Capítulo 11

379 72 35
                                    

Minhas costas afundaram lentamente no colchão, o cheiro de lavanda subindo dos lençóis muito limpos e macios. Lara olhava-me assustada, como se me visse doente. Ajeitou sobre meu peito as cobertas enquanto eu, inerte, olhava fixamente o teto.

— Bom descanso, Alteza.

Fez a mesura usual e começou a se afastar.

— Fique.

O som de seus passos sumiu.

— Perdão, Alteza...

— Essa cama é grande demais pra mim. Faça-me companhia, por favor.

Ouvi o som arrastado de seus passos, aproximando-se novamente. Um leve ruído me fez perceber que estava próxima, então a busquei com o olhar. Havia sentado na cadeira ao lado de minha cama.

— Pode dormir, Princesa, estarei aqui se precisar de algo.

Com algum esforço me recostei na cama. A viagem me deixara exausta, mais pelo choque emocional do que pelo esforço físico.

— Preciso de sua companhia, Lara, não de sua vigília.

Recolhi as pernas, dando-lhe passagem para o interior, mas ela não se moveu.

— Deite-se a meu lado, não vou lhe fazer mal algum, minha querida. Tenho grande estima por você, quero apenas sentir que tenho uma alma amiga por perto.

Meu pedido era profundamente esquisito, eu sabia. Mas essa era, em suma, a grande vantagem de ser Princesa: podia fazer pedidos estranhos e as pessoas os acatariam, por mais que desconfiassem deles.

Com indisfarçável constrangimento, Lara deitou a meu lado. O corpo tenso foi afundando aos poucos naquele ambiente macio e que ela, provavelmente, desconhecia. A cama da criadagem era simples, o lugar em que viviam dentro do castelo era austero. Lembrei-me de uma ocasião em que eu, ainda bem pequena, entrei, curiosa, em um dos quartos de funcionários e sentei em uma cama. O colchão era tão duro que pensei ter sentado na madeira e perguntei a uma de minhas babás onde estava o colchão da cama. A mulher me retirou apressada do quarto ralhando que "seu pai vai lhe dar uma surra se souber que você veio aqui, já pra fora!".

Foi assim que recebi Lara pela primeira vez em minha cama. Com um beijo suave em sua testa, desejei-lhe bons sonhos. Minha mão procurou a dela e peguei no sono com nossos dedos entrelaçados.

Na primeira manhã após aquela viagem, eu soube que não era mais a mesma. Acordei com Lara se movendo discretamente, buscando um jeito de sair da cama. Levantei para lhe dar passagem e, com o corpo ainda quente das cobertas, descortinei minhas janelas e olhei o Monte Vermelho. Exatamente como sempre fizera, desde a infância. Mas dessa vez, meu olhar não se sentiu aconchegado naquela paisagem de pedra, montanha e uma fresta de céu. Equilibrei metade de meu corpo para fora da janela e tentei observar o espaço: sentia-me enclausurada. E chocada.

Os olhares duros e famintos das pessoas do vilarejo me perseguiam por onde fosse. De um momento para outro, a vida que eu levava não fazia o menor sentido. Compreendia agora o que Amaryllis me disse em nossa última conversa, e não a culpava por seu comportamento. Nem me sentia orgulhosa de ser quem eu era.

Também minha rotina sofreu mudanças em sua estrutura, meu tempo pessoal ficou mais escasso. As aulas começaram a dar lugar a reuniões. Minha presença no conselho passou a ser cobrada por meu pai. Conselheiros se revezavam em entrevistas políticas, nas quais me explicavam a situação atual do reino, tanto interna quanto externamente. E o Rei Aran, pessoalmente, me instruía naquilo que chamava de "a história secreta da família Amaranto". Era minha vida de Rainha começando.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora