Capítulo 17

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Nas primeiras horas da noite, meu pai entrou em meus aposentos, sem sequer anunciar sua presença. Antes que eu pudesse cumprimentá-lo, ergueu sua mão contra mim:

— Não ouse sair de seu quarto sem minha permissão, Aléssia. Não tenho tempo para crises juvenis. Vou lhe trazer de volta à razão, por bem ou por mal. Ficará aqui, reclusa, até que eu mande lhe chamar. A solidão lhe dará tempo para pensar em suas últimas atitudes. Espero que se lembre a quem deve obediência, lealdade e amor.

Já ia saindo, quando parou, pensou por um segundo e depois completou:

— Agradeça-me por ser bondoso o bastante para permitir que essa aia continue lhe fazendo companhia. Mas basta uma única tentativa de cruzar a soleira dessa porta, Aléssia, e mando essa menina pro inferno! Coloco você sobre os cuidados de uma criada de minha confiança. Não faça com que eu me arrependa desse gesto de carinho.

Por um instante, temi que tivesse me deixado sob a vigilância de guardas, mas uma ronda de Lara pela casa me aliviou: as grades que me prendiam estavam apenas em minha consciência. Aquilo era um castigo e um teste de obediência. Não era uma prisão. Ainda.

Foram treze dias sem contato com o mundo externo. Na aurora do décimo quarto dia, Lara e eu fomos surpreendidas pela entrada intempestiva de meu pai. Olhou-me cinicamente ao me encontrar seminua nos braços de minha aia, mas não fez nenhum comentário. Também não proferiu nenhuma palavra de carinho.

— Espero que seu espírito esteja mais manso agora, Aléssia. Quero que esteja pronta na próxima lua negra. Iremos dar um passeio no bosque.

— No bosque? Algum motivo esp...

— Não é capaz de adivinhar o motivo por si mesma? Não me envergonhe! Você já foi mais esperta. De qualquer maneira, isso é apenas um aviso, para que você tenha tempo. Quero sua roupa cerimonial impecável. Estarei em seu quarto na primeira hora do anoitecer da próxima lua negra, e quero lhe encontrar pronta.

Olhou com extrema malícia para Lara, antes de completar:

— Até lá pode se divertir com sua vadiazinha particular, não tenho nada contra. Mas depois dessa noite, as coisas entre nós serão bem diferentes.

Saiu sem me dizer mais nenhuma palavra. Horas mais tarde, quando Lara foi buscar minha refeição, fiquei sabendo que o Rei se preparava para uma viagem a um povoado próximo.

— Quando ele vai, Lara?

— Não sei ao certo... parece que amanhã cedo.

— Você sabe o que ele vai fazer lá?

Minha aia ficou levemente corada, como sempre acontecia quando queria me esconder algo.

— Fale, Lara, o que ele vai fazer?

— Ora, tratar de assuntos do governo, o que mais?

Era exatamente isso que eu estava me perguntando: o que mais? A lembrança de nossa visita ao povoado, sua frieza olhando para aquela triste gente, voltou nítida. E os acontecimentos dos últimos dias me diziam que eu nunca conhecera meu pai, não de verdade. Aquele homem correto e justo existia apenas na minha imaginação. Fazia parte da paisagem da redoma em que me enclausuraram. Quem era o Rei Aran, de fato?

— Você sabe, Lara. O que mais? Vamos lá, menina, conte-me o que foi que ouviu...

Puxei-a de encontro a meu corpo e beijei de leve sua nuca. A pele se arrepiou com o toque e minha jovem companheira estremeceu de prazer. Insisti carinhosamente para que me contasse o que ouvira, enquanto meus lábios e dedos a amoleciam o suficiente para perder o raciocínio.

Aléssia || HISTÓRIA COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora