P A I D O S G Ê M E O S

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- Filho, melhore essa cara, e por favor não discuta com o Gustavo...

- O pai do meu filho!

Três dias que ouvi isso e ainda soa estranho, vê-lo comemorando o resultado da paternidade e o possível doador para o Luís, foi o golpe final para a esperança de que elas estavam mentindo. Desejei em algum momento que o resultado fosse negativo, por egoísmo e por muito amá-lo, porém ao saber que não havia outra possibilidade para salvá-lo, estou entregando-o ao seu pai. Maior castigo para minha vingança: perder o meu filho.

- Dominic, ele continua sendo seu filho - Douglas fala na tentativa de me consolar. - Ele não sabe, irmão, o que está acontecendo, ao acordar será você que irá chamar...

- Estou me esforçando, mas...

- Eu sei filho, estaremos ao seu lado!

Dona Fátima segura minha mão, ouço a voz da Emily que chega com o Joel, nos últimos dias a sala de espera do hospital tem sido meu lugar, ela me olha, mas cumprimenta o Gustavo comemorando o resultado do DNA. Ela avisou que o meu filho necessitava dele, eles falam com intimidade, como se conversasse com um amigo.

Ela mentiu mais uma vez, estavam esse tempo todo em contato, sabia que o Luís não era meu filho, mas não falou quando teve oportunidade, a fala da Louise; "Luís não é seu filho!" ainda ecoa na minha mente.

Gritei que estava mentindo, apertei seu pescoço, pedindo que se calasse. Louise gritou mais uma vez com um sorriso de satisfação, repetindo com prazer por arrancá-lo de mim.

Emily tentou me consolar, mas não a permiti que me tocasse, não quis ouvir sua explicação, ela não insistiu, ligando para Gustavo imediamente. Pela manhã já estava no hospital para os exames.

- Dominic, esse é o meu pai, Antônio, ele está desconsolado por não poder ver o neto, mas faz questão de te conhecer.

Recebi um abraço quando ele dispensou minha mão estendida. Ouço palavras de agradecimento por ter criado seu neto, são as que mais tenho ouvido e lamenta-se por todo esse tempo ausente.

- O senhor terá uma vida para conhecê-lo, tenho certeza disso!

Com os olhos marejados fala das coisas que planeja fazerem juntos. Suas bochechas gordas, sobrancelhas com alguns fios grisalhos como os poucos cabelos, o sorriso que lembra o do filho, como também do neto, algo em comum entre os três.

Pai de sangue, sento ao constatar que não tenho mais nenhum laço com o Luís, além do homem que cuidou dele, porque até o seu nome não está ligado a mim, por isso ela insistiu que o meu filho não poderia ter outro, cedi na época por está com depressão, mas agora o real motivo me foi revelado.

Os traços em comum que eu julgava serem meus sumiram, o jeito de andar, o gesto em jogar os cabelos de lado, a forma de separar os alimentos no prato, pequenos gestos e detalhes do dia a dia que ele adquiriu por convivência e não porque herdou de mim.

- Gustavo, aqui estão alguns documentos do meu ... e um álbum com fotos dele bebê!

Praticamente os objetos são arrancados da minha mão, que são ocupada novamente pela as da minha mãe, tentando me consolar.

- Não tenho palavras para te agradecer por esse gesto.

Eles sentam, ávidos para abrir o álbum e sorriem já na primeira foto, o Luís recém nascido com a manta da maternidade, sua pele rosada, própria dos bebês. "Filho, é igual quando você nasceu, sua mãe ficará feliz com esse álbum!"

Ele me olha agradecendo mais uma vez com um aceno de cabeça ao ver a felicidade do António ao seu lado, sua mãe não está presente, no momento passa por problemas de saúde, saber do neto lhe deu mais um sopro de vida.

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