Capítulo 49

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Talvez fosse o terceiro ou o quarto copo que Alfonso entornava, não saberia dizer ao certo, parou de contar quando o primeiro gole desceu rasgando e queimando em sua garganta. A cacofonia de vozes ao redor não importava, tampouco o barulho definitivamente irritante da música alta ao fundo, estava mais concentrado nas pedras de gelo boiando e desmanchando-se dentro do líquido escuro no copo entre suas mãos, a imagem da derrota de um homem para quem olha de fora; buscando refúgio na bebida para o que não encontrava dentro das inúmeras questões que tinha maquinando em sua mente.

Inicialmente não pensou em sair de casa para beber nem nada do tipo, para ser totalmente sincero, não saberia explicar onde queria chegar, apenas dirigiu pelas ruas escuras rapidamente esperando ir o mais longe que pudesse. Longe de casa. Longe das lágrimas da mulher que deixou para trás.

Vez ou outra as cenas em borrões voltavam em sua mente; gritos, acusações. Então em seguida a sensação entorpecente da verdade sendo revelada; os olhos azuis que tanto amava desfazendo todas as farsas porque ele sabia a verdade e não queria nada além de ouvir da boca dela. Ouvir doeu mais do que ele esperava, embora fosse o esperado, ainda tinha lá no mais íntimo de seu ser uma faísca de esperança, por mínima que fosse, de que tudo não passasse de um grande engano.

Mas era absolutamente real. Anahí estava cedendo às ameaças de um canalha que voltou para atormentá-la e atingir uma confiança que ele tanto lutou para estabelecer entre os dois, o tanto que batalhou para fazer com que ela pudesse confiar, entregar-se por completo. Apertando o copo entre a mão com força ele poderia facilmente quebrar o vidro com o ódio iminente subindo por suas entranhas, mas qualquer que seja sua maneira de externalizar o que sentia, não seria suficiente. Quando voltasse para casa, Anahí ainda estaria lá, e a verdade, inalterada.

Alfonso era, definitivamente, um homem perdido. E sem muito o que fazer, a não ser, manter-se distante, por pouco tempo que fosse, para pensar, para respirar, para não cometer um erro maior e terminar de quebrar o que ainda restava.

— Ora, mas que surpresa. – a voz masculina Alfonso pôde reconhecer de imediato, logo sentindo a presença do homem parado ao seu lado. Não precisou sequer erguer o rosto para encontrar o meio sorriso sugestivo de um Ian claramente surpreso com a sua presença — O que faz Alfonso Herrera em um lugar como esse?

— Pelo visto, você não é o único a frequentar uma espelunca tarde da noite. – ironizou, pouco interessado nas alfinetadas do outro. Ian dispensou com um aceno, ainda sorrindo, e repousou um dos braços sobre a bancada extensa; eram os únicos ali parados; os demais presentes, soltos pelo salão, sentados às mesas, dispersos.

— Certo, solte esse copo, vou pagar uma bebida descente e mais forte. – decidido, ele impôs.

— Estou dispensando... – começou, pronto para afastar-se mas Ian já estava erguendo a mão e sinalizando para o barman.

— Tudo bem se não quiser falar, mas essa sua cara é bastante evidente. O que foi? Levou um pé na bunda também? – provocou.

— Nem todo homem é um canalha como você, Ian. – Alfonso o encarou, o rosto duro.

— Você, certamente não é mesmo. Por essa razão estou tão curioso. O que aconteceu entre você e a Anahí?

— Como sabe que é algo entre a Anahí e eu? – questionou, irritadiço.

— Você tem na cara a expressão de um homem magoado, e apenas uma mulher seria capaz de causar tal chateação. Nós dois sabemos que a Anahí é a única possível. – Ian simplificou e Alfonso suspirou, dando de ombros brevemente.

— Nós discutimos. – confessou, por fim.

— Auch. Pensei que casais como vocês não tinham desavenças. – Ian soltou, na brincadeira, mas pigarreou, quando Alfonso o lançou um olhar mais sério. Não estava para brincadeiras. — Certo, sem gracinhas. – ergueu uma mão, na defensiva. Dois copos com gelo foram colocados diante deles seguidos de uma garrafa escura e cheia, Alfonso reconheceu a marca do Whisky velho. — Escute, também estou aqui porque tenho um coração partido, então posso ser uma ótima companhia.

𝙐𝙣𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙋𝙤𝙧 𝙐𝙢 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙧𝙖𝙩𝙤 Onde histórias criam vida. Descubra agora