O I N Í C I O D E U M C O M E Ç O

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-Emily, tem certeza? Podemos encontrar outra solução, agora que o contrato terminou, seu pai não vai fazer nada.

Escuto minha mãe com a voz embargada após fazer meu check-in.

-Não tem como voltar atrás mãe, a senhora sabe o que vai acontecer se eu não for. O contrato terminou, mas ela quer continuar casada. Ela é a esposa e não eu!

-Perdão por todas as vezes que não te defendi, eu não fui uma boa mãe!

- É melhor a Senhora ir, antes que o pai ligue preocupado com a sua demora.

-Eu devia ter te impedindo de entrar naquela igreja...

-Não vamos ficar lamentando o passado, de hoje em diante irei ser diferente, preciso mãe, já que não é apenas eu, agora somos nós. -falo pondo minhas mãos sobre minha barriga.

Recebo mais um abraço e sigo para o portão de embarque. Não é a primeira vez que viajo de avião, mas é a primeira que me sinto uma fugitiva, ansiosa por liberdade. Olhos fechados, sentada na poltrona tento contolar a respiração ao ouvir a voz do piloto.

A calma só vem quando o meu corpo sente após alguns minutos o avião no ar, deixando para trás minha cidade, Pilar das Palmeiras, rumo a Pelotas no Rio Grande do Sul, para a casa dos meus tios.

Olho pela pequena janela as poucas nuvens, ainda não dá para ver que estou grávida, porém a sensação de que não estou sozinha no mundo enche meu coração de esperança.

É a você que dedicarei minha vida!

Com a promessa relaxo, novamente os olhos fecham, a cabeça procura descanso e as lembranças de todos os momentos em que lutei para ser eu mesma aponta em minha mente, os motivos pelos quais fui obrigada a casar e também abandonar o homem que eu amo, que não sabe que levo comigo o nosso filho.

Dou um sorriso amargo ao lembrar que mais uma vez só posso contar apenas comigo, tenho um novo ser para me comprometer, devo deixar o passado para trás, um passado que ameaça o meu futuro.

....Alguém já disse: nascemos só, morreremos só! Eu não: sou gêmea. Em tese, tenho companhia desde o ventre de minha mãe da minha irmã, Louise, contudo estive sozinha por muito tempo.

Dividir o ventre de nossa mãe, acredito que foi a única coisa que entramos em um consenso, só porque não havia outro lugar, embora acho que até lá a Louise deve de ter me empurrado várias vezes, ela nasceu primeiro.

Um estojo escolar deu início as disputas, é o que lembro, aos sete anos era o meu desejo ter aquelas canetinhas coloridas, mas ela quis só pra ela, acabei cedendo para que não chorasse. Nossa mãe teimava muitas vezes em vestirmos iguais, o que não nos agradava, mas no fim as roupas e cabelos não ajudavam a nos diferenciar.

Conquistar os primeiros amigos foi complicado, eles nos confundiam sempre, pior ainda em sala de aula com uniforme da escola, mesmo que mudássemos os penteados. A Louise fazia isso no caminho para a escola.

Aos doze anos teve início a disputa de amigos, onde eu era acusada de roubar os seus quando eles me preteriam. Nossos pais não entendiam que eu não fazia nada, amizade não se escolhe, simplesmente acontece a tal afinidade.

Aos dezessete as coisas começaram a se definir, os amigos que sempre estavam juntos na escola e nos passeios, eu já tinha meu círculo de amizade formada, só que, as intrigas e disputas por roupas tornou-se a principal causa de nossas brigas.

-Mãe essa calça é minha por que não posso usar?

-Filha deixa sua irmã usar ela é sua mesmo, depois você veste.

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