convencer o povo. No entanto, isso não mudará a condição de Breno de prisioneiro para marido. E podemos nos livrar dele, depois que você tiver dois ou três filhos.

Achava fascinante a maneira como ele determinava quantos filhos eu teria, tendo ele mesmo, oficialmente, apenas uma filha. Não discuti, contudo. Dei-lhe um beijo na testa e o assunto morreu. Suspirei, caminhando para o quarto, e pensei em minha mãe. Meu pai falava com tanta facilidade em eliminar aqueles que já não serviam mais a seus propósitos...

Uma faixa azul erguia-se no céu a partir do leste quando os portões foram abertos. No oeste, onde estávamos, o mundo era formado por sombras indistintas. Trotamos com o amanhecer em nossas costas, ganhando velocidade para cobrir maiores distâncias. Impus o ritmo forte desde o começo e, quando paramos, horas depois, os lanceiros estavam exaustos. Esses homens acompanhavam o exército a pé, carregando a lança ereta ao lado do corpo. Se por um acaso fossem, de fato, a uma guerra, chegariam cansados demais para lutar.

Fizemos uma parada em Porto Doce. Soltamos os cavalos para que pastassem e bebessem, alguns homens se aventuraram em mergulhos no rio. Fogueiras foram acesas para assar a carne, e logo o cheiro de comida se espalhou pelas planícies. Os homens aproveitavam a pausa, porém eu não tinha descanso. Andava de um lado para o outro e procurava a esmo algo na paisagem. O que era, no entanto, não estava claro nem para mim. Talvez fumaça ou poeira. Um sinal qualquer da proximidade de um exército. Mas, não havia nada.

— Algo a preocupa, Alteza?

A voz de Chad me assustou. Não sei há quanto tempo estava me observando.

— Inimigos — respondi com sinceridade. Ele me olhou interrogativamente — Vamos atacar áreas totalmente controladas pelos rebeldes, e é impossível esconder um exército como o nosso. A única chance que eles têm é nos atacar enquanto estamos desprevenidos.

— Nossos batedores varreram toda a região e não encontraram vestígios dos rebeldes. Devem estar aquartelados nas aldeias. Nunca lutaram em terreno aberto, não são soldados experientes. São apenas homens desesperados.

— Espero que você esteja certo, Chad.

Continuamos caminhando às margens do rio, em silêncio. Eu conhecia Chad desde a infância, todavia pouco sabia a seu respeito. Nunca o vi mencionar família e, até onde sabia, meu ex-instrutor não tinha amigos. Em poucos dias eu teria que tomar decisões sobre todas as pessoas do Castelo. Para a nobreza eu sabia exatamente qual destino dar a cada um. Contudo, alguns funcionários seriam problema.

— O que você acha dos rebeldes, Chad?

A pergunta direta o fez engasgar com a água do cantil.

— Como assim, Princesa?

— Vamos, homem, estamos a sós e eu te conheço desde a infância. Pode falar abertamente. Vou governar em breve, e quero saber o que o povo pensa.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora