The Devil's Daughter [Nova Versão]

Capítulo 2: Carta

"Relight that spark.
Time to come out of the dark"

• Mia •

Eu sei que Rosângela pediu que eu pedisse desculpas para Nancy mas o meu orgulho não me permite fazer isso. Se passou um tempo até chegar a hora do jantar. Sentei-me na grande mesa de madeira junto com Blair e as outras crianças do orfanato.

— O que aconteceu lá dentro? — Blair pergunta em um sussurro.

— A Anã de Jardim distorceu toda a história e se fez de vítima. Mas no final Rosângela apenas disse que eu teria de lavar a louça do jantar — Digo e um tom de voz baixo para que os outros na mesa não me escutem.

— Quer ajuda? — Pergunta.

— Não, não precisa. Você não tem culpa do que aconteceu — recuso.

Durante todo o jantar a Nancy cara de cavalo ficou me encarando, junto com suas duas amigas. Eu dei apelidos a elas quando estava com Blair. Selena é o jumento e Gayle é o cavalinho. Às vezes chamamos Nancy de Eguinha pocotó. Amanhã de manhã eu teria de acordar cedo para ir pra escola, como sempre. Mas agora eu tinha outra coisa com o que me preocupar. Quando cheguei na cozinha a pia estava cheia de louça do que parecia ser de uma semana inteira. Estava lotada. Não estou exagerando.

— Eu mereço mesmo — Murmuro baixinho.

Começo a lavar a louça. Esfrego o detergente e enxaguo com água. A pior parte é eu ter que ir buscar água no quintal e trazer com um balde. Isso mesmo! A pia não tem uma torneira então temos que ficar buscando água com um balde.

— Tá se divertindo, empregada? — A voz de Nancy ecoa pela cozinha juntamente de uma risada aguda vindo do Jumento e do Cavalinho.

Continuo lavando a louça. Eu sinto meu sangue ferver de raiva e tenho vontade de esfregar a cara dela no asfalto, mas decido usar minha outra defesa — o sarcasmo — para me defender.

— Espera! Acho que eu ouvi um muuu vindo de algum lugar — Eu imito o som de uma vaca ao falar "muuu".

— A única vaca aqui é você — Ela diz aparentemente ofendida com o que eu disse.

— Claro! — A irônia fica clara em minha voz  — por que você é o boi chifrudo, já que aquele seu namoradinho te traiu, ou eu tô errada? — Pergunto com sarcasmo.

Ela não me responde. Nancy solta um gemido de raiva e anda em direção a porta para ir embora.

— Abaixa a cabeça, pro chifre não topar! — Grito antes dela sair.

Começo a soltar gargalhadas altas quando ela vai embora. Quase sinto pena dela por ter sido traída pelo namorado. Erik. Ele é bonito, eu admito, mas não vale nada. É órfão assim como eu. Nancy, Selena, Gayle, Blair, Erik, Caio e eu somos os únicos na média dos 15 à 17 anos. Os outros aqui no orfanato tem menos de 14 anos. Caio é o melhor amigo de Erik, mas não é tão ruim quanto ele. É até um pouco gente boa quando não está perto do amigo.