A E S P E R A

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- Carla, qual é o próximo ponto da reunião? -falo no automático.

- Acho que podemos pôr música, alguns homens dançando e com pouca roupa, o que acha?

- Pode ser... ai! Por quê me beliscou?

- Qual foi a última coisa que falei?

Jogo a caneta sobre a mesa, recostando o corpo da cadeira, desanimada olho para o teto, ouço a cadeira sendo arrastada, mas não tenho força para verificar para onde minha amiga saiu. Fecho os olhos, volto minha atenção para a minha respiração, tentando oxigenar meu cérebro.

- Tome, esse café, quem sabe desperta e assim podemos conversar.

Agradeço, tento sorrir para retribuir a gentileza da Carla. Ela senta ao meu lado, tomamos o café em silêncio, sei que quando terminar de engolir todo o líquido não escaparei do seu interrogatório.

- Desculpa, te fiz perder um bom tempo comigo e atrasei suas decisões que o seu novo cargo exige.

Carla foi nomeada diretora-adjunta por meus pais, após o incidente com a Louise em meu quarto, eles decidiram dedicar tempo a ajudá-la a se recuperar mais rápido. Uma semana após aquele dia ela aceitou procurar uma ajuda especializada, há dois meses está internada em uma clínica psiquiátrica, foi diagnosticada com transtorno de sintoma somático, ainda no grau leve, mas o surto que teve em meu quarto foi o bastante para mantê-la em observação.

- Novo cargo, mas você continua sendo minha melhor amiga - ela segura minha mão, fazendo carinho. - Até quando vai ficar nesse estado, você não tem culpa pelas as decisões que sua irmã tomou ao longo da vida.

- Mas eu de certa forma cooperei...

- Com certeza, cedendo sua vida para ela, abriu mão do homem que ama, poderia até ter sido presa e não ter mais um dos gêmeos com você...

Levanto de supetão empurrando cadeira para trás, ando pela sala sem conseguir ordenar os pensamentos.

- Mily, não vou permitir que esqueça tudo que ela fez com você, não para que sinta raiva dela, mas para você ver que ela é má...

- Carla, ela é minha irmã eu simplesmente não consigo vê-la naquele estado

- Estado que ela escolheu, se não a louca seria você e não ela. Não, senhorita, não vou me calar! Ela teve as mesmas oportunidades que você e por duas vezes poderia mudar sua vida com dois homens maravilhosos...

Volto a sentar, mas não olho para a Carla que gira a cadeira para novamente me encarar.

- Luís poderia ser uma vítima fatal de suas inconsequências. Escuta amiga, não estou falando que você deva ficar no lugar dela, mas não é justo que o Dominic e seus filhos pague por todo erro da sua irmã.

Olho para o telefone, mais uma mensagem dele que eu ignoro, duas noites atrás ele me levou para jantar, depois de muita insistência, mas me pareceu estranho estar com ele enquanto a Louise passa noites trancada em um quarto medicada.

É sempre assim, quando penso nele os gritos da Louise me acusando naquele dia explode na minha cabeça, seu choro pedindo socorro.

- Estou tentando Carla, por mim, pelos os meus filhos e até por Dominic - grito de exaustão de tanto pensar em como evitar o pai dos meus filhos.

Os gêmeos estão alheios a tudo isso, o que mais fazem é ficar com o pai, passaram uma semana com os avós em São Bento, conheceram a padaria, voltaram cheios de história da família do pai, tudo para protegê-los da Louise. Até um segurança o Dominic contratou, reforçou a vigilância de sua casa, os meus filhos estão praticamente morando com ele, pois a Louise tentou fugir um dia e ainda não sabemos o que é capaz nessa fase de recuperação.

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