Capítulo 107

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Alfonso achava impossível conciliar as três horas restantes que tinha de trabalho com a cabeça cheia como estava naquele fim de tarde, porque tudo no que ele conseguia focar era no fato de que teria mais alguns dias até conseguir afastar-se por completo das responsabilidades naquela empresa e finalmente conciliar suas merecidas férias com o que ele e Anahí vinham planejando durante um tempo considerável. Iriam conciliar a reta final da gravidez com o plano que tinham para focar unicamente no nascimento dos gêmeos, tinham em mente que a partir do momento que eles viessem ao mundo, suas vidas não seriam mais as mesmas, e por mais cansativo e corrido que estivesse sendo, Alfonso mal poderia esperar para quando finalmente pudesse ter os filhos entre eles, mas ainda levariam semanas até lá, conforme o planejado, tanto ele quanto Anahí ainda teriam alguns dias para curtir a reta final da gravidez e com sorte dar os últimos ajustes para receber os bebês como vinham idealizando por meses. 

Planos nem sempre saiam como o esperado, isso era um fato.  

Obviamente que a ligação repentina e inesperada que Alfonso recebeu serviu como uma espécie de declínio em contrapartida a tudo aquilo. Mas antes que pudesse descobrir sobre o que de fato acontecia, o sorriso dele brotou rapidamente quando a foto de Anahí surgiu na tela do celular, anunciando a chamada. 

— Oi meu amor — ele adiantou-se logo após deslizar o dedo na tela para atender. Era justamente daquela ligação que ele precisava sem ao menos saber. 

— Ei… como é bom ouvir você — a voz de Anahí do outro lado da linha intensificou o sorriso de Alfonso, que desprezou rapidamente os papéis que tinha em mãos para focar apenas nela — Amor… onde você está?

— Ainda na empresa, soterrado de trabalho — ele prontamente respondeu — Mas louco de saudades de você. — a confissão sincera dele fez Anahí vacilar do outro lado, embora Alfonso sequer pudesse notar. Tinha outros planos, começando com o de ir embora mais cedo para encontrá-la, mas não era necessariamente assim que iria fluir. — Onde você está agora? Foi visitar a Nina e o bebê? Escute, estou adiantando rápido aqui para ir encontrar com você. 

Esse fora o combinado deles, mas a vida é imprevisível demais… 

— Eu preciso de você. — Anahí finalmente disse, e o sorriso de Alfonso se desfez rapidamente quando o tom de voz dela mudou. Ele não precisou de muito para notar. Havia medo, e além disso, algo dentro dele, como um alerta, ascendeu naquele exato momento. — Algo não está certo, amor. Com os bebês… 

Dizer as palavras em voz alta, confirmar o que ela mais temia, Anahí não conseguiu fazer mas Alfonso sabia. 

Primeiro veio em sinal de alerta. Anahí estava entrando em trabalho de parto sozinha e precisava dele, mas tudo no que Alfonso conseguiu focalizar ao levantar e deixar tudo para trás para ir até ela era no fato de que não apenas seus filhos estavam prestes a nascer, mas também no fato de que faltavam semanas, de que em meio a tantos planos, aquele alarmante acontecimento precoce não estava incluído. 

Os detalhes eram cruciais: Logo antes de conseguir contatá-lo, a primeira coisa que Anahí fez foi tentar manter a calma, localizando um lugar para sentar e procurar por ajuda caso não conseguisse falar com ele — por sorte, conseguiu. E, embora temerosa com o que estava prestes a acontecer, sabia que precisava manter a própria calma para não piorar ainda mais a situação. Quase impossível, mas era preciso, de modo que com Alfonso o tempo todo do outro lado da linha, tragicamente preso e parado em um trânsito impossível, Anahí conseguiu encontrar a calma que precisava na voz dele e manter a concentração no que estava prestes a acontecer. 

Não parecia certo, mas lá estava, e eles precisariam encarar a situação de frente. 

Alfonso conseguiu alcançar Anahí logo após estacionar o carro e correu na direção dela em uma agonia afoita para tranquilizá-la, embora ele próprio não estivesse muito diferente. Sentia-se um tanto desconexo do próprio corpo, e a tensão apenas piorou quando ele encarou Anahí nos olhos e viu ali o medo refletido nas lágrimas acumulando mas que ela insistia em conter. 

𝙐𝙣𝙞𝙙𝙤𝙨 𝙋𝙤𝙧 𝙐𝙢 𝘾𝙤𝙣𝙩𝙧𝙖𝙩𝙤 Onde histórias criam vida. Descubra agora