A outra

💐 M E U C O M E Ç O 💐

Abro os olhos para mais um dia de trabalho, estranho o silêncio, quando penso em levantar sou surpreendida com dois pares de olhos pequenos ao lado da minha cama.

-Não vai levantar mamãe? -meu filho, Danton, fala arrastado, ainda sonolento

-Estamos esperando, hoje é dia na casa da vovó. -minha filha, Lilian, completa.

Para minha felicidade, seis meses depois que cheguei na casa da minha tia Selma, nasceram os gêmeos: Danton e Lilian. Minhas razões para viver.

-A mamãe está fraca, sem forças para levantar. Tão fraquinha!

Finjo que estou sem força ao levantar, deitando novamente. Eles se jogam em cima do meu corpo, beijando e abraçando. Com sorrisos que me contagiam.

-E agora mamãe tem energia, o Tonton pode dar mais, sou forte, olha!

Faz posse de super herói em pé na cama. Puxo seu corpinho de volta para os meus braços

-Sim, o Tonton é nosso herói a mamãe ficou forte. Vamos tomar banho e depois tomar café na casa da vovó....

-Vovó com certeza fez panqueca! -Lilian fala batendo palmas entusiasmada.

Eles estão com quatro anos, em uma fase onde tenho que ter muita atenção no que falo. Enquanto eles fazem festa no banho, vou no seu quarto, pegar suas roupas e arrumá-los.

Meus tios cederam uma área para mim do sobrado em que moram, na zona norte de Pelotas. Pequena com uma sala e cozinha no estilo americana e uma suíte que foi dividida para também os gêmeos terem um quarto, finalmente tenho o meu lugar, uma família, onde me sinto segura e amada.

Após um tempo contei tudo para minha tia Selma, expliquei meus motivos para me esconder de toda minha família e do pai dos meus filhos.

-Meus amores entrem, a vovó já fez café, mas antes quero beijinhos.

Tia Selma, é a irmã mais velha da minha mãe, com os cabelos grisalhos bem curtinhos, os braços gordinhos, é mais descontraída que a irmã, tem a pele clara, despojada, mas elegante em suas roupas simples. Após a morte da minha avô, mudou-se de Pilar das Palmeiras para Pelotas com o esposo Rafael.

-Tem leite vovó?

-Vovô Rafael, Tonton é um bebê, todo dia quer leite.

-E a minha Lili não é? -Tio Rafael pergunta com ela em seus braços.

Ele é pelotense, com cinquenta e sete anos, pele clara, o rosto com poucas rugas evidencia que o tempo só lhe vez bem, ainda na ativa trabalhando na floricultura é tarefa dele escolher as flores.

-Não. Sou uma mocinha né mamãe? -pergunta enquanto puxo uma cadeira para ela.

-Só se tomar leite para crescer forte como nosso Tonton!

Ela faz uma careta, fazendo todos rirem. Todos os sábados é sagrado tomamos café com os meus tios, mas para os meus filhos eles são os avós, os meus pais raramente falam comigo.

Minha mãe no início ligava com frequência, as vezes pedia para voltar para casa, mas atualmente se me ligar uma vez no mês é um milagre e seu diálogo mudou quando os gêmeos nasceram, não mais pediu minha volta e faz depósito em minha conta regularmente.

Por dois anos pagou as dívidas que a Louise fez usando meu nome.

-Bom dia família linda! E os meus amores, quero abraços. Assim não aguento minha gatinha cheirosa desse jeito.