A O U T R A

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Naquela mesma noite o rapaz tentou explicar que tinha me confundido com a Louise. "Vocês são tão parecidas, não tem como te reconhecer!" Dei de ombros sem querer ouvir suas explicações, feliz por não ter sido ele e sim com o Dominic meu primeiro beijo.

Nem as palavras de minha irmã ao chegar em casa mudou o meu humor: "dessa vez eu estava no lugar certo!" Agradeci em silêncio por isso.

Disfarçadamente sorri, ao ver o azul dos olhos ficarem mais cinzas, por eu não esboçar nenhuma reação a sua provocação.

Após aquela noite decidi mudar o meu visual, cortar os cabelos foi minha primeira providência, curtos acima dos ombros, onde as poucas ondulações ficaram mais evidentes. A Louise ama os seus cabelos longos.

Ao me olhar no espelho vi outra face refletida e seguindo conselhos de minha amiga Carla, também aos poucos mudei meu estilo de roupas, não chegava a ser ousada como as da minha irmã, mas estava me sentindo livre e foi muito boa a sensação de estar um pouco diferente dela.

Dominic nunca mais soube dele após aquela noite, deixei que se tornasse apenas uma lembrança do meu primeiro beijo.

Consegui passar dos dezessete anos, mesmo com a Louise sempre por perto, em alguns dias, discutindo, querendo o que era meu, outros ela sumia, me esquecia. Nos distaciamos aos vinte e um anos quando entrei na universidade e ela não.

No mesmo ano, trabalhava em um hotel, como recepcionista, com o salário custeava minha faculdade de administração. Meus pais de imediato aceitou com o argumento que assim poderia ser mais útil para eles no agora supermercado.

Minha vida estava em uma rotina tão ocupada que, muitas vezes só encontrava minha irmã na hora em que entrava no quarto para dormir. Ela ainda estava fazendo cursinho sem saber o que queria da vida além de ser rica.

-Emily, preciso da sua ajuda! Eu tenho que passar nesta prova. Você sabe que não sou capaz de ter um bom resultado, mesmo com o cursinho.

Ela me pediu em uma noite ao chegar em casa, seus cabelos estavam mais curtos para novamente ficarmos idênticas, mas foi também a primeira vez que o meu pai ficou do meu lado não concordando com ela, resultado não passou na prova e ainda acabou me culpando por isso.

Quando ela estava querendo algo de mim sempre ficava gentil, amiga se tornava a irmã que eu desejava. Também foi com vinte e um anos a primeira vez que tomei seu lugar, um garoto que ela namorava não sabia como terminar com ele, pois estava com pena dele, não entendi o porquê de tal sentimento.

-Mily, somos iguais! Acho que até o nosso espelho não sabe a diferença, é uma pena que não gosta de mudar a cor dos seus cabelos.

Os seus cabelos louros escuros, estavam com umas poucas luzes e mesmo assim foi fácil tomar seu lugar, já que só tinha que imitar seu jeito de falar e usar as palavras certas para não confundi-lo. Dois encontros foi o suficiente.

Depois desse episódio ela tornou-se a irmã que eu queria ter ao meu lado, conversávamos a noite no quarto antes de dormir, procurando saber como foi o meu dia, não mais importunou-me pelas minhas coisas. Foi a melhor época em que convivemos.

E uma segunda vez, tomei o seu lugar, meu primeiro erro e uma das piores experiências da minha vida: o namorado da vez sabia que eu não era Louise, saí correndo do seu apartamento com ele nu avançando querendo me agarrar.

-Ele só queria uma despedida. -Foi sua justificativa, mentiu sobre o caráter do rapaz.

-Nunca mais te ajudarei com um outro homem! -Ouvi sua gargalhada como resposta.

Aos vinte e dois, passei seis meses em outra cidade, trabalhando em uma filial do hotel, onde adquiri experiência na área de administração. Foi onde desejei fazer intercâmbio, com o apoio dos meus pais e da minha tia Selma, irmã da minha mãe, realizei o meu sonho indo para a Inglaterra.

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