Capítulo 105

1.5K 80 63
                                    

Aconteceu rápido, por instinto, talvez, mas quando Alfonso parou para raciocinar sobre o que acontecia, Anahí já estava sendo levada para a emergência, guiada por uma equipe médica bem preparada para cuidar dela e dos bebês.

Anahí podia sentir a dor aguda irradiando por todo o seu corpo, podia sentir o ardor seco que alinhava sua garganta, podia sentir as mãos da equipe médica trabalhando ao seu redor, e podia sentir a tensão nítida que Alfonso carregava consigo enquanto tentava prestar atenção no jargão médico que explicava o que acontecia. Mas a única coisa que Anahí não conseguia sentir eram os chutes dos bebês dentro de sua barriga, o lembrete de que eles ainda estavam bem e seguros.

Na mente dela as palavras frescas da discussão de mais cedo ainda rondavam em um ciclo infernal carregado de arrependimento. Não deveria ser assim, Alfonso repetia o tempo inteiro em murmúrios carregados de culpa. Eles poderiam ter superado mais uma vez, como sempre acontecia, sem se deixar levar por algo que poderia ter sido facilmente resolvido sem chegar àquele extremo. Tarde demais, agora eles estavam ali dentro daquela emergência, suplicando para que os bebês estivessem bem.

Cada batida rítmica que vinha do monitor cardíaco e fetal ligado à Anahí para não somente acompanhar seus próprios sinais vitais como também os dois corações dos bebês ressoava em sua mente. Era o lembrete de que eles ainda estavam com ela, mas nada que pudesse amenizar o desespero irradiando por cada célula molecular de ar daquela sala de emergência.

O diagnóstico veio tardio mas não menos amendrontador: uma ameaça de aborto espontâneo. Somado ao fato de que a pressão sanguínea de Anahí estava nas alturas, toda e qualquer cautela poderiam levá-los de imediato para um parto de emergência induzido.

Entretanto, o problema em si se apresentava no fato dos gêmeos não estarem devidamente desenvolvidos e encaixados caso um parto de emergência precisasse ser feito, sobretudo, sendo desencadeada uma gravidez de risco. Todas aquelas palavras que saiam da boca da médica plantonista ressoavam alto para eles.

— Eles estão bem, não é? Os dois — Anahí tinha a voz trêmula ao proferir aquela pergunta, os olhos grudados no monitor. Nada nunca a aterrorizou tanto. Uma vez passado todo o susto inicial e tanto a dor quanto o sangramento sendo estabilizados, ela queria apenas saber sobre os bebês.

— Estão, fique tranquila — a médica obstetra de plantão respondeu, disposta a não estender por muito mais tempo a agonia evidente dos dois — Como eu disse, o que nos preocupa agora é a sua pressão arterial, Anahí, está mais alta do que deveria. Precisamos estabilizá-la o mais rápido possível.

— Mas eu não consigo mais sentir os chutes, eu não… — Anahí parecia estar em outra dimensão, sequer prestando atenção no que era falado. — A culpa é minha. Eu estava nervosa, é por minha culpa que…

— Amor, por favor… — Alfonso resolveu intervir, inclinando-se o suficiente para beijar a testa dela e segurar a sua mão em uma tentativa de tirá-la daquela agonia evidente. Anahí olhava para ele com os olhos repletos de lágrimas, mordiscando os lábios apreensiva — Você precisa ficar calma agora, por favor. Por você, pelos bebês… Você não tem culpa de nada, ok? Fique calma.

— Tudo bem, agora nós vamos fazer uma ultrassonografia para você conseguir ficar mais calma, ok? — a médica sugeriu calmamente e Alfonso assentiu em concordância.

Anahí passou a prender a própria respiração enquanto se preparava, impotente deitada naquele leito gélido. O que antes era marcado por uma ansiedade bem-vinda, quando estava prestes a ver e ouvir mais uma vez os bebês dentro de si, agora repleto de medo, intensificando apenas quando os batimentos rítmicos e duplicados começaram a ressoar. Alfonso foi o primeiro a reagir, piscando duas vezes seguidas para se situar e deixando aquele som invadir sua mente obrigando-o a lembrar de respirar, enquanto tudo o que Anahí conseguia era deixar que as lágrimas pesadas caíssem de seus olhos.

𝙐𝙣𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙋𝙤𝙧 𝙐𝙢 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙧𝙖𝙩𝙤 Onde histórias criam vida. Descubra agora