P R E S E N T E A T R A S A D O

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A cada dia eu me sinto encurralada, por sorte ou destino o Dominic não conheceu o Luís Gustavo, mas sei que a qualquer momento ele pode aparecer exigindo a paternidade do filho. Ao sair para o trabalho ouço novamente meus pais discutindo, não vou interferir, fecho a porta do meu quarto antes que ouça o meu nome.

E de novo eu me pergunto o que aconteceu para que eles estejam assim, depois de tantos anos de casados. Meu pai não é homem de alterar a voz, mas ultimamente não tem feito outra coisa com sua esposa, nem mesmo o fato de ela estar doente tem efeito para que seja mais compassivo.

- Filha, você pode ver se a empresa realizou a manutenção dos refrigeradores.

- Ontem, a Tatiane deixou o relatório em sua mesa.

Hoje ele está distraído, quase hora de almoço e não sei quantas vezes me pediu algum documento, me olha ou se perde olhando para um lugar, mas não me pergunta nada e não tenho um relacionamento de pai e filha para questionar o que está acontecendo entre ele e a mamãe.

Nossa relação de família quebrada não permite conversarmos, depois da noite de pirraça da Lili mudou alguma coisa, dona Maíra não mais falou para que eu vá embora, porém seu olhar é indecifrável: angústia, medo ou remorso. Meu pai explicou que ainda era consequência do acidente.

Dominic foi para São Bento e dessa vez levou o Luís, os avós estavam com saudades do neto. Queremos passar o dia dos namorados juntos, talvez no barco, faltando apenas quatro dias ele virá nele para Pilar das palmeiras. Decidi que será nessa noite que irei revelar sobre nossos filhos.

Com o mal entendido com o Luís Gustavo ganhei um amigo e ex marido, conversamos por aplicativo de mensagem, principal assunto seu filho, mas reforça sua promessa de não falar com o Dominic antes do exame de DNA, sua certeza de ser pai do Luís faz com que eu fique a cada dia mais ansiosa.

- Pai, vamos tomar um café na lanchonete.

Deixo minhas preocupações de lado quando escuto ele falar um palavrão ao derrubar algo de sua mesa, seu olhar de cansaço de quem não está dormindo bem denuncia seu estado emocional. Ele demora a aceitar, levanto e retiro o que ele tem na mão e peço com um sorriso, ele suspira e logo ficando em pé me surpreende com um pedido.

- Não, mas podemos ir ao shopping quero comprar um presente para os meus netos, só não sei o que escolher para a Lili além de flores e perfume...

- Pai, o senhor não precisa fazer isso. - Não consigo falar outra coisa, porque ele já está na porta me esperando.

- Pegue sua bolsa, depois iremos almoçar.

Como uma criança que ganha o doce preferido, eu obedeço de imediato, sem acreditar que ele quer minha companhia para fazer algo ao seu lado. "Só falta ele segurar minha mão!" Penso ao entrarmos no shopping com o movimento considerável de pessoas.

- Eu vi esse carrinho outro dia, mas fiquei na dúvida se compraria. Será que Tonton vai gostar?

Ele fala envergonhado sem me olhar com o presente em suas mãos como se fosse um tesouro, pega outros, mas volta a pegar o azul.

- Ele vai gostar, o meu Tonton ama essas miniaturas, só não sei como ele começou a gostar deles. - falo enquanto pego um modelo vermelho.

- Quando criança eu desejava ter essas coisas, achava fascinante, principalmente os menores, mas era tão pobre que meus pais mal podiam me dar comida...

Ele para de falar e me dar as costas indo para outra prateleira. Olho para ele enquanto anda pega um e outro, mas não larga o que escolheu antes. Sempre sério, entretanto neste momento ele sorri, me fazendo ver traços do seu neto nele. Assim como sabe o que queria para o Tonton, para o Luís comprou um boneco do homem de ferro, pois ele está na face d­o super herói. Pede minha ajuda para escolher uma boneca, acho que esqueceu que a minha Lili não gosta desse tipo de brinquedo.

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